Philippe Coutinho é mais uma prova de que, às vezes, vale a pena dar um passo atrás na carreira para avançar dois à frente. O meia chega ao Barcelona como segundo jogador mais caro da história do futebol cinco anos depois de aceitar ser emprestado pela Internazionale ao Espanyol, o primo-pobre do mais badalado clube da Catalunha. Apesar de ter 20 anos na época, agiu como Julio César e o centroavante Adriano. Fez da paciência e da humildade trampolins para o sucesso. O goleiro, por exemplo, aceitou ganhar milhagens no Chievo antes de virar intocável no time de Milão. O centroavante aceitou ser cedido ao Parma e a Fiorentina antes de virar Imperador. Na contramão dos três, Gabigol quis, como diria Romário, sentar-se na janelinha na Inter. Rejeitou, por exemplo, ser emprestado ao Las Palmas. Preferiu o Benfica e perdeu o rumo. Por escolher (e, às vezes, se achar) demais, o jogador com enorme potencial está sem clube.
Revelado pelo Vasco, Philippe Coutinho foi comprado pela Internazionale por 3,8 milhões em julho de 2008 e estreou no clube italiano em 27 de agosto de 2010. O técnico Rafa Benítez o lançou no time italiano aos 18 anos, na derrota por 2 x 0 para o Atlético de Madri na decisão da Supercopa da Uefa. Substituiu Sneijder aos 34 minutos do segundo tempo. O holandês havia ajudado o time a conquistar a tríplice coroa na temporada de 2009/2010 (Champions League, Campeonato Italiano e Copa Itália). Além disso, o carrasco do Brasil nas quartas de final da Copa de 2010 havia sido vice-campeão na África do Sul.
O meia-atacante era apenas uma promessa em um time de veteranos — Julio César; Maicon, Samuel, Lúcio, e Chivu; Stankovic, Zanetti, Cambiasso, Sneijder e Eto’o; Gabriel Milito. Ao contrário, por exemplo, de Gabigol, Philippe Coutinho entendeu o processo. Em vez de reivindicar vaga de titular e de reclamar das decisões do treinador espanhol, sentou-se no banquinho e aceitou aprender. De agosto de 2010 a janeiro de 2012, marcou cinco gols e deu quatro assistências com a camisa da Internazionale.
Sem espaço com o técnico Claudio Ranieri em 2011, não criou caso. Em janeiro de 2012, topou o desafio de arrumar as malas rumo a Barcelona para defender o modesto Espanyol. Foram três meses que mudaram a vida do jogador. Sob o comando do técnico Mauricio Pochettino, fez cinco gols e deu uma assistência. Jogava aberto na esquerda. Exatamente como gosta. Teve continuidade e até quis ficar no clube. Entendeu a importância do empréstimo para a sequência da carreira.
“Aqui tenho mais possibilidades de jogar e isso me facilita as coisas. Não sei se para mim é melhor o futebol espanhol ou italiano, isto se verá com o tempo. Chegava de uma temporada difícil e aqui (no Espanyol) me trataram muito bem desde o princípio”, argumentou.
A Inter não deixou Philippe Coutinho permanecer no Espanyol. Notou a evolução do jogador e o reincorporou ao elenco para a temporada de 2012/2013. Era tarde demais para aproveitá-lo em Milão. Os olheiros do Liverpool haviam prestado atenção na sequência de jogos do meia com a camisa do Espanyol. Pagou 13 milhões em 30 de janeiro de 2013 e arrematou a joia. O técnico Brendan Rodgers passou a contar com ele em 11 de fevereiro de 2013, quando estreou na partida contra o West Brom pelo Campeonato Inglês.
O restante da história você conhece. Philippe Coutinho virou uma peça importantíssima no Liverpool. Conquistou o status de titular da Seleção Brasileira sob o comando de Tite. Deixa o clube com 54 gols em 202 jogos. É o maior artilheiro brasileiro na história do Campeonato Inglês. Cinco anos depois, o Barcelona, que não percebeu em 2012 o talento que jogava ali pertinho, no arquirrival Espanyol, desembolsou 120 milhões de euros pelo craque. A forma como Philippe Coutinho deixou o Liverpool é questionável. Mas, ao que parece, valeu muito a penta dar aquele passo atrás em janeiro 2012.
Boa sorte, Coutinho!