Jorge Jesus, Renato Gaúcho e os significados dos triunfos de Benfica e Fla contra os Barcelonas

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Régua de Doménec Torrent, Rogério Ceni, Renato Gaúcho e de todos os técnicos contratados pelo Flamengo depois dele, Jorge Jesus conseguiu ser feliz nesta quarta longe do clube carioca e o time rubro-negro também, sem ele. Na Europa, o Mister fez milagre. O Benfica voltou a derrotar o Barcelona. Isso não acontecia desde a final da Copa dos Campeões, atual Champions League, de 1960/1961. Tem noção? Foi quebrado um tabu de 60 anos! Na América do Sul, Renato Gaúcho voltou a vencer o Barcelona de Guayaquil, repetiu os feitos de Paulo César Carpegiani e de Jesus, e levou Gabigol, Bruno Henrique, Everton Ribeiro, Arrascaeta e companhia à final da Libertadores pela terceira vez — a segunda em três temporadas.

A turma estraga prazer contestará dizendo que o autêntico Barcelona não tem mais Messi. Respondo comparando o orçamento dos dois clubes. O clube catalão tem € 677 milhões para investir, aproximadamente R$ 4,2 bilhões contra € 285,5 milhões (R$ 1,8 bilhão) do Benfica. Se o time catalão investe mal ou está quebrado é outra discussão bem mais ampla.

O fato é que o Benfica venceu o Barcelona por 3 x 0 no Estádio da Luz, em Lisboa, está em segundo lugar na fase de grupos, atrás do Bayern de Munique, e ainda não perdeu nesta temporada. Acumula 11 vitórias e dois empates. Ao contrário do que fez na passagem pelo Flamengo, Jesus mostra outra faceta tática nesta temporada. Os encarnados jogam no 3-4-3.

Se Jorge Jesus tinha um maestro uruguaio no Flamengo, Arrascaeta, lá no Benfica ele desfruta de um promissor compatriota do meia rubro-negro. Darwin Núñez contabiliza seis gols na temporada, dois deles no triunfo desta quarta-feira contra o Barcelona.

Deste lado do Oceano Atlântico, Renato Gaúcho toca o legado rubro-negro de Jesus com estilo de jogo bem diferente do Mister. No entanto, consegue tirar dos comandados a mesma fome de títulos. Sob o comando dele, o Flamengo está pela segunda vez em três anos na finalíssima da Libertadores depois da vitória por 2 x 0 justamente contra um Barcelona, o de Guayaquil. Disputará o tri contra o Palmeiras, em 27 de novembro, no Centenário, em Montevidéu, palco da primeira conquista rubro-negra na Libertadores de 1981.

Renato e essa geração dourada do Flamengo atingiram um patamar que nem a mítica geração de Zico conseguiu. Diego Alves, Rodrigo Caio, Filipe Luís, Willian Arão, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Gabigol e Bruno Henrique serão lembrados como os titulares presentes nas duas decisões. Mais impressionante do que isso é o comprometimento desses caras com diferentes ideias de jogo. O time foi competitivo com Jesus, Torrent, Ceni e continua sendo com Renato. Oscila, dá umas bugadas de vez em quando, mas segue na trilha das grandes conquistas.

Bruno Henrique merece um parágrafo à parte. Fez quatro gols nas semifinais. Assumiu o protagonismo e repetiu os feitos de Pelé (1963), Usuriaga (1989) e Miguel Borja (2016).

Se o Flamengo de Jorge Jesus entregava diversão e arte, o de Renato Gaúcho também. O segundo gol de Bruno Henrique contra o Barcelona é de uma beleza incrível. É construído de pé em pé, com todos os 11 titulares naquele instante tocando na bola, desde a cobrança do tiro de meta até a envolvente evolução de passes e trocas de lado do campo para fugir da pressão do adversário na saída de bola e concluir o lance com o esmero e a plasticidade dos velhos tempos da passagem de Jesus pela terra brasilis.

Obviamente, o Benfica de Jesus e o Flamengo de Renato têm muito a melhorar para baterem metas. A do português vai além da conquista do título nacional. O desafio é ir além da fase de grupos na Champions League em uma chave contra Bayern de Munique, Barcelona e Dínamo de Kiev. O concorrente de Renato é a própria língua. Quando treinava o Grêmio, ele dizia que não conseguia competir com Jorge Jesus porque não desfrutava de um elenco tão caro e talentoso como o do Mister. Hoje, sente a pressão de ser tão vitorioso quanto o antecessor.

Jesus ganhou o Brasileirão e a Libertadores em quatro meses na temporada de 2019. Renato tem a oportunidade de conquistar o Brasileirão, a Copa do Brasil e a Libertadores em cinco meses desde que assumiu o cargo em 10 de julho deste ano no lugar de Rogério Ceni. Há uma diferença. Ele conta, em 2021, com um elenco mais forte que o do português em 2019.

Por enquanto, Jorge Jesus e Renato Gaúcho devem aproveitar a quinta-feira para curtirem seus feitos. Coincidentemente, triunfos contra Barcelonas. Depois disso, é preciso trabalhar. Benfica e Flamengo precisam evoluir demais. A boa notícia da quinta-feira é que Jesus e Renato podem trilhar os próprios caminhos sem as viciadas perguntas de quem é melhor. Cada um deles tem o direito de ser feliz com o futebol que propõe desde que assumam a responsabilidade pelas decisões certas e erradas que tomarem e entendam que ambos podem, sim, ser criticados respeitosamente.

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Marcos Paulo Lima

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