Você conhece a história bíblica narrada nos evangelhos de que o discípulo Pedro negou Jesus três vezes antes da crucificação do mestre. O Maracanã testemunhou roteiro inverso, mas parecido na vitória do Flamengo contra o Fluminense por 1 x 0 na noite desse domingo pela 15ª rodada do Campeonato Brasileiro. Sacrificado no banco, foi preterido por Plata, Wallace Yan e Juninho até finalmente entrar em campo, decidir o clássico e exibir a camisa “Jesus é o suficiente” — uma referência à música do cantor gospel Izaac Santos.
Pedro toca piano. Um dos hobbies dele é cantar na sala de casa nas horas vagas e a canção “Jesus é o suficiente” faz parte da playlist do jogador evangélico da Igreja Batista Atitude. Um dos trechos diz: “(…) Mesmo que eu tenha tudo/Sem ti não tenho nada/Mesmo que eu ganhe o mundo/Sem ti não ganho nada (…)”.
Filipe Luís negou Pedro desde o início da partida ao escalar Gonzalo Plata. Direito dele. O técnico tem liberdade no planejamento tático do jogo para optar por um jogador com mais mobilidade no ataque. Em contrapartida, Pedro precisa entender a ideia e colaborar.
Filipe Luís negou Pedro pela segunda vez ao perder Gonzalo Plata minutos antes do apito inicial. O equatoriano sentiu um desconforto no músculo adutor da coxa direita durante o aquecimento e demandou mudança de última hora na escalação.
A escolha não recaiu sobre Pedro. O técnico rubro-negro apontou para o garoto Wallace Yan. A joia de 20 anos formada na base rubro-negra entrou justamente para ocupar o espaço de Plata. Filipe Luís reforçou a ideia de contar com um atacante móvel na referência do ataque.
Filipe Luís negou Pedro pela terceira vez ao insistir na tese da mobilidade colocando Juninho em campo no lugar de Everton Cebolinha. O camisa 9 virou definitivamente o último da fila. Esperou sentado até os 28 minutos do segundo tempo. Entrou no lugar de Arrascaeta.
A troca do camisa 10 pelo centroavante raiz foi mais uma demonstração de que ambos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço de 105m x 68m. É um ou outro. Quem passou pelo blog durante a Copa do Mundo de Clubes leu a minha análise sobre como a intensidade do torneio da Fifa deixou astros como Pedro, Arrascaeta, Cano e Ganso em dificuldade.
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Última bolacha do pacote de Filipe Luís, Pedro finalmente entrou e precisou de 12 minutos em campo para comprovar o pecado de deixá-lo no banco. O sistema de jogo do Flamengo sob a batuta de Filipe Luís foi concebido enquanto o centroavante se recuperava da cirurgia no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. Bruno Henrique virou o falso 9.
Desde então, Filipe Luís sente dificuldade para reprogramar o Flamengo com Pedro. Deixou o centroavante fora das principais partidas na Copa do Mundo de Clubes. Teve direito a um minuto em campo na virada contra o Chelsea e não entrou na eliminação diante do Bayern.
Crucificado desde o retorno do Flamengo dos EUA, Pedro respondeu da melhor maneira possível: em campo, com bola no fundo da rede em um clássico contra o Fluminense. A finalização de carrinho é o sétimo gol dele contra o Fluminense desde a chegada em 2020.
O gol diferencia Pedro de Plata, Wallace Yan e Juninho. Sim, as três opções de Filipe Luís entregam movimentação com a bola e intensidade sem ela na marcação na saída de bola do adversário, mas o centroavante raiz cumpriu a principal missão: fazer gol.
O técnico rubro-negro se rendeu ao Pedro no fim. Renato Gaúcho não escalou Cano. Queiram ou não, os camisas 9 continuam fazenda a diferença. Sorte de quem tem um, nem que seja condenado a ficar sentado no banco de reservas. Pedro fez a diferença.
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