O Cruzeiro vive uma crise sem precedentes no ano em que precisa colocar a casa em ordem para voltar à Série A do Campeonato Brasileiro e festejar com dignidade o centenário, em 2 de janeiro de 2021. O problema é que, quanto mais a torcida celeste reza, mais assombração aparece. Como se não bastasse o escândalo administrativo, o rebaixamento no ano passado, a eliminação precoce da Série B contra o CRB, e gasto com cartão corporativo em casa de “entretenimento adulto”, em Portugal, a novidade é a perda de seis pontos na Série – que nem começou.
A Fifa puniu o Cruzeiro por causa de dívidas relativas ao empréstimo do volante Denílson. Em 2016, o clube deveria ter pago 800 mil euros ao Al Wahda, dos Emirados Árabes Unidos. Deu calote e a dívida está em R$ 5,3 milhões. Além de largar com -9 pontos na Série B, o time mineiro terá cinco meses para quitar o débito sob pena de sofrer sanção mais grave: cair para a Série C.
Em meio ao caos administrativo, há uma inspiração esportiva lá na Itália. Rebaixada na temporada 2005/2006 devido ao escândalo Calciopoli (esquema de manipulação de resultados), a Juventus foi condenada a disputar a Série B. O diretor executivo do clube, Luciano Moggi, foi apontado à época como o principal articulador das escolhas dos árbitros e da consequente contaminação das partidas). Uma das penas era começar a segunda divisão com -30 pontos. Recorreu e caiu para -17. Recorreu novamente e caiu para -9.
Tapetão à parte, a Juventus comprou a briga dentro das quatro linhas quando a bola rolou para a temporada 2006/2007 da Série B do Italiano. Sob o comando do técnico francês Didier Deschamps, que levou a França ao bicampeonato mundial na Copa da Rússia em 2018, a Velha Senhora conquistou o título por antecipação e retorno à elite. Claro: a diferença financeira em relação aos outros 21 concorrentes era absurda. O elenco tinha o goleiro Gianluigi Buffon, o zagueiro Giorgio Chiellini, Alessandro Del Piero, David Trezeguet e Pavel Nedved.
A Juventus conquistou o título da segunda divisão com 85 pontos, seis a mais do que o vice Napoli. Foram 28 vitórias, 10 empates e 4 derrotas. Marcou 83 gols e sofreu 30. Nadou de braçada com uma campanha incontestável. De volta à elite na temporada 2007/2008, fechou o Campeonato Italiano em terceiro lugar numa prova definitiva de que o gigante havia se levantado da queda.
Não basta a Velha Senhora de 122 anos de idade servir de inspiração para Velha Raposa quase centenária. É preciso querer se reinventar com juízo, o que tem faltado – e muito – ao clube mineiro. No início do ano, mostrei numa entrevista com o técnico que resgatou o River Plate da Série B como o clube argentino poderia motivar o projeto celeste. Agora, cito a Juventus. Não adianta se a diretoria continuar colocando a guerra política acima de uma instituição gigante.
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