Gravatinha apareceu em Charlotte e mexeu na prancheta de Renato Gaúcho

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Estados Unidos — Um dos inúmeros personagens de Nelson Rodrigues foi batizado de Gravatinha. Ele teria morrido em 1918, vítima da gripe espanhola. Segundo as obras do jornalista, escritor e dramaturgo, “o bravo guerreiro ainda vai ao estádio usando terno e gravata borboleta. Quando ele é visto em algum jogo, é sinal de vitória épica do Tricolor”.  Renato Gaúcho e os tricolores de coração agradecem.

Gravatinha esteve nesta segunda-feira em Charlotte, no Bank of America Stadium. Mesmo com o calor insuportável de 32ºC, surgiu todo empacotado na casa do Carolina Panthers, franquia da NFL, a liga profissional de futebol americano dos Estados Unidos.

Chateado com a bola oval exibida pelo Fluminense na despedida da fase de grupos contra o Mamelodi Sundowns da África do Sul, o Gravatinha se materializou no quarto do técnico Renato Gaúcho nos últimos dias e tratou de arredondá-la. Não se encontravam há tempos. Especificamente há 30 anos, desde 1995, quando ele aumentou a pança do ídolo na final do Campeonato Carioca contra o Flamengo e o viu decidir o título estadual contra o principal adversário.

Ousado, Gravatinha fez sugestões táticas ao Renato. Conhecedor do futebol europeu, lembrou ao técnico que a Internazionale chegou à final da Champions League montada no quase inegociável 3-5-2 de Simone Inzaghi. Intrometido, desafiou Portaluppi a fazer o time italiano provar do próprio veneno nas oitavas de final.

Profético, apontou a receita para a vitória e despediu-se dizendo que o Calcio encerraria o dia exaltando Renato, anos depois de ele deixar a Roma e voltar ao Brasil pela porta dos fundos no fim dos anos 1980, quando ainda era ponta direita.

Renato não contrariou Gravatinha. Como em um passe de mágica, articulou o Fluminense para se defender no 5-4-1 e atacar em uma espécie de 3-6-1. Arias era quem mais se aproximava do centroavante Germán Cano para abastecê-lo no comando do ataque.

Desconfiado, Gravatinha apareceu em espírito no estádio. Era uma das almas a mais entre os 20.003 pagantes. Ao notar a obediência tática de Renato Gaúcho, ficou certo da vitória, evaporou e foi testemunhar o segundo maior feito do Portaluppi pelo time das Laranjeiras desde o gol de barriga em outro plano. Lá no céu, ao lado dos deuses da bola.

A surpresa tática apresentava Ignácio zagueiro pela direita, Thiago Silva centralizado como se fosse líbero e Freytes na esquerda.  Samuel Xavier e Renê eram alas com a bola. Sem ela, formavam a linha de cinco. Arias jogava soltou para encostar em Germán Cano.

Foi do colombiano o cruzamento para o centroavante argentino cabecear para o fundo do gol de Sommer, aos três minutos do primeiro tempo. Justiça seja feita, o lance começou com o ótimo Martinelli. Aí, foi a vez de Fábio, o jogador mais velho da Copa com 44 anos, incorporar um outro personagem tricolor: Leiteria, alcunha do histórico Carlos Castilho para expressar um “homem sorte”, “sortudo”, “abençoado”.

Fábio não foi refém do acaso. Exalou competência nas narinas dos etaristas de plantão. Quem o chama de velho teve de se render. Até o cartola, mascote tricolor, tirou o chapéu no duelo à parte dele com o excelente centroavante argentino Lautaro Martinez.

No fim da partida, Gravatinha materializou-se novamente no estádio para garantir a vitória. A pressão aumentava quando ele viu um jogador com nome de super-herói grego dar um tom épico ao placar final. Hércules, contratado no início do ano, fez o segundo na tarde em que o Fluminense, com amor e com vigor, fez a torcida querida gritar de emoção com a classificação para as quartas de final da Copa do Mundo de Clubes da Fifa. Como antecipara o personagem de Nelson Rodrigues, os atuais vice-campeões da Champions League estão eliminados e o Brasil terá dois times nas quartas: Fluminense e Palmeiras.

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Marcos Paulo Lima

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