Bruno Henrique Cruzamento de Gabriel Barbosa, gol de Bruno Henrique: dupla implacável. Foto: Gilvan de Souza/Flamengo Cruzamento de Gabriel Barbosa, gol de Bruno Henrique: dupla voltou. Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Gol de Bruno Henrique explica preferência de Sampaoli por ele, e não Pedro

Publicado em Esporte

Não é difícil entender a preferência do técnico Jorge Sampaoli pela dupla de ataque formada por Bruno Henrique e Gabriel Barbosa e a opção por deixar Pedro no banco de reservas. Ambos são arco e flecha. Funcionam fora da área e se camuflam muito bem no papel de centroavante. Basta analisar a troca de assistências entre eles nas partidas de ida das oitavas de final contra Grêmio (Copa do Brasil) e Olimpia (Libertadores). Quando um sai de dentro da área para construir, o outro entra. E vice-versa. A dinâmica é outra com Pedro. 

 

O gol da vitória contra o Olimpia saiu no início do segundo tempo porque Bruno Henrique é multiuso. Sampaoli mudou a configuração no intervalo. Gerson passou a transitar no setor de Bruno Henrique e o atacante foi para dentro da área assumir o papel de falso centroavante. O gol dele é um gol de Pedro, de camisa 9, com assistência de quem saiu da área para servi-lo. Gabigol age praticamente como meia no cruzamento. Isso também aconteceu bastante quando Gabigol e Pedro atuaram juntos no ano passado com Dorival. Júnior. O camisa 10 foi para o sacrifício pelo 9. Ele ficou no Brasil e Pedro foi para a Copa com status de artilheiro da Libertadores, consagrado Rei da América. Lembra disso, Pedro? 

 

Não estou defendendo os conceitos do argentino nem tirando a razão do descontentamento de quem é o artilheiro do Flamengo no ano, vice do país na temporada atrás de Germán Cano, amarga o banco a essa altura dos campeonatos e acabe de levar um condenável soco do demitido preparador físico. É só uma constatação do que é o Flamengo com e sem Pedro. 

 

Quem passa pelo blog sabe. Apontei desde a contratação de Sampaoli a preferência dele por atacantes de mobilidade. Lembrei do episódio clássico. Na Copa do Mundo da Rússia, em 2018, houve polêmica porque ele deixou dois centroavantes badalados e goleadores da Argentina sentados no banco em um duelo de oitavas de final contra a França. Higuaín e Agüero começaram na reserva. O pai de Higuaín ficou inconformado e soltou o verbo. 

 

“Você tem duas feras no ataque (Agüero e Higuaín) que somam 600 gols e não joga nenhum. Se você não gosta de um, coloca o outro”, cobrou Jorge Higuaín. Messi fez o papel de falso nove, auxiliado por Cristian Pavón, hoje vinculado ao Atlético-MG, aberto na direita, e Di María na esquerda no sistema 4-3-3. A França venceu.

 

Sampaoli não odeia centroavantes, mas não é apegado a eles. Contra a França, o técnico entendeu que Messi deveria assumir o papel de falso 9. No Chile, apostava em ataques com mais mobilidade. Era o caso de Alexis Sánchez e Eduardo Vargas na conquista da Copa América de 2015, por exemplo. Ele tem mania de alternar falsos e verdadeiros noves de acordo com a ocasião. Pedro precisa entender isso pelo bem dele e do Flamengo.

 

Se ainda há dúvida sobre as preferências de Sampaoli, lembremos quem foram os artilheiros dele no Brasileirão nas passagens por Santos e Atlético-MG. Eduardo Sasha não é um centroavante na essência e fez 14 gols pelo Peixe em 2019. No ano seguinte, Keno foi o homem-gol do Atlético-MG na Série A. Nenhum deles é um camisa 9 nato.  

 

Sampaoli não é incoerente. Deixou claro na primeira entrevista o posicionamento sobre Pedro e Gabigol. A opção pelos dois ou um deles dependeria do adversário. “No caso de Pedro e Gabigol, jogaram muito bem juntos com Dorival. Então é definir que cada jogo é diferente e que algumas vezes podem ser e outras vezes não”, avisou o treinador.

 

A preferência de Sampaoli por Bruno Henrique e Gabigol como titulares não exclui Pedro. O Flamengo tem um elenco fortíssimo. Do mesmo nível de alguns clubes de segunda linha da Europa. Vamos a um exemplo prático. O belga Eden Hazard virou reserva de Vinicius Junior no Real Madrid. Raphinha não foi titular absoluto na campanha do Barcelona no título do Campeonato Espanhol. Richarlison tem simplesmente Harry Kane como concorrente no Tottenham. Pedro não suportou a concorrência com Vlahovic na Fiorentina e decidiu voltar ao Brasil para jogar em um Flamengo no qual Gabigol e Bruno Henrique tinham acabado de levar o clube aos títulos do Brasileirão depois de 20 anos e da Libertadores após 42!

 

Até o soco do preparador físico Pablo Fernández na cara de Pedro, Sampaoli não havia desistido de Pedro. Basta lembrar as palavras dele depois da vitória contra o Fortaleza com bela exibição do centroavante. “Eu propus ao Pedro que comece a encontrar mais espaços, que não seja um jogador tão fixo. Tem muita capacidade técnica para jogar encontrando espaços. Ele está fazendo isso com muita inteligência, mas é algo novo para ele, não está acostumado. Falamos com ele, ele gostou, estou muito feliz”, afirmou Jorge Sampaoli. 

 

Debates sobre Bruno Henrique, Gabriel Barbosa e Pedro à parte, eu considero o placar contra o Olimpia muito magro. No limite do perigo. Revi o jogo na madruga e o time jogou mal. A limitação contra retrancas continua. O enredo chegou a lembrar o do empate recente com o América-MG. Mesmo limitado, o Olimpia acertou a trave do Flamengo duas vezes.

 

Em tese, a motivação no Defensores del Chaco será outra. O ambiente no principal estádio do Paraguai é hostil. Desafiará o equilíbrio emocional. A arbitragem não é brasileira. A interpretação do jogo muda. Um cartão amarelo ou vermelho pode mudar o roteiro do duelo. Um gol do Flamengo no início também. Parafraseando Marcos Braz, sera preciso ter gelo no sangue. 

 

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