Gianni Infantino ajudou a Uefa a desenvolver um “monstro” chamado Liga dos Campeões da Europa, que se tornou maior do que qualquer competição organizada pela Fifa. Tão ou mais badalada até do que a Copa do Mundo. O ex-diretor de competições da entidade máxima do futebol europeu mudou de lado. Ao assumir a Fifa, precisa domar o “monstro” e conseguiu o que desejava ao premiar o croata Luka Modric e a alagoana Marta os melhores do mundo nesta segunda-feira, em Londres, na cerimônia do Fifa The Best.
Antes de entregar a estatueta a Modric, Gianni Infantino alfinetou o maior concorrente e ex-parceiro. “Oficialmente, o melhor jogador do ano é… Luka Modric”. Em vez de dizer o melhor do mundo é, incluiu um “oficialmente” ao protocolo. Nas entrelinhas, interpretação minha, o cartola tentou claramente minimizar o resultado da mais antiga e tradicional premiação individual, a Bola de Ouro, entregue desde 1956. Infantino sabe que o resultado da revista France Football, cuja ideia a Fifa tentou se apropriar durante a parceira de 2010 a 2015, pode colocar em xeque o resultado proclamado por um colégio eleitoral heterogêneo, formado por capitães e técnicos de seleções, jornalistas e passionais internautas.
Nos últimos oito anos, a Copa perdeu peso diante do “monstro” Champions League. A Espanha faturou o Mundial em 2010, mas Lionel Messi conquistou o prêmio de melhor do mundo pela obra no principal torneio de clubes do mundo. A Alemanha levou o caneco em 2014. Porém, Cristiano Ronaldo ganhou o troféu de número 1 ao levar o Real Madrid ao título da Champions League naquele ano, ou seja, ambos graças ao empenho na competição que Gianni Infantino tenta, agora, “desvalorizar”.
Luka Modric não é o melhor do mundo. Cristiano Ronaldo seria o justo vencedor. No entanto, brilhou na competição que não interessa mais a Infantino neste momento. Vaidoso, o português arrumou um jeitinho português de furar o resultado do concurso. Esperto (e mal educado) ao mesmo tempo, não quis associar a valiosa imagem dele a uma derrota para Modric — excelente jogador que esteve a temporada inteira à sombra do lusitano na histórica conquista do tricampeonato da Champions League. Cristiano Ronaldo brilhouno envento de Infantino, mas não a ponto de levar Portugal à final — como fez o croata. Aliás, além de CR7, Lionel Messi deixou a Fifa numa saia justa ao não aparecer para receber o prêmio do Dream Team de 2018.
Gianni Infantino também conseguiu ofuscar a Liga dos Campeões feminina, um torneio que ele se empenhou para deselvolver nos tempos de Uefa. Marta é indiscutivelmente a rainha do futebol, mas, cá entre nós, o nível técnico da Copa América é muito inferior ao da Champions League. Portanto, justo seria premiar a norueguesa Ada Hegerberg, artilheira isolada da Champions League com 15 goals pelo Lyon, que bateu o Wolfsburg na final.
A Fifa sabe que, em 3 de dezembro, a Bola de Ouro pode corrigir equívocos como a ausência de um campeão mundial entre os três candidatos ao prêmio de melhor do mundo. No mínimo, Griezmann, maestro do bi mundial e peça-chave na conquista do Atlético de Madri na Liga Europa. Como o colégio eleitoral é predominantemente especializado, ou seja, formado por jornalistas, Infantino sabe que, pela primeira vez, desde 2004, a Bola de Ouro pode contrariar o resultado da Fifa. Há 14 anos, o ucraniano venceu na revista France Football e Ronaldinho Gaúcho no World Player of the Year, como o evento da Fifa era chamado.
Por essas e outras, o presidente da Fifa soltou aquele “oficialmente” antes de entregar o prêmio de melhor do mundo a Modric. Assim como qualquer jogador quando troca de clube, Infantino virou a casaca. Aconteça o que acontecer na Champions League em ano de Copa, o torneio que tem valor para o Fifa The Best é o dele.
E assim, ser dar bola para justiça, Infantino espera domar o “monstro” que ajudou a criar…
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