A eliminação do Gama pelo Luziânia nas quartas de final do Campeonato Candango é uma daquelas provas de que um raio cai, sim, três vezes no mesmo lugar…Pelo terceiro ano consecutivo, o alviverde está fora da competição por causa de um carrasco de fora do Distrito Federal, ou seja, um time do Entorno. Foi assim também nas quartas de final de 2016 e nas semifinais de 2017. Pois então, você sabe o nome do dirigente que abriu as fronteiras do quadradinho para clubes de Goiás e de Minas Gerais? Justamente Weber Magalhães, atual presidente do Gama.
Voltemos a 1996. O atual mandatário do Gama ocupava o cargo de presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal. Cansados de ficar à margem dos campeonatos goiano e mineiro, as cidades próximas do Distrito Federal procuraram Weber Magalhães e pediram para disputar o Campeonato Candango. Democrático, o cartola topou abrigá-los com a intenção de criar a segunda divisão local. Pivô da eliminação do Gama na última quarta-feira ao vencer por 1 x 0 dentro do Bezerrão, o Luziânia foi justamente o primeiro beneficiado pela ação de Weber. Vinte e dois anos depois, o dirigente é vítima de quem ajudou.
Entre os times do entorno, o Luziânia é quem chegou mais longe no Candangão. Bicampeão, conquistou o título em 2014 e em 2016. Além disso, foi vice em 2012. No ranking da CBF, o Luziânia tem a melhor posição entre os clubes filiados à FFDF. Embora seja chamado de forasteiro, o clube aproveitou a invasão ao Distrito Federal para se desenvolver. Na contramão, vários times da cidade ficaram para trás.
A queda precoce do recordista de títulos é péssima para a cidade. A bem da verdade, o Gama é o único time do Distrito Federal com torcida de raiz. Em algumas partidas deste Candangão, levou praticamente a mesma quantidade ou mais de torcedores ao Bezerrão do que clubes tradicionais do Rio de Janeiro. No entanto, a camisa do Gama não entorta mais os varais da cidade. O projeto de 2018 foi audacioso. A começar pela contratação de Lúcio. O pentacampeão merecia ao menos chegar à final, mas caiu precocemente nas quartas. Restam Luziânia, Brasiliense, Ceilândia e Sobradinho na briga pelo título.
A lição para os próximos anos é que a camisa alviverde já pesou. É preciso resgatar o respeito a um dos símbolos mais tradicionais do futebol candango. Lamentavelmente, 20 anos depois de o clube conquistar a Série B do Campeonato Brasileiro ao golear o Londrina por 3 x 0 no velho Mané Garrincha, em 20 de dezembro de 1998, com mais de 40 mil torcedores no velho Mané Garrincha, o Gama sente mais uma vez na pele uma dura realidade: está sem calendário até janeiro do ano que vem. Continua fora de série, ou seja, um time sem divisão. O time só voltará a disputar uma competição nacional em 2020, desde que seja campeão ou vice do Candangão de 2019.
Weber Magalhães colhe o que plantou, mas o que fez em 1996 não chega a ser uma aberração. Pelo menos nove times europeus disputam campeonatos nacionais fora dos seus países. Monaco é um país independente da França, governado pelo Príncipe Albert 2º, mas o clube disputa o Campeonato… Francês. O Swansea e Cardiff City são do País de Gales, mas volta e meia estão ali na Premier League. O Vaduz é um clube de Liechtenstein. Entretanto, tem as portas escancaradas no Campeonato Suíço. O San Marino, homônimo do país que representa, é figura recorrente nas divisões inferiores do Campeonato Italiano.
Há mais casos em outros continentes. No ano passado, o Toronto FC, do Canadá, tornou-se o primeiro time de fora dos Estados Unidos a faturar o título da Major League Soccer. Montreal Impact e Vancouver Whitecaps são outros “Luziânias”, “Paracatus” e “Formosas” da vida lá na terra do Tio Sam. Do outro lado do mundo, o Wellington Phoenix, da Nova Zelândia, prefere disputar a A-League, o Campeonato Australiano.
Intrusos ou não, Luziânia e Paracatu, algozes do Gama nos últimos três anos, perderam o respeito pelo maior papa-títulos do DF. Resgatá-lo é o maior desafio na próxima temporada.
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