Quarenta minutos antes do nada, é preciso ponderar a relevância do clássico deste domingo entre Flamengo e Fluminense vencido por 1 x 0 pelo tricolor, no Estádio Nilton Santos, gol do colombiano John Arias. Embora seja mais caro e tenha elenco sortido, o time rubro-negro comandado pelo recém-contratado Paulo Sousa passa por um processo de reconstrução. A torcida precisa entender isso e ter paciência. O português tenta aplicar um novo sistema tático. Isso leva tempo. Mais relevante do que o tetra no Estadual é terminar o torneio pronto para encarar Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil.
Do outro, há um Fluminense correndo contra o relógio para ter uma equipe no ponto na partida contra o Millonarios, em 22 de fevereiro e 1º de março pela Pré-Libertadores. Há algo mais importante neste momento. O acesso à fase de grupos do torneio continental. Enquanto o lusitano fazia seus testes, Abel Braga exigia espírito de mata-mata de torneio sul-americano e conseguiu tirar o rival do sério.
Vamos por partes…
Dos últimos quatro técnicos do Flamengo, apenas um ousou iniciar uma partida com linha de três zagueiros. Não foi Jorge Jesus, Domenec Torrent e muito menos Renato Gaúcho. Rogério Ceni arriscou inovar no empate por 2 x 2 com a LDU, em 20 de maio do ano passado. Iniciou a partida com Bruno Viana, Gustavo Henrique e Léo Pereira formando o trio defensivo. Matheuzinho fazia a ala direita e Vitinho a esquerda. Gerson, Everton Ribeiro e Willian Arão completavam o meio de campo atrás da dupla formada por Pedro e Gabriel Barbosa.
O problema naquela época foi que o experimento de Rogério Ceni durou 14 minutos. Arão recebeu cartão vermelho e Ceni teve de desfazer tudo o que havia pensado. O placar deu a impressão de que ele havia inventado moda e a configuração não voltou a ser avaliada.
Paulo Sousa retomou o que Ceni tentou fazer lá atrás. Começou o clássico com três zagueiros, mas, para mim, cometeu um erro. Faltava um ponto, um jogador insinuante, driblador, capaz de partir para cima no mano a mano. Esse cara era Michael. Agora, Marinho. No entanto, o gringo apostou em Diego no meio de campo e Rodinei espetado pela direita. Diego deveria ser opção para o decorrer do jogo, não no início. Assim, abriria vaga para Marinho jogar com Rodinei pela direita. Outra opção seria entrar com Pedro no papel de centroavante e Gabigol aberto pela direita, com liberdade de circulação pelo ataque. Paulo Sousa preferiu iniciar o clássico impondo a qualidade dos meias em vez de investir nos tais atacantes de velocidade.
As primeiras impressões foram boas. Gabigol quase marcou um golaço no início da partida com uma linda trama pelo lado esquerdo. Porém estava claro que a intensidade e a marcação na saída do Fluminense não duraria muito tempo. Falta fôlego neste início de temporada. Faltava variação pelo lado direito para dar descanso a Andreas Pereira, Everton Ribeiro e Arrascaeta na esquerda, mas Diego e Rodinei não acertavam. Para completar, o Fluminense explorava as costas de Rodinei com Luiz Henrique e Willian Bigode. Diego e Arrascaeta cansaram ainda na etapa inicial e o plano rubro-negro derreteu na etapa final. Desordenado, o Flamengo viu Lázaro, Isla e o goleiro Hugo Souza falharem no lance crucial de Jhon Arias.
O gol premiou o comportamento mais bélico do que ambicioso do Fluminense. A tendência é de que o tricolor tenha um time titular com muitos “caciques” e poucos “curumins” — aqueles pilhados e talentosos meninos de Xerém. As presenças de David Braz, Willian Bigode, Fred e, principalmente, de Felipe Melo no time, intimidaram o fraco árbitro Alexandre Vargas de Jesus. O Fluminense conseguiu criar um clima de Pré-Libertadores em jogo de Taça Guanabara. Um simulado perfeito contra um forte adversários para a partida contra o Millonarios. A estratégia deu certo. Os medalhões de Laranjeiras enervaram um Flamengo que não teve nervos de aço para driblar as provocações.
A vitória não indica que o Fluminense está no caminho certo. Longe disso. Abel foi Abel. Apostou no contra-ataque e conseguiu a bola que precisava, no momento certo, para nocautear o Flamengo. A derrota também não deve ser encarada como fim do mundo pelo time rubro-negro. Há muito a ser feito para o ajuste do sistema tático pretendido por Paulo Sousa. As presenças de David Luiz e de Bruno Henrique são fundamentais para isso. Isla é outra peça-chave. A melhor fase da carreira dele foi atuando como ala do Chile na linha de três de Jorge Sampaoli. Se houver paciência, pode crescer também no Flamengo.
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