Ceni Ceni ganhou 4 taças no Fla: Brasileiro, Supercopa, Guanabara e Carioca. Foto: Alexandre Vidal/Flamengo Rogério Ceni deixa o Flamengo com quatro taças: Brasileirão, Supercopa do Brasil, Guanabara e Carioca. Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Flamengo deu aviso prévio a Rogério Ceni ao votar contra limite para troca de técnico na Série A

Publicado em Esporte

Dos 20 clubes da Série A deste Campeonato Brasileiro, nove votaram contra o limite para troca de técnicos. Deixaram claro que pretendiam trocar de treinador quando bem entendessem. Os Todos foram voto vencido, mas três deles mantêm a coerência e demitiram profissionais.

O Flamengo dispensou Rogério Ceni, que não é ingênuo. Percebeu o posicionamento do clube na CBF. Antes do clube carioca, o Grêmio havia trocado Tiago Nunes por Luiz Felipe Scolari. O Cuiabá iniciou a temporada de cortes na primeira rodada mandando Alberto Valentim embora. Jorginho assumiu a prancheta do clube estreante na primeira divisão. Incoerente é quem votou a favor da ideia do presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, e agora faz o contrário. É o caso do Internacional, por exemplo. Tirou Miguel Ángel Ramírez e trouxe Diego Aguirre.

A diretoria do Flamengo agiu com coerência em relação ao voto manifestado por ela no Conselho Técnico da CBF realizado em 24 de março, mas a demissão de Rogério Ceni não parece justa. Primeiro devido ao horário. O técnico perdeu o emprego às 2h46. Covardia. Há outros argumentos favoráveis ao colaborador. Gostem dele ou não, levou o Flamengo ao bi do Brasileirão, ao bi na Supercopa do Brasil e ao tri do Carioca e fez a campanha rubro-negra mais tranquila em muito tempo na fase de grupos da Libertadores. Sim, ele patinou na largada na Série A, mas há motivos.

Em determinado momento, Rogério Ceni perdeu Isla, Rodrigo Caio, Gerson, Everton Ribeiro, Gabriel Barbosa, Arrascaeta e Pedro para as diversas seleções profissionais e de base. Ele simplesmente não tinha esses caras no Ninho do Urubu para treiná-los. Paralelamente, foi infectado pela covid-19. Maurício Souza comandou o grupo enquanto ele se recuperava. Esses últimos acontecimentos são álibis do treinador dispensado na madrugada.

Há pontos contrários à permanência dele também, óbvio. Não sou setorista do clube, mas observando a distância os relatos dos colegas que respiram a vida do clube não há dúvida de que o ambiente não era bom faz tempo. Rogério Ceni nunca foi uma simpatia como jogador. Colecionou desafetos, mas, curiosamente, jamais foi eleito o mais odiado do Brasil naquelas enquetes históricas realizadas pela revista Placar. A falta de empatia não mudaria agora.

O áudio vazado com a voz de Roberto Drummond, analista do Centro de Inteligência e Mercado (CIM) do clube ajudou a tornar a sequência do técnico no cargo insustentável. Foi a fome com a vontade de comer. O Flamengo acumulava três derrotas nos últimos cinco jogos. A última delas de forma desordenada no início do segundo tempo contra o Atlético-MG.

A demissão poderia ter sido anunciada em Belo Horizonte, mas a diretoria escolheu a maneira mais vil de minar um profissional. Acendeu o fogo e escolheu fritá-lo. O disse me disse crescia e culminou com o golpe baixe na madrugada deste sábado. Não há mocinho nem bandido nessa história. O Flamengo da atual gestão empilha títulos. São 12 desde 2019. Mas também acumula trocas de técnico. Renato Gaúcho, o mais cotado, seria o quinto. Abel Braga e Jorge Jesus pediram o boné. Domenec Torrent e Rogério Ceni foram encaminhados ao RH.

As demissões de Torrent e Ceni parecem muito mais uma satisfação da diretoria aos anseios das redes sociais do que convicção. A saída do catalão culminou no início da eliminação da Copa do Brasil, dias depois, contra o São Paulo. O filme pode se repetir a partir da semana que vem diante do Defensa Y Justicia nas oitavas de final da Libertadores.

Não sei se existe uma ala religiosa dentro do Flamengo, a famosa turma da igrejinha como costumam batizar nos vestiários, mas há um versículo bíblico que resume muito bem a guerra de vaidades no clube mais popular e vitorioso da América nos últimos três anos. Está lá em Mateus 12:25: “O país que se divide em grupos que lutam entre si certamente será destruído”. A divisão do Flamengo insiste em minar uma reviravolta tão linda em 125 anos de história.

Em tempos de pressão nas redes sociais, perguntar não ofende: como a fatia da torcida do Flamengo que exigia a saída de Rogério Ceni se comportará quando Renato Gaúcho, nome dos sonhos de uma população da ‘nação’, disser que a prioridade do time acostumado a ganhar quase tudo recentemente são as copas e não o Brasileirão, por exemplo? A ver…

 

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