Philadelphia — Filipe Luís apresentou o cartão de visitas ao futebol europeu da melhor maneira possível. Se o mercado estava aberto para o treinador com passagem por Deportivo La Coruña, Atlético de Madrid e Chelsea nos tempos de lateral-esquerdo, escancarou-se de vez para ele depois do triunfo autoral de virada por 3 x 1 no Lincoln Financial Field pela segunda rodada do Grupo D da Copa do Mundo de Clubes da Fifa. Que o Flamengo desfrute. Vai ser muito difícil segurá-lo nas próximas temporadas.
Uma das demandas do mercado europeu é por profissionais capazes de planejar jogos pontualmente. Filipe Luís surpreendeu ao fazer três mudanças na escalação. Wesley assumiu a lateral direita no lugar de Varela em busca da sintonia dele com Gerson.
Preferiu a experiência de Danilo em vez da juventude de Leo Ortiz. Na minha interpretação, a intenção era ter um jogador híbrido, ou seja, com capacidade para ser um zagueiro com noção de cobertura da lateral nos avanços de Wesley em bolas esticadas pelo Chelsea para Cucurella e Pedro Neto na esquerda. Filipe Luís renunciou ao centroavante Pedro até nas substituições em nome do vigor físico e da mobilidade de Gonzalo Plata na frente. Era necessário tirar as referências da defesa armada pelo técnico Enzo Maresca e ter quem corresse por Arrascaeta.
O italiano pode ter menosprezado o Flamengo e cometeu erro grave. Ele acumula 59 jogos no Chelsea e só havia usado o 4-3-3 uma vez, na goleada por 5 x 0 contra o Morecambe FC pela FA Cup, a tradicional Copa da Inglaterra. A amostragem era pequena diante de um adversário praticamente irrelevante. Visualmente no estádio, o sistema de jogo inglês se alternava para o 3-5-2. Maresca confessou depois do jogo jamais ter usado esses formatos.
“Nos últimos dois dias, tentamos algo diferente. Jogamos pela primeira vez com um sistema diferente, para nos prepararmos para a próxima temporada e termos mais opções. Acho que o plano funcionou na primeira hora até sofrermos o primeiro gol e logo depois o segundo. E depois ficamos com 10 homens. Acho que eles mereceram vencer”, rendeu-se.
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Filipe Luís só não contava com a falha de Wesley. O garoto de 21 anos poderia ter comprometido o planejamento de quem apostou nele ao vacilar na frente do português Pedro Neto, autor do primeiro gol da partida. O goleiro Rossi havia protagonizado milagre no primeiro ataque dos Blues. Não tinha como ele fazer nada na segunda investida inglesa.
Embora seja técnico profissional há menos de um ano, Filipe Luís tem a postura de um veterano da prancheta. Os relatos na zona mista são de que ele e Danilo acalmaram Wesley no intervalo e o lateral-direito voltou para o segundo tempo outro jogador. O time também.
A substituição de Arrascaeta chamou a atenção, mas não deveria. Ele cumpria função de falso nove em um trio de ataque com Plata e Luiz Araújo. Os dois pontas corriam por ele. O Uruguaio não tinha capacidade de acompanhar a rotação da partida, sobretudo em um calor desumano para a prática do futebol na Philadelphia. Daí a entrada de um outro falso 9. Bruno Henrique entregaria finalização e força para o time competir com o Chelsea.
A estrela de Filipe Luís brilhou. Bruno Henrique empatou o jogo e deu assistência para Danilo, outra escolha pessoal do treinador na formação inicial, virar o placar. Como se tivesse o toque de midas, o comandante rubro-negro também mandou Wallace Yan a campo e o menino do Ninho do Urubu balançou a rede aos 20 anos.
Perguntei ao jovem jogador da base rubro-negra qual era o impacto do gol dele para outras tantas joias da base que sonham viver um momento como o dele. “Dos meus companheiros de sub-20 ainda, vi que alguns me mandaram mensagem. Sei que eles estão muito felizes por mim, a maioria gostaria de estar aqui, mas Deus me proporcionou e me capacitou e estou muito feliz”, respondeu o atacante na zona mista do Lincoln Field.
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