A seleção de Cuba só foi à Copa do Mundo uma vez, em 1938. Fidel Castro, que morreu neste sábado, aos 90 anos, tinha 12 à época. Adorava beisebol — uma religião em seu país — mas teve um período de encantamento pelo esporte mais popular do planeta. Nos anos 1940, quando era aluno do colégio jesuíta de Belén, em Havana, o adolescente foi aprovado em uma peneira. Antes de comandar a revolução, se enquadrou em um sistema tático das antigas, o 1-2-3-5, ensinado pelo sacerdote catalão Pedro Pablo Ferré, administrador da escola, árbitro e treinador de futebol. Chegou a vestir a camisa da seleção cubana em 1960, mas somente dar o pontapé inicial do Campeonato da Concacaf, atual Copa Ouro, disputada em Havana. Cuba ficou em último lugar na fase classificatória, atrás da campeã Costa Rica, da vice Antilhas Holandesas, de Honduras e do Suriname. Além disso, tinha como um dos melhores amigos o craque argentino Diego Armando Maradona.
Em junho de 2014, às vésperas do início da Copa do Mundo no Brasil, o site de notícias cubano Cubadebate publicou informações inusitadas sobre Fidel Castro. Segundo relatos de Armando Montes de Oca Arce, um dos amigos de colégio, Fidel Castro atuava como ponta-direita em um time montado no sistema tático 1-2-3-5. “Fidel era um jogador de futebol de qualidade regular. Mas era corpulento, musculoso, um jogador muito forte e, sobretudo, muito bravo. Ocasionalmente jogava. Não era um jogador titular na equipe, mas gostava de futebol”, recorda Oca Arce ao Cubadebate.
O próprio Fidel Castro recordou os tempos de boleiro em uma conversa com a imprensa cubana. “Era atacante, corria bastante. Foi na quinta série que eu comecei, no colégio Dolores, em Santiago de Cuba, em um pátio de cimento, e a bola não era como as de agora. O futebol me ajudou a ter vontade, a exercer minha capacidade de resistência física, me deu prazer, satisfação, espírito de luta e competição”.
Quando atingiu a idade de cursar o ensino secundário, em 1942, a mãe de Fidel Castro, Lina Ruz, e o pai, Angel Castro, matricularam o filho no Belén, uma das principais escolas da Companhia de Jesus na América. A instituição de ensino privada considerada de ricos localizada em um subúrbio perto do bairro de Puentes Grandes, reduto do futebol em Havana e endereço do Estádio La Polar.
“O futebol me ajudou a ter vontade, a exercer minha capacidade de resistência física, me deu prazer, satisfação, espírito de luta e competição”
Técnico de Fidel, o sacerdote Pedro Pablo Ferré recrutou jogadores em escolas pobres próximas do colégio. Observou campeonatos, fez a peneira e integrou os jovens promissores ao time do Belén para a disputa da Liga Intercolegial de Havana. Da escola do revolucionário, selecionou três jogadores: Óscar Pasín, Pedrero e um tal de Fidel Castro.
Há relatos de que Fidel Castro entrou em campo numa partida contra a Casa de Beneficência e Maternidade, um orfanato da orla marítima de capital cubana. “Fidel jogou essa partida. Era um terreno de curtas dimensões. Não tinha grama, era um campo muito ruim. Nesse dia foi tirada aquela que é possivelmente a única ou uma das poucas fotografias do Fidel jogador de futebol”, atesta Montes de Oca.
Na partida do Belén contra o Casa de Beneficência, o time de Fidel Castro goleou por 4 x 0. Não há registro de que Fidel tenha balançado a rede, mas o revolucionário cubano formou um quinteto de ataque eficiente com Piélago, Diego, Ignacio e Pasín.
Fora das quatro linhas, Fidel Castro teve vários compromissos ligados ao futebol. Vestiu a camisa da seleção cubana, por exemplo, para dar o pontapé inicial de um Campeonato da América Central. Era muito próximo de Diego Armando Maradona, um dos seus melhores amigos. D10S chegou a considerar o cubano o maior da história da humanidade. Inclusive tem uma tatuagem na perna com a imagem de Fidel. Em 2004, Maradona chegou a se internar em uma clínica cubana para dar sequência a um tratamento contra as drogas.