Dizem que mata-mata não se joga, se ganha. O Vasco jogou, ganhou e avançou às semifinais da Copa do Brasil por causa da humildade do técnico Fernando Diniz. Para mim, não houve “dinizismo” na série contra o Botafogo. O treinador cruzmaltino colocou o pé no freio, deu passo atrás na hora certa para entender a demanda pela vaga, premiação e a possibilidade de título. Soube competir com um elenco superior ao dele.
Dentro das quatro linhas, houve equilíbrio nas duas partidas. No banco, o Glorioso tinha mais alternativas. No entanto, as opções foram incapazes de impedir a segunda eliminação de Davide Ancelotti em dois meses e quatro dias no emprego. Antes, havia sido despejado da Libertadores nas oitavas de final em meio ao “contrato de experiência”.
Fernando Diniz se convenceu de que o Vasco não precisa de um time autoral a essa altura da temporada. A demanda emergencial do clube é por dinheiro e um título. A Sul-Americana já era. Portanto, resta a Copa do Brasil diante da campanha preocupante no Brasileirão.
Características do “dinizismo” como superioridade numérica, pressão alta e controle do jogo apareceram pouco nos duelos com o Botafogo. O segredo foi a aplicação tática. O Vasco abre o placar com uma das marcas do técnico: a recuperação de jogadores. Philippe Coutinho evoluiu sob o comando dele. Infelizmente, tem dificuldade para disputar um jogo inteiro. No tempo disponível, ele faz a diferença. É o cobrador da falta no travessão. Atento, Nuno Moreira aproveita o rebote e abre o placar no estádio Nilton Santos.
Na teoria, o Vasco parecia configurado no 4-2-3-1. Na prática, protegia-se do domínio do Botafogo — 54% de posse de bola — no 5-3-2. Enquanto esteve em campo, Tchê Tchê dava um passo atrás e se posicionava entre os zagueiros Hugo Moura e Lucas Freitas. Os laterais Paulo Henrique e Lucas Piton também baixaram as linhas.
Diniz só não contava com as perdas e danos. Tchê Tchê e Lucas Piton saíram lesionados. Philippe Coutinho e Nuno Moreira perderam o gás. O Botafogo cresceu e o Vasco resistiu na base do posicionamento decisivo. Ansioso, o dono da casa deixou a torcida aflita ao empilhar oportunidades e não marcar o gol necessário para avançar.
Vilão no pênalti desnecessário cometido no gol de empate do Botafogo goleiro Léo Jardim teve direito a revanche com Alex Telles. Um dos mantras do futebol diz: quem converte pênalti no tempo regulamentar erra na decisão por pênaltis. Alex Telles empatou a partida e depois trocou de papel com o dono das traves. Léo Jardim saiu de campo como herói do Vasco. Ao dar um passo atrás, Fernando Diniz uniu o útil ao agradável: classificou o Vasco para enfrentar o Fluminense e ganhou bônus de três meses para ensaiar e consolidar ideias.
Além da vaga, o Vasco sai do mata-mata com o Botafogo exalando força mental. Saiu atrás em São Januário e buscou o empate. Saiu na frente no Nilton Santos, sofreu o empate e resistiu. Foi frio e calculista quando sofreu perdas no segundo jogo e arrastou o duelo aos pênaltis. Focado, converteu todas as cobranças e esperou pelo menos uma defesa de Leó Jardim. Ela quase sempre acontece. Aconteceu contra o Água Santa, o Fortaleza e o Athletico-PR na edição passada da Copa do Brasil, e nesta contra o Operário-PR e o Botafogo.
A prova final da influência do psicólogo Fernando Diniz no elenco é a aposta no zagueiro Robert Renan como último cobrador. O brasiliense minou a passagem pelo Internacional ao desperdiçar uma cobrança com cavadinha contra o Juventude no Campeonato Gaúcho. Contra o Botafogo, partiu convicto e decretou a segunda passagem consecutiva do Vasco às semifinais. O título inédito do Botafogo depois do vice em 1999 está novamente adiado.
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