A demissão do técnico do São Paulo, Diego Aguirre, é mais uma demonstração de que os clubes do futebol brasileiro se espelham nas tentativas e erro e acerto dos concorrentes e não no próprio planejamento. Ao dispensar o uruguaio, a diretoria do tricolor paulista imita as ações de Atlético-MG e Flamengo esperando resultados diferentes, ou seja, desempenho de Santos e Palmeiras nas últimas cinco rodadas do Campeonato Brasileiro.
Depois das eliminações na Copa do Brasil e na Libertadores, o Flamengo trocou Maurício Barbieri por Dorival Júnior numa tentativa desesperada de conquistar o último título que restava no calendário. O substituto até começou bem, mas dificilmente entregará o que os cartolas rubro-negras encomendaram. Sem vencer há três jogos, Dorival arrisca inclusive perder a vaga direta para a competição continental. Grêmio e São Paulo estão na cola.
O Atlético-MG mandou Thiago Larghi embora com a certeza de que o experiente Levir Culpi tiraria as pedras do caminho do Galo e classificaria o Galo com um pé nas costas para a Libertadores. Resultado: o novo técnico ainda não venceu no retorno ao clube. Nesta segunda, pode ser ultrapassado pelo Santos e perder o sexto lugar — limite para a disputa da fase prévia do torneio sul-americano. Portanto, a essa altura do campeonato, Levir Culpi é mais uma grande decepção. É incapaz de entregar a encomenda e está na rota do fracasso.
Com esses dois exemplos, pergunto: Por que a demissão de Diego Aguirre daria certo no São Paulo? Talvez, algum gênio da lâmpada da diretoria tricolor, que não deve enxergar um palmo à frente — menos o que acontece ali em Belo Horizonte e no Rio —, deve ter argumentado que a medida drástica funcionou nos arquirrivais Palmeiras e Santos, ou seja, fazendo o mesmo que Atlético-MG e Flamengo, o São Paulo obteria resultados diferentes.
Há, sim, casos de mudanças repentinas neste Campeonato Brasileiro que surtiram efeito, mas são exceções. Luiz Felipe Scolari conta os dias para brindar o Palmeiras com o título brasileiro. Alexi Stival, o Cuca, assumiu o Santos, é o vice-líder do returno, ao lado do Atlético-PR, e está na briga por vaga para a Pré-Libertadores.
Elogiado precipitadamente na arrancada do São Paulo, principalmente quando o time assumiu a liderança depois da Copa da Rússia, o triunvirato formado pelos ex-jogadores Raí, Ricardo Rocha e Lugano fizeram mais do mesmo. Seguiram a cartilha dos cartolas e dos tais gerentes executivos de ponta, como Alexandre Mattos e Rodrigo Caetano. Na crise, demite-se o técnico.
Diego Aguirre teve tempo para entregar um trabalho melhor, é verdade. Principalmente, depois da eliminação da Copa Sul-Americana. Mas é preciso admitir que o São Paulo está muito além de onde deveria no Campeonato Brasileiro. Investiu pesado, mas errado. Vendeu peças como Éder Militão no momento de ascensão do time. Ficou sem Éverton quando mais precisava. Apostou nos veteranos Nenê e Diego Souza. Todos sabiam que, em algum momento, eles oscilariam, não suportariam a maratona. O clube não achou um goleiro minimamente seguro desde a aposentadoria de Rogério Ceni. Carece de um centroavante raiz desde o desapego ao ídolo Luis Fabiano.
Sobretudo, Raí, Ricardo Rocha e Lugano pensaram com a cabeça de boleiros e não como gestores que são. Confundiram as estações. Havia uma evidente colisão entre Nenê e Diego Aguirre. Em vez de colocar o São Paulo acima das vaidades do meia e do técnico, o triunvirato tomou partido de Nenê e jogou Diego Aguirre na vala em uma tentativa de arejar o ambiente. Deram legalidade ao papelão de Nenê na comemoração do gol de Brenner no clássico contra o Corinthians, ao deixar Diego Aguirre no vácuo. Talvez, só uma pessoa no mundo tenha achado a cena engraçadinha: Fábio Carille. Lembram? O ex-técnico do Corinthians tentou cumprimentar o uruguaio no início do ano, ficou no vácuo e reclamou horrores.
E pensar que há quem insista em acreditar que jogador não derruba técnico. E pensar que, em determinado momento da temporada, o São Paulo temeu perder Diego Aguirre para a seleção do Uruguai, cruzou os dedinhos pela permanência de Óscar Washington Tabárez no cargo. André Jardine assume interinamente, com forte tendência de virar o novo Milton Cruz do Morumbi. Os tricolores conhecem esse filme…
Ah, o futebol!
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