No mínimo curiosa a classificação da Série B do Campeonato Brasileiro. Após três rodadas, do quatro times integrantes do G-4, dois são comandados por ex-técnicos do São Paulo. O Fortaleza, de Rogério Ceni, é o primeiro colocado nos critérios de desempate. Em segundo vem o Figueirense, de Milton Cruz. Ambos sonharam com passos maiores do que as pernas no tricolor. Hoje, aparentemente, trabalham em clubes bem mais adequados a iniciantes.
Rogério Ceni iniciou a carreira de técnico no elenco profissional do São Paulo. Pendurou as luvas e logo assumiu a prancheta. No início, deu pinta de que daria certo, mas os sete meses de trabalho mostraram que não. A paciência da diretoria chegou ao limite em julho do ano passado. O ex-goleiro voltou a fazer peregrinações pela Europa a fim de aprender um pouco mais sobre a nova profissão e retornou ao país com os pés no chão.
O ídolo do São Paulo acertou em cheio ao topar o desafio de comandar o Fortaleza. Aprendeu com o vice no Campeonato Cearense, montou um time com a cara dele e o tricolor de aço tem o melhor início na segunda divisão desde 2001. Ainda é cedo, mas Rogério Ceni tem tudo para igualar o feito de um outro ex-goleiro do São Paulo. Zetti levou o Fortaleza para a primeira divisão do Brasileirão em 2004. Na época, subiu como vice do Brasiliense. Curiosamente, Rogério Ceni tem um ex-reserva do São Paulo ao seu lado: o preparador de goleiros Bosco.
De acordo com dados do São Paulo, Milton Cruz comandou o tricolor paulista como técnico interino ou substituto em 43 jogos durante os 22 anos em que foi funcionário do clube. Foram 23 vitórias, 7 empates e 13 derrotas. Demitido em 2016, trava uma batalha jurídica contra o São Paulo. Enquanto isso, tem aproveitamento de 100% na Série B. O Figueirense também tem nove pontos, ao lado do Fortaleza, mas fica atrás no saldo de gols.
Enquanto Rogério Ceni conta com a mão de obra do preparador de goleiro Bosco no Fortaleza, Milton Cruz tem ao lado um outro parceiro dos tempos de São Paulo. Encostado no São Paulo, o goleiro Denis é titular incontestável da equipe catarinense. Foi um dos responsáveis pelo título estadual em cima da Chapecoense e pela arrancada do clube na segunda divisão.
Rogério Ceni e Milton Cruz provam que, às vezes, vale muito a pena dar um passo atrás para avançar dois à frente. Poderiam ter feito isso antes. Ou não. Afinal, a escolha é deles. Mas esse início de Série B pode ser o trampolim para a realização do sonho que ambos imaginaram que fosse começar por cima, em um clube gigante como o São Paulo. Talvez, hoje, eles entendem a importância de uma experiência em clubes pequenos, como Fortaleza e Figueirense.
Fiquem atentos a Rogério Ceni e a Milton Cruz. Não ficarei surpreso se algum deles — quem sabe os dois — forem requisitados por clubes da elite do Campeonato Brasileiro.