Sim, a América do Sul tem um técnico capaz de incomodar europeus. Não, infelizmente ainda não é um brasileiro. O ótimo argentino Mauricio Pochettino, 49 anos, parou o atual campeão da Champions League. Não é fácil deter o Bayern de Munique liderado pelo alemão Hansi Flick. Mesmo sem contar com o melhor do mundo, Lewandovski, ele tem um timaço doutrinado.
Mas Pochettino é experiente. Vivido nas peles de jogador e técnico. Fez parte daquele belo time do Newell’s Old Boys batido pelo São Paulo na final da Libertadores de 1992, no Morumbi. Aquela trupe argentina era bem acima da média. Mais do que jogadores, tinha pensadores. Amantes do futebol bem jogado. A começar pelo mestre Marcelo Bielsa. O Newell’s vice-campeão contra o tricolor de Telê Santana gerou treinadores do naipe de Gerardo “Tata” Martino, Eduardo Berizzo, Fernando Gamboa, Juan Manuel Llop, Alfredo Berti e… Mauricio Pochettino — vice-campeão europeu em 2019 à frente do inglês Tottenham.
Ouso afirmar que o posicionamento escolhido para Neymar na vitória por 3 x 1 sobre o Bayern tem a ver com o passado de Pochettino como jogador do Paris Saint-Germain. Pochettino jogou com Ronaldinho Gaúcho na França no início deste século. O então zagueiro via, lá de trás, a movimentação do brasileiro que seria eleito duas vezes melhor do mundo em 2004 e em 2005. Versátil, R10 cumpria várias funções. Pochettino testemunhou in loco o que é atuar ao lado de um fora de série. Viu do que ele era capaz dentro e fora de campo.
Posso estar equivocado, mas Pochettino parece disposto a fazer de Neymar o seu Ronaldinho Gaúcho. Um falso meia, um número 10 com extrema capacidade de controlar o jogo e assumir o protagonismo com assistências geniais. Nesta quarta, o brasileiro foi arco e Mbappé a flecha. Neymar deu dois passes para gol, um deles para o compatriota Marquinhos, e outro para o parça Mbappé, o cara do PSG até agora nesta Liga dos Campeões. Neymar e Mbappé tiveram atuações brilhantes na Allianz Arena. Não é fácil derrotar o Bayern no refúgio de Munique.
Os fãs de Neymar precisam começar a se acostumar com o atacante atuando mais por dentro do que na ponta-esquerda, o habitat natural do astro. A tendência é Neymar assumir cada vez mais o papel de meia no PSG e na Seleção. Ganham os times. Contra o Bayern, Di María atuou aberto na direita, Neymar centralizado e Draxler na canhota. Mbappé assumiu o papel de falso 9. No fim das contas, um time com extremo talento velocidade para lacrar os adversários.
A menos de dois anos da Copa do Mundo do Qatar-2022, nomes como Richarlison e Vinicius Junior pedem passagem para ocupar aquele pedacinho de campo do lado esquerdo. Além de serem mais jovens, têm mais fôlego e comprometimento para colaborar na marcação pelos lados. Mano Menezes, Dunga e o próprio Tite testaram essa alternativa muito viável.
Mas voltemos ao PSG. De enganche, Pochettino entende muito bem. Treinou e jogou com três bons na Copa de 2002 — aquela em que Ronaldinho Gaúcho atuou como meia atrás de Rivaldo e Ronaldo. Naquele Mundial, a Argentina tinha Ariel Ortega, Pablo Aimar e Marcelo Gallardo. Neymar é muito melhor do que todos eles, óbvio. No papel de falso meia, soube explorar os espaços deixados pelo Bayern. Pensou e agiu rapidamente, como no passe que deixou Mbappé na cara do gol.
Algumas análises táticas de sites europeus, como a do alemão Kicker, posicionaram Neymar em função centralizada. Talvez, Pochettino tenha se inspirado naquele PSG em que assistia, lá da zaga, Ronaldinho Gaúcho desequilibrar partidas atuando livre, leve e solto. Inclusive foram campeões juntos da extinta Copa Intertoto da Uefa na temporada 2001/2002.
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