Marta Marta e companhia merecem uma treinadora de ponta no próximo ciclo. Foto: Francisco Seco/AFP Marta e companhia merecem uma treinadora de ponta no próximo ciclo.

Evolução da Seleção feminina passa pela contratação de treinadora estrangeira de ponta. Coragem, CBF!

Publicado em Esporte

Antes do embarque das nossas repórteres do Correio Braziliense e blogueiras do Elas no Ataque Maíra Nunes e Maria Eduarda Cardim para a belíssima cobertura da Copa do Mundo feminina, na França, em tabelinha com Mariana Fraga na redação em Brasília, defendi a tese de que a contratação de uma treinadora estrangeira é uma saída para a evolução da Seleção. Não duvido, por exemplo, da capacidade de Emily Lima, que teve o trabalho interrompido bruscamente e injustamente pelos cartolas da CBF, mas acho que a entidade máxima do futebol brasileiro precisa abrir o cofre, ser ousada, peitar concorrentes gigantes em busca de excelência.

Excelência, para mim, é apresentar proposta irrecusável a alemã Silvia Neide, eleita duas vezes a melhor treinadora do mundo. Quem sabe, enviar uma oferta para a sueca Pia Sundhage. Sondar a inglesa Jill Ellis, comandante dos Estados Unidos, ou Sarina Wiegman, uma das responsáveis pela revolução da Holanda — atual campeã da Eurocopa. Contei aqui no blog há três anos a história da excelente Corinne Diacre da França, quando a mulher que desbancou o Brasil neste domingo ainda liderava o time masculino do Clermont Foot, na segunda divisão do Campeonato Francês. Por que não tentar depois da Copa do Mundo, CBF? Ouvirá no máximo “não”.

A comissão técnica da Seleção feminina (quase) sempre foi economia para a CBF. Tratada como se fosse um puxadinho, uma seleção amadora. À exceção do competente René Simões, nunca houve uma escolha de impacto, excelência para o cargo. Oswaldo Alvarez, o Vadão, vive do excelente “carrossel capira” do Mogi Mirim nos anos 1990, mas lamentavelmente não conseguiu formar um time. O Brasil alcançou oitavas de final na base da individualidade de Marta e Cristiane. As duas foram ao limite da capacidade física e técnica.

A comoção nacional com a eliminação do Brasil da Copa do Mundo contra a França não é novidade. Estava no script. Repete o que aconteceu nas semifinais dos Jogos Olímpicos do Rio-2016 na derrota nos pênaltis para a Suécia, por 4 x 3, no Maracanã, quando a Seleção desperdiçou a chance de disputar a medalha de ouro dentro de casa. Houve desabafos justos, lágrimas, solidariedade com a situação do futebol feminino no país, discursos bonitinhos de apoio e protestos nas redes sociais seguidos por três anos de esquecimento.

  • Técnicos da Seleção feminina
    1994-2004: Zé Duarte
    2004: René Simões
    2004-2006: Luiz Antônio
    2006-2008: Jorge Barcellos
    2008-2011: Kleiton Lima
    2011-2012: Jorge Barcellos
    2012-2014: Márcio Oliveira
    2014-2016: Vadão
    2016-2017: Emily Lima
    Desde 2017: Vadão

Tomara que não, mas a Seleção — e o futebol feminino — voltarão para a gaveta até o torneio dos Jogos Olímpico de Tóquio-2020. Marta e companhia estão classificadas antecipadamente após o título da Copa América no Chile, em 2018, mas chega de chama-las de guerreira. É preciso entregar os talentos nas mãos de quem possa alçá-las a um outro patamar no ciclo até a Copa-2023, quem sabe no Brasil.

Lá na França, o coordenador Marco Aurélio Cunha fez o papel dele. Defendeu a continuidade do trabalho. Discordo. Vadão e boa praça, esforçado, não tenho dúvida de que se esforçou, dedicou-se ao extrema. Porém, vale lembrar, comandou a Seleção nos últimos dois Mundiais. Em ambos, foi eliminado nas oitavas de final contra Austrália (2015) e França (2019), respectivamente. Fracassou também nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Resumindo: são praticamente dois ciclos sob o mesmo comando — com a passagem repentina de Emily Lima pelo cargo antes da volta de  Vadão.

A evolução, e talvez a revolução, passa pela entrega da prancheta a uma treinadora estrangeira. Coragem, CBF. Abra o cofre, presidente Rogério Caboclo. Marta merece uma comissão técnica de alto nível no próximo projeto — a caça ao inédito ouro em Tóquio.

 

Siga o blogueiro no Twitter: @mplimaDF

Siga o blogueiro no Instagram: @marcospaul0lima

Siga o blog no Facebook: https://www.facebook.com/dribledecorpo/