A classificação da Espanha para a terceira final de Eurocopa em 16 anos depois da imponente virada por 2 x 1 contra a França, em Munique, é uma prova de que as aparências enganam. A juventude dos velozes e furiosos pontas Lamime Yamal, 16 anos, e Nico Williams, 21, convidam ao erro de dizer que uma das fórmulas do êxito é o processo de renovação, a juventude.
A formação usada por Luís de la Fuente contra a França tem média de idade de 28,2 anos. Sabe qual era em 2008, quando a Espanha conquistou o segundo título na final contra a Alemanha? 26,5. Quatro anos depois, subiu para para 27,5 no concerto de 4 x 0 contra a Itália. A Espanha da vitória por 1 x 0 na decisão da Copa de 2010 tinha 27,3 anos na África do Sul. A média de idade dos titulares mais próxima da atual é a da Espanha finalista da Copa das Confederações em 2013 contra o Brasil no Maracanã: 28,1.
A montagem da Espanha é inteligente. Há dose de juventude onde é necessário, ou seja, nas pontas. A defesa conta com três trintões: Jesús Navas, Nacho e Laporte. O único Sub-30 é o lateral-esquerdo Cucurella. O meio de campo tem articuladores de 26 (Dani Olmo) a 28 anos (Rodri e Fabián Ruiz). Abastecido por Yamal e Williams, o centroavante Morata tem 31.
Os onze da Espanha no início da semifinal não são sequer mais jovens do que os da França. Didier Deschamps mandou a campo formação com 26,9, ou seja, quase dois anos mais nova do que escalação de Luis de la Fuente. As médias de idade do onze inicial da Inglaterra (26,5) e da Holanda (27,4) também são menores do que a da Espanha.
A virada foi comandada por um atacante maduro de 16 anos. Yamal foi intimidado na véspera da semifinal pelo volante Rabiot. O jogador de 29 anos disparou: “Não sei se vai estar sob pressão por ser tão jovem, mas tem muita qualidade, é um jogador que tem muitas qualidades. Sabemos que ele mantém a cabeça fria, mas é óbvio que pode ser um pouco difícil para ele… Vamos tentar pressioná-lo. Vamos tirá-lo da sua zona de conforto. Se quiser disputar uma final, terá que fazer mais do que tem feito até agora”.
Yamal fez. Ele tinha três assistências nesta Euro. Faltava o gol. Saiu com a plasticidade de um Pablo Picasso. A parábola descrita pela bola é digna de uma placa, ou melhor, um quadro no Mudeu do Louvre, em Paris. Que pintura! Coube ao camisa 10 Dani Olmo decretar a virada com assistência do mais velho do time. Aos 38 anos, Jesús Navas substituiu o suspenso Carvajal e colaborou com o vigor de uma criança.
Didier Deschamps tem contrato com a França até o fim da Copa de 2026, mas o trabalho dele na Euro-2024 está sob crítica. A seleção deixa o torneio com quatro gols marcados em seis jogos. Dois foram contra, um de pênalti e outro de cabeça. Faltou repertório para empatar a partida e forçar os pênaltis. Há um ano e meio, a França saía de um 0 x 2 para um 3 x 3 na final da Copa contra a Argentina. Em tese, a França piorou.
A menos que renove até 2028, Deschamps encerrará o ciclo de técnico da França sem o cobiçado título da Euro. Amargou o vice dentro de casa em 2016, foi eliminado nas quartas na edição de 2020 disputada em 2021 por causa da pandemia e volta a fracassar nas quartas. Lá se vão 12 anos de trabalho desde 2012 e há questões de relacionamento. Desentendimentos por exemplo com Camavinga. A Espanha desafia a França no mínimo a discutir a relação.
Espanha
Média de idade do time titular: últimas 5 finais da seleção
Euro-2008: 26,5
Copa-2010: 27,3
Euro-2012: 27,5
Copa das Confederações-2013: 28,1
Euro-2024: 28,2
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