Fernando Diniz passou pelo Gama no fim da carreira como jogador. Contei a história no post publicado aqui no blog em 2 de fevereiro de 2019. Uma decisão tomada por ele ajuda a encerrar um dos temas mais explorados na primeira entrevista do técnico do Fluminense como treinador também da Seleção Brasileira até a posse de Carlo Ancelotti, a partir de junho de 2024.
Quando desembarcou no Distrito Federal, o versátil Fernando Diniz desfrutava dos últimos momentos nos papéis de volante e meia. Diniz disputou apenas uma partida com a camisa alviverde. Estreou na derrota por 2 x 0 para o Grêmio Barueri pela Série B do Brasileiro e levou cartão vermelho depois da partida. Ofendeu o árbitro Renato Cardoso da Conceição. Pegou seis jogos de suspensão no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), desfalcou o time comandado por Flávio Barros e pediu demissão.
O jogador apresentou dois argumentos para a saída do Gama: “Eu ia ficar muito tempo sem jogar e isso onera o clube. E estou longe da minha família, preciso resolver problemas particulares”.
Presidente do Gama à época, Carlos Macedo confirma o episódio em entrevista ao blog. “Ele tinha um contrato conosco, fez um jogo lá em Barueri (Barueri 2 x 0 Gama) e depois foi punido. No jogo contra o Corinthians (em Taguatinga) ele ficou sabendo da punição. Inclusive assistimos ao jogo eu, ele e o Andrés Sánchez lá no Serejão (Gama 1 x 3 Corinthians). Nós conversamos, ele comentou sobre a punição e falou que se aproveitaria para encerrar a carreira. Eu falei: ‘Pô, tudo bem, fica bom para a você assim?’ Ele falou que não iria jogar e fizemos um acerto. Pagamos um mês de salário para ele e o liberamos na apresentação do elenco na segunda-feira”.
Diniz arrumou as malas, seguiu rumo ao aeroporto e praticamente encerrou a carreira. Ele continua sendo expulso. É o campeão de vermelhos entre os treinadores segundo levantamento recente do portal GE. Até que se prove o contrário, a ética continua a mesma. O debate sobre o conflito de interesses é totalmente necessário, sim, mas não diz respeito somente ao técnico.
É preciso ter cuidado para não cometer o pecado da hipocrisia. A própria imprensa lida com esse dilema. A crise na atividade faz com que vários profissionais vistam mais de uma camisa. Cada uma com linha editorial diferente. Há quem exija dedicação exclusiva. Outras, não. É um senhor desafio, sim, lidar com isso. Temos profissionais em mais de um emprego em diversos segmentos do mercado. Cabe a cada um avaliar questões éticas e os conflitos de interesse na escolha e assumir os desdobramentos.
O técnico interino da Seleção sabe disso. Como convocar a Seleção nas Datas Fifa sem prejudicar concorrentes do Fluminense na Série A? A resposta é uma só: convocando apenas jogadores em atividade no exterior enquanto estiver nos dois empregos. Simples e reto. Deveria ser assim pelo menos até o fim do ano. Depois disso, caso Carlo Ancelotti não deixe o Real Madrid para cumprir a palavra com a CBF, recomenda-se a saída dele do Fluminense para evitar o desgaste.
“A ética me fez suportar o sofrimento como jogador e ser o treinador que me tornei. Não fiz estágio, passei de jogador para treinador. É algo tranquilo para mim, uma chance de mostrar que o futebol não está acima da ética e vida, é um espaço de convivência para colocar a nossa vida. É complexo? Sim. Terei que fazer convocação e tomar decisões, o senso de justiça irá me pautar como sempre. E vão avaliar, não estou aqui para pedir para que pensem de um jeito ou não. Estou tranquilo e, nesse ponto de ética, a CBF apontou para a pessoa certa”, bancou.
A ética do treinador foi desafiada o tempo inteiro na entrevista coletiva — e ele se saiu muito bem. O técnico interino em nenhum momento tentou se mostrar minimamente próximo, amigo ou seguidor das ideias de Carlo Ancelotti. Tite, sim, tratava o recordista de títulos da Champions League como guru. Há relação entre eles. Inclusive com citação no livro de Tite. Diniz não fez média. Foi curto e grosso. Deixou claro que não conhece o italiano do Real Madrid e está na CBF para cumprir os 12 meses de mandato com autonomia até antes ou depois da Copa América.
Se o acordo foi assinado na noite do último dia 4, ele ficará até 4 de junho de 2024. A última data relevante na temporada da Europa é a final da Uefa Champions League. Na temporada que vem, está prevista para 1º de junho, no Estádio Wembley, em Londres. Se chegar até lá, Carlo Ancelotti terá 29 mais dias de acordo a cumprir com o time merengue. Expira em 30 de junho de 2024.
“Em princípio, o contrato é de um ano e vou procurar fazer o melhor possível. Não decidimos se inclui a Copa América. Sei o planejamento da CBF, mas não vou falar o que vai ocorrer depois de mim com o Ancelotti ou não, vocês terão que apurar de outra forma. Meu rendimento é preparar bem o time para termos o melhor rendimento daqui para frente”, disse Diniz.
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