Houve um tempo em que o mapa da mina, a válvula de escape da Seleção Brasileira, estava concentrado na ponta esquerda. Zinho, Rivaldo, Denílson, Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Neymar e Vinicius Junior formaram uma espécie de dinastia naquele pedaço do campo. Enquanto isso, a escassez de extremos para a direita deixava os sistemas táticos capengas. Desafiava os treinadores ao improviso. Willian, Philippe Coutinho e Gabriel Jesus na era Tite; e Hulk na segunda gestão de Luiz Felipe Scolari toparam o sacrifício. Douglas Costa teve a chance de se criar por ali, mas as lesões impediram.
A 22 meses da Copa de 2026, o Brasil vê um equilíbrio na balança do ataque. A ponta direita disponibiliza muitas alternativas. Embora tenha decepcionado em 2022, e esteja fora da convocação para os jogos contra Equador e Chile por causa de um jogo de suspensão, Raphinha puxa a fila de opções. Aos 17 anos, Estêvão se apresenta como o “Lamine Yamal” brasileiro.
Luiz Henrique é um dos melhores jogadores do Campeonato Brasileiro. Dorival Júnior prefere Rodrygo centralizado, porém o craque do Real Madrid tem facilidade para jogar nas três funções da frente. Lucas Moura foi chamado para atuar como meia, no entanto, iniciou a carreira na direita. Endrick comandou a arrancada do Palmeiras no último Brasileirão justamente nesse setor ou no papel de centroavante.
A carência de especialistas no passado praticamente transformou os laterais direitos em pontas. Jorginho, Cafu, Maicon e Daniel Alves tinham liberdade para atacar e suprir a necessidade. Vivemos também a era das duplas de ataque: Muller e Careca (1986 e 1990). Bebeto e Romário (1994). Romário e Ronaldo e depois Bebeto e Ronaldo (1998). Rivaldo e Ronaldo (2002). Adriano e Ronaldo (2006). Robinho e Luis Fabiano (2010).
A presença em massa de opções para a direita no elenco para os duelos contra o Equador nesta sexta-feira e o Paraguai inverte a ordem. Vinicius Junior é praticamente o único ponta esquerda depois do corte de Savinho O ex-jogador do Girona, recém-contratado pelo Manchester City, atua nas duas.
Estêvão é o ponta direita mais agudo da Seleção em muitos anos. Do tri para cá, a posição teve Jairzinho (1970 e 1974), Gil (1978), o reserva Paulo Izidoro (1982), Renato Gaúcho, cortado antes da Copa de 1986 por divergências com Telê Santana e reserva em 1990 por escolha de Sebastião Lazaroni, Edmundo no banco em 1998 após brilhar como ponta no Palmeiras/Parmalat, e depois testemunhamos um hiato até a “descoberta” de Raphinha.
Houve improvisos nas conquistas do tetra e do penta. Mazinho ocupou o espaço em dobradinha com Jorginho em 1994. Kléberson ganhou a posição de Juninho Paulista em 2002 e virou um dos atalhos para a conquista da quinta estrela. O Brasil não foi campeão em 2010, mas Elano ocupava a direita. Quando se lesionou, Daniel Alves passou a ocupar a faixa de campo.
A joia oferece o que o Brasil não tinha faz muito tempo. “A minha individualidade é muito forte, e acabo contribuindo com gols e assistências. Meu 1 contra 1 é muito forte e posso contribuir na criação de jogadas. Isso eu estou desenvolvendo muito e espero desenvolver cada dia mais”, disse Estêvão na entrevista coletiva na concentração da Seleção, em Curitiba.
O camisa 22 conversou com Dorival Júnior e sabe o que o técnico espera. “Ele me cumprimentou e falou para que eu seja leve. Claro que a gente sempre cria expectativa e vou mostrar isso nos treinos. Estou à disposição dele, e se ele optar por mim, vou dar o máximo”, promete a joia.
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