Ele foi observador técnico da Seleção Brasileira nas conquistas do tetracampeonato em 1994, nos Estados Unidos, e no penta, em 2002. Viveu as maiores vitórias, mas também grandes tristezas, como a Tragédia do Sarriá, em 5 de julho de 1982. A derrota por 3 x 2 para a Itália faz 40 anos. Aquele placar eliminou da Copa nas quartas de final um dos esquadrões mais espetaculares da história dos mundiais. Jairo dos Santos era um dos espiões de Telê Santana na Espanha. Uma das missões dele, ao lado do então ex-técnico Zezé Moreira, era abastecer Telê com informações sobre os adversários. No bate-papo a seguir com o blog, Jairo dos Santos, que também trabalhou na Seleção Brasileira com Claudio Coutinho, Sebastião Lazaroni, Carlos Alberto Parreira, Mario Jorge Lobo Zagallo, Vanderlei Luxemburgo, Emerson Leão, Luiz Felipe Scolari e Dunga recorda, com algumas relíquias de 40 anos atrás, o fim de uma era romântica na história do futebol brasileiro.
Você havia sido observador técnico do Cláudio Coutinho na Copa do Mundo de 1978. O Telê Santana o escolheu também para 1982?
Quando o Cláudio Coutinho saiu (em 1979), disse para mim: “Nós temos que continuar torcendo pela Seleção Brasileira”. Ele pediu para eu passar ao Telê Santana um relatório detalhado de tudo o que havia sido feito. O Telê gostou tanto que me chamou para ficar.
Além de você, quem foram os outros espiões do Telê Santana na Copa de 1982?
Eu e o Zezé Moreira (considerado por Telê Santana seu grande mestre). Aprendi muito com o Zezé. O Telê Santana tinha um carinho enorme por ele.
De quem foi a missão de passar ao Telê o dossiê sobre a Itália?
Zezé Moreira preparou o relatório. Ele (Zezé) chegou para mim e disse que estava muito preocupado. Afirmou: “A Itália não é fraca”. Alguns dirigentes acharam exagero, que não era bem assim, que a Seleção Brasileira era muito forte. Eu disse ao Zezé para ele pegar o Telê e enfatizar o que havia visto. Não sei como ele passou.
Alguma lembrança curiosa da espionagem aos adversários?
Eu usava um gravador para facilitar o meu trabalho. Acharam que o Zezé Moreira deveria usar também e mandaram eu comprar um pra ele. Zezé virou pra mim e disse: “Eu não uso, não, mas vou tentar”. Ele começou a usar, mas logo desistiu. Disse que se complicou todo e que não havia se adaptado à tecnologia.
O Telê Santana ouvia vocês?
Sim, ele se trancava com a gente.
Zezé Moreira preparou o relatório. Ele (Zezé) chegou para mim e disse que estava muito preocupado. Afirmou: “A Itália não é fraca”. Alguns dirigentes acharam exagero, que não era bem assim, que a Seleção Brasileira era muito forte. Eu disse ao Zezé para ele pegar o Telê e enfatizar o que havia visto. Não sei como ele passou.
Por que o Brasil perdeu para a Itália?
Era um time extremamente ofensivo. Na época, um computador definiu o sistema tático da Seleção Brasileira de acordo com a posição média dos jogadores calculada a partir do centro do raio de ação. Deu algo parecido com um 2-3-5. Foi uma derrota terrível, mas tenho muito orgulho do futebol que nós jogamos naquela Copa do Mundo.
A Itália também era muito forte…
Era o único time que tinha o que se chamava de ala tornante, um ponta que rodava o campo inteiro e tinha uma função importantíssima. Esse jogador era o Conti, que se deslocava para qualquer setor do campo e causava muito problema.
Como vocês definiram o sistema tático da Itália?
A Itália já havia abolido as especializações, adotando uma formação básica com dois atacantes, assistidos por um lançador no meio de campo e um falso ponta que chamavam de ala tornante. Em 1978, o ala tornante tinha sido Franco Causio. Em 1982, Bruno Conti. Ninguém se preocupava se jogavam com dois pontas, um ponta ou nenhum.
Eu lia muito os jornais antes de preparar o jogo. Lembro de uma capa do L’Équipe, da França, que estampou: “Brasil joga o futebol do amanhã”. Depois da derrota, recordo de uma outra manchete que chamou o Brasil de o melhor perdedor.
Era uma Itália ofensiva?
Parecia um catenaccio às avessas, ofensivo. O Enzo Bearzot manteve as características fundamentais do futebol italiano, mas introduziu um estilo mais ofensivo e variado: defensores capazes de atacar, meio de campo com jogadores polifuncionais como Tardelli e Orialli; atacantes capazes de defender, como Bruno Conti. Definimos como um 4-3-1-2. Bearzot dizia que a Itália foi a única seleção que jogou a Copa com três atacantes puros. Argentina jogou com apenas um e o Brasil só deixava o Serginho (Chulapa) lá na frente.
Quais eram as obrigações táticas dos italianos?
Gentile era um lateral-direito com a missão específica de marcar o principal jogador adversário: Zico (Brasil) e Maradona (Argentina). Scirea atuava como líbero. Collovati de stopper. No meio de campo, Orialli mais defensivo, Tardelli atacando, defendendo e organizando o jogo. Antognoni organizador e ofensivo. Era um timaço. No ataque, Conti se deslocava para qualquer setor, chamado ala tornante, e Graziani e Paolo Rossi eram especialistas mais à frente, sendo que o Graziani era mais habilidoso.
Quais são as lembranças de antes e depois do jogo da eliminação?
Eu lia muito os jornais antes de preparar o jogo. Lembro de uma capa do L’Équipe, da França, que estampou: “Brasil joga o futebol do amanhã”. Depois da derrota, recordo de uma outra manchete que chamou o Brasil de o melhor perdedor.
O Brasil amargou a Tragédia do Sarriá, mas houve outras tragédias na Copa de 1982. Seleções como Argentina, França, Alemanha e até a Polônia também eram muito fortes…
A base da França era a mesma da Copa de 1978. A principal característica da equipe da França em 1982 era a soma dos números 10 que Michel Hidaldo (técnico) colocou em campo, imitando a solução Zagallo na Copa de 1970. Platini jogava nessa posição no Saint-Etienne, Genghini no Sochaux, Girresse e Lacombe no Bordeaux, este último deslocado como atacante. Era um timaço! Não sei como perderam aquela Copa. A Argentina tinha nove campeões (na Copa do Mundo de Hidal1978) e o Maradona.
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