Entrevista com Luiz Adriano, maior goleador da história do Shakhtar e candidato a 9 da Seleção

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Entrevista publicada na edição deste domingo do Correio

Ele fez cinco gols em um só jogo na fase de grupos da atual temporada da Liga dos Campeões da Europa e igualou o recorde do número 2 do mundo, Lionel Messi. Começa 2015 na artilharia isolada da Champions League com nove gols. Na história do torneio de clubes mais badalado do planeta, só o melhor de todos, Cristiano Ronaldo, havia balançado a rede tantas vezes na fase de grupos. As marcas seriam suficientes para dar ao gaúcho Luiz Adriano de Souza da Silva o status de dono da camisa 9 de qualquer seleção. Menos na pentacampeã. No laboratório de Dunga, o goleador máximo do Shakhtar Donetsk (122), em 99 anos de existência do clube ucraniano, briga com Diego Tardelli pelo posto. Em entrevista ao Correio, o centroavante de 27 anos justifica a desvantagem na disputa com o falso 9, mas avisa ao capitão do tetra que tem capacidade para se enquadrar às novas exigências do sistema tático. Campeão sul-americano Sub-20, em 2011, no time que tinha Alexandre Pato como astro, LA9 justifica o sumiço das convocações na transição das divisções de base da CBF  para a Seleção principal.

Você saiu do Brasil aos 19 anos e volta badalado na turnê do Shakhtar. Qual é o significado de amistosos como este de hoje contra o Flamengo, em seu país ?

Atuar no Brasil, com a torcida brasileira, que há tempo não vê a gente jogar, é muito importante para nós, para mostrarmos o nosso futebol. Além disso, vou encontrar velhos amigos em Porto Alegre (contra o Inter) e rever o estádio (Beira-Rio).

O Shakhtar Donetsk abre as portas para que outros clubes europeus venham ao Brasil realizar a pré-temporada?

O Brasil tem todas as condições de receber qualquer clube. É um país que gosta de futebol. Seria ótimo para  a maioria das equipes da Europa iniciarem a pré-temporada aqui.

Você começa o ano jogando no seu país e como artilheiro isolado da Liga dos Campeões da Europa com nove gols. Qual é a sensação de estar  à frente do número 1 do mundo, Cristiano Ronaldo, e do 2, Lionel Messi?

Para mim, é motivo de orgulho. Fico muito feliz em estar na artilharia da Champions superando excelentes jogadores. Isso é resultado do trabalho e do empenho que tenho dedicado aos treinos. Espero continuar marcando meus gols e ajudar o Shakhtar  Donetsk a chegar ainda mais longe na competição.

Você tem contrato até junho de 2015. É a hora de sair?

Eu sou muito grato ao Shakhtar. É o clube que me deu oportunidade de aparecer para o futebol mundial e, principalmente, europeu. Ainda tenho um ano de contrato e vou cumprir. Estamos conversando para uma possível renovação.

Há possibilidade de você ir para uma das cinco grandes ligas da Europa?

Recebi sondagens de alguns times, mas nenhuma proposta chegou às minhas mãos. Se eu sair, vai ser porque foi algo bom para mim e para o clube. Se eu ficar, continuarei muito feliz.

Luiz Adriano enfrenta o Flamengo no Mané Garrincha neste domingo

Crédito da imagem: REUTERS/Gleb Garanich

É possível alcançar o recorde do Cristiano Ronaldo: 17 gols em uma edição da Champions League?

É um número alto de gols e uma marca muito difícil de ser alcançada. Mas esse não é o meu principal objetivo. Quero chegar longe na competição e continuar fazendo meus gols. Se eu conseguir bater essa marca, ficarei feliz.

O recorde do Messi você alcançou: cinco gols em um só jogo da Champions…

Tudo aconteceu muito rápido. Meus cinco gols ( nos 7 x 0 diante do Bate Borisov, em 7 de outubro de 2014) aconteceram em um curto espaço de tempo. Foi um jogo atípico.  A bola chegou, meus companheiros me ajudaram. Foi um dia especial.

O adversário nas oitavas de final é o Bayern de Munique. O Shakhtar tem chance de surpreender?

Vai ser um grande jogo. O Bayern é a base da seleção alemã, tem grandes jogadores e é a melhor equipe da Europa. Mas nós também temos um time muito bom. Futebol se decide dentro de campo. Vai ser muito complicado, mas temos chances e vamos em busca da classificação.

Você terá pela frente o melhor goleiro do mundo: Neuer. Dá para derrubar a muralha de Munique?

Tem que dar (risos). Vou estudar bastante os pontos fracos dele, que são muito poucos, e no jogo tentar usar isso como trunfo. Vamos ver no que dá.

A campanha do Shakhtar Donetsk na fase de grupos da Liga dos Campeões foi em Lviv. Atrapalha jogar longe da Donbass Arena?

É ruim. Estávamos acostumados a jogar com o nosso torcedor lotando o estádio. Lviv fica longe de Donetsk. Mas, até que agora, o pessoal tem marcado presença nos jogos. Não é o ideal, mas é o mais seguro no momento. Então, temos que nos acostumar com essa situação.

Você está no Shakhtar Donetsk desde 2007, mas vive a melhor fase agora. Por que demorou?

Faz um bom tempo que venho tendo grandes atuações aqui, conquistando títulos e sendo artilheiro das competições. Não é à toa que sou o maior artilheiro da história do clube (122 gols). Minha boa fase vem de bastante tempo, mas, agora, por ter quebrado grandes marcas, fiquei exposto. Creio que o entrosamento com meus companheiros seja um dos motivos para a grande fase.

Você e o Diego Tardelli são os  favoritos a vestir a nove na Copa América. Como avalia o desempenho nos amistosos?

Eu gostei das minhas atuações nos amistosos. Não consegui fazer gols, mas pude ajudar com boa movimentação e tabelas. O Brasil tem excelentes jogadores. Como o Dunga disse, todos estão sendo vistos e têm chances de convocação. O Tardelli é um excelente jogador e vive ótima fase.

Dono da camisa 9 nos últimos dois amitosos da Seleção Brasileira

Crédito da imagem: Bruno Domingos/Mowa Press

O que diferencia o estilo de vocês dois?

Acho até que temos o estilo parecido, mas o Diego Tardelli volta mais para buscar o jogo e eu tenho jogado mais como finalizador.

Incomoda a pressão por um falso 9?

Jogar ou não com um centroavante depende da cabeça do treinador. Acredito que a Seleção pode ter sucesso de uma forma ou de outra. Eu tenho como característica jogar tanto como homem de área quanto pelos lados do campo. O estilo de jogo é questão de preferência do treinador.

Você apareceu bem no Sul-Americano Sub-20 de 2011. Por que não teve sequência na Seleção?

É difícil um jogador sair das seleções de base direto para a profissional. Normalmente, usa-se um jogador mais experiente, cascudo e acostumado a grandes jogos na Seleção. E quando saímos da Seleção de base, ainda estamos em processo de amadurecimento.

O que o elenco do Shakhtar tem feito para driblar a guerra na Ucrânia?

Estamos morando em Kiev e jogando em Lviv. A guerra está acontecendo mesmo em Donetsk, mas não estamos lá desde que começou essa situação.O clube nos dá segurança.

O que explica a paixão do Shakhtar por jogadores brasileiros?

O treinador gosta muito. Hoje, são 13 no elenco. Para nós, fica tudo mais fácil. Ele até aprendeu a falar português. Ficamos muito à vontade e relação é ótima.

O técnico romeno Mircea Lucescu é fluente na língua portuguesa?

Ele não fala fluentemente, mas sabe bastante. Nós entendemos um pouco do russo também e ainda tem tradutor.

Até que ponto ele contribuiu na evolução da sua carreira?

Ele acreditou em mim desde o início. Meu primeiro ano no Shakhtar foi difícil. Eu quase não jogava e queria sair. Ele conversou comigo, ajudou-me a entender o futebol europeu.

Vale a pena trocar o Brasil por um clube do Leste Europeu ou você se arrepende?

Eu não tenho do que reclamar. Se voltasse no tempo e surgisse o interesse do Shakhtar, eu iria do mesmo jeito. Muito do que sou hoje devo ao clube.

Marcos Paulo Lima

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Marcos Paulo Lima

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