Jorge Almiron Jorge Almirón comandou Mancuello no Independiente em 2014/2015. Foto: Clublanús.com O técnico Jorge Almirón, vice-campeão da Libertadores 2017

Na linha com Jorge Almirón: vice da Libertadores fala de Tite, Mancuello e da final da Sul-Americana

Publicado em Esporte

Aos 46 anos, o ex-técnico do Lanús, Jorge Almirón, tem no currículo algo mais do que o histórico vice-campeonato da Copa Libertadores da América neste ano e os títulos do Campeonato Argentino, da Copa Bicentenário e da Supercopa da Argentina em 2016. Ele sabe direitinho como usar uma peça-chave que pode ajudar o Flamengo a conquistar a Copa Sul-Americana.

A melhor fase da carreira de Federico Mancuello foi com a camisa do Independiente, justamente sob a batuta de Jorge Almirón. À espera da aprovação de sua documentação pela Real Federação Espanhola de Futebol para assumir o Las Palmas, da primeira divisão do Campeonato Espanhol, o treinador conversou com o blog por telefone. O “Negro”, como é chamado na Argentina, falou sobre o xodó “Mancu”, analisou o Independiente para a torcida do Flamengo e até surpreendeu ao reverenciar Tite, técnico da Seleção Brasileira.

Jorge Almirón havia acabado de se despedir do Lanús na noite de segunda-feira. O empate por 0 x 0 com o Vélez Sarsfield, no Estádio La Fortaleza, encerrou mais um ciclo na carreira do treinador. Perguntei a ele  por que Mancuello rendeu tão bem sob o seu comando no Independiente na temporada de 2014/2015, e no Flamengo é apenas mais um. O jogador fez 10 gols com o uniforme Independiente e foi até convocado pelo então técnico da Argentina, Alejandro Sabella, para dois amistosos nos Estados Unidos. Em um deles, fez gol de falta na vitória por  2 x 0 sobre El Salvador.

“Não há segredo. Ele estava confiante dentro do sistema tático que adotamos, tinha a confiança dos companheiros, entendia o processo e se sentia titular indiscutível. Era o meu líder, o meu capitão. Ele foi evoluindo com o tempo e passou a jogar sempre”, explicou.

 

“No Independiente, jogamos a maior parte dos jogos no sistema 4-3-3 e o Mancuello atuava como volante ou meia pela esquerda. Ele ficava perto da área, finalizava bastante e fez 10 gols”

 

Jorge Almirón sabe que, hoje, Mancuello é reserva do Flamengo. Pergunto ao treinador se ele acha que o banco está anulando o jogador no rubro-negro carioca. “Imagino que sim. Quando você não se sente importante, querido pelo grupo, a confiança não é a mesma. Mas isso não quer dizer que o técnico (Reinaldo Rueda) não tenha razão no que faz. Neste caso, eu não estou lá todos os dias para saber exatamente o que acontece”, argumenta Jorge Almirón.

Questiono Jorge Almirón se alguém do Flamengo, algum dia, se deu o trabalho de procurá-lo por telefone ou qualquer outro meio a fim de saber um pouco mais sobre as características e a personalidade de Mancuello. Ele se esquiva, não responde, mas topa apontar qual é a posição tática em que Mancuello costuma se sentir mais confortável taticamente. “No Independiente, jogamos a maior parte dos jogos no sistema 4-3-3 e o Mancuello atuava como volante ou meia pela esquerda. Ele ficava perto da área, finalizava bastante e fez 10 gols”, recorda Jorge Almirón.

Com Muricy Ramalho, Mancuello atuou como volante pela esquerda. Cuéllar ou Márcio Araújo atuavam centralizados e Willian Arão na direita. Com Zé Ricardo, o argentino chegou a ser um “10” e atuou até aberto pela direita. Reinaldo Rueda o escalou aberto pela esquerda na vitória por 3 x 0 sobre o Corinthians na antepenúltima rodada do Campeonato Brasileiro.

Na temporada 2017/2018 do Campeonato Argentino, Jorge Almirón levou o Lanús ao triunfo na casa do Independiente por 1 x 0 em 16 de setembro, pela terceira rodada. Com a experiência de que já treinou o Independiente e recentemente enfrentou o time de Ariel Holan, ele diz o que o Flamengo pode esperar do adversário na final da Copa Sul-Americana.

 

“O Independiente é um time veloz, de transições rápidas e cria muitas situações de gol por partida. Está com muita confiança e o melhor, tem a mística de clube copero que se fará sentir no ambiente do jogo”

 

“O Independiente é um time veloz, de transições rápidas e cria muitas situações de gol por partida. Está com muita confiança e o melhor, tem a mística de clube copero que se fará sentir no ambiente do jogo”, analisa. Para não ficar mal com o Flamengo, Jorge Almirón fez uma média com a Nação. “Mas o Flamengo é o clube de maior torcida no mundo e certamente fará uma grande final de Copa Sul-Americana”, espera.

Antes de Jorge Almirón encerrar a conversa e partir para a aventura no Las Palmas — antepenúltimo no Campeonato Espanhol — lembro que alguns compatriotas dele, colegas de profissão, passaram pelo futebol brasileiro, como Daniel Passarella, Edgardo Bauza e Ricardo Gareca.  Pergunto se Almirón tem o desejo de trabalhar no Brasil. No meio da resposta, ele surpreende ao rasgar elogios a um treinador que estará na Copa de 2018. Jorge Sampaoli, da Argentina? Não! Adenor Leonardo Bachi, o Tite, da Seleção Brasileira.

 

“Admiro o futebol brasileiro e especialmente o Tite. É uma referência. Quem é detalhista, como eu, entende o que Tite conseguiu gerar em tão pouco tempo na Seleção Brasileira. Tite faz mais do que jogar bem, ele montou um time, um elenco, eu percebo isso”

 

“Seria um grande desafio trabalhar no Brasil. Há grandes equipes, algumas bastante competitivas, com excelentes jogadores. Eu admiro o futebol brasileiro e especialmente o Tite. Para mim, ele é uma referência. Quem é detalhista, como eu, entende o que Tite conseguiu gerar em tão pouco tempo na Seleção Brasileira. Tite faz mais do que jogar bem, ele montou um time, um elenco, eu percebo isso”, surpreende.

Questionado se já recebeu algum convite para trabalhar no Brasil, o vice-campeão da Libertadores deixa as portas abertas. “Não, mas espero que algum dia isso aconteça”.