Rubén Darío Insúa era o técnico do Barcelona de Guayaquil na final da Copa Libertador da América de 1998, que será reprisada neste domingo pela tevê Globo em homenagem numa torcida do Vasco, em mais um vale a pena ver de novo no horário nobre do futebol. Faz 22 anos. O argentino tinha 37 quando classificou o clube equatoriano para a decisão. Um feito e tanto para quem havia pendurado as chuteiras duas temporadas antes com a camisa do Quilmes. Em entrevista por telefone ao blog da Argentina, onde respeita a quarentena ao lado da família em tempos de quarentena, ele lembra detalhes do título do Vasco. Exalta o poder financeiro do clube carioca à época; acusa a dupla de ataque formada por Donizete e Luizão de não ter dado chance ao time dele; cita nome por nome dos heróis cruz-maltinos; diverte-se ao recordar que o banco de reservas em São Januário — palco do jogo de ida — ficava atrás da linha de fundo; emociona-se com a homenagem da torcida a Quiñonez e diz que teria dado mais trabalho se não tivesse perdido o meia boliviano Marco “El Diablo” Etcheverry, maestro do Barcelona na conquista do Campeonato Equatoriano em 1997; e o atacante Agustín Delgado estivesse 100% curado de uma lesão que o deixou fora do jogo de ida, no Rio. A entrevista tem uma revelação: o ex-meia Insúa conta que quase assinou contrato com o Flamengo em 1988, quando tinha 27 anos. Ele conta por que não deu certo nesta entrevista.
A torcida do Vasco verá neste domingo aqui no Brasil a reprise da final da Copa Libertadores da América de 1998 contra o Barcelona de Guayaquil. O senhor era o técnico do time equatoriano. Quais são as suas lembranças daquela decisão?
Foi um prazer jogar aquela final. Uma decisão equilibrada, por sinal. Foram bons jogos. Os dois times eram campeões nacionais. Nós havíamos conquistado o Campeonato Equatoriano em 1997; e o Vasco havia vencido o Brasileiro. Eliminamos Colo-Colo, Bolívar e Cerro Porteño na fase eliminatória. O Vasco teve um caminho mais difícil se não estou enganado (Nacional-URU), Grêmio e River Plate. As vitórias foram deixando o Vasco ainda mais forte para a final.
Por que o Vasco foi superior na final?
Vou citar dois nomes: Donizete e Luizão foram impecáveis nos dois jogos. Poucas vezes vi uma dupla de ataque ser tão competente em dois jogos decisivos. Você deve lembrar. Eles fizeram os gols do Vasco no Rio e em Guayaquil. A precisão nas finalizações dos dois me impressionou.
Poderia ter sido pior: a dupla de ataque no título brasileiro era Edmundo e Evair…
Sim, por isso fiquei ainda mais fã dos dois (risos). Como Donizete e Luizão conseguiram se completar em tão pouco tempo? Eles simplesmente não nos deram chance (silêncio). O alto grau de precisão dos dois na decisão foi impressionante.
“Donizete e Luizão foram impecáveis nos dois jogos. Poucas vezes vi uma dupla de ataque ser tão competente em dois jogos decisivos. Você deve lembrar. Eles fizeram os gols do Vasco no Rio e em Guayaquil. A precisão nas finalizações dos dois me impressionou”
O placar agregado da final foi 4 x 1. O que faltou ao Barcelona para equilibrar a decisão?
O mesmo poderio financeiro do Vasco (risos). Eu lembro do plantel. Tinha Donizete, Luizão, Juninho (Pernambucano), Mauro Galvão. Eu gostava muito do Vítor (lateral-direito), mas o titular se não me engano era Vágner (correto). O Vasco tinha Felipe, Carlos Germano, que foi um dos goleiros do Brasil na Copa do Mundo (da França, em 1998). O Vasco era muito forte.
Poder financeiro à parte, o que faltou em campo?
O Barcelona sentiu falta de dois jogadores importantíssimos. Você lembra o estrago que Marco Etcheverry fez contra o Brasil nas Eliminatórias (para a Copa de 1994)? Ele foi o nosso enganche (meia) na conquista do Campeonato Equatoriano de 1997. Estava emprestado pelo DC United (da Major League Soccer) e foi para o Emelec no ano da Libertadores (1998). A saída de Etcheverry mexeu taticamente no Barcelona. Nós também tivemos problemas com Agustín Delgado. O nosso goleador se machucou nas quartas de final contra o Bolívar e só voltou a jogar no segundo jogo contra o Vasco, em Guayaquil. Sem dúvida uma grande perda. Ele estava sendo decisivo na etapa eliminatória, havia marcado três gols. Ficamos enfraquecidos.
Foi um duelo difícil com Antônio Lopes?
Grande treinador. Ele estava com (Luiz Felipe) Scolari na Copa de 2002, não é? O Vasco de Lopes era taticamente perfeito. Ele provou ser muito competente também no Athletico-PR, chegou novamente à final da Libertadores. Lembro especialmente do que ele e Scolari fizeram na Copa do Mundo de 2002. O Brasil foi campeão pela primeira vez usando linha de três na defesa (3-4-1-2). Aquilo foi impressionante.
“Lembro-me de um detalhe que só vi no campo do Vasco em toda a minha carreira: o banco de reservas ficava na linha de fundo. Era muito difícil dar ordens. Aquilo me incomodou. Não vi nada parecido (risos)”
O que lembra da atmosfera em São Januário no primeiro jogo da decisão?
Na verdade, nós queríamos a final no Maracanã. É um estádio grande. Mas não tivemos problemas em São Januário. Formos respeitados, bem recebidos. Lembro-me de um detalhe que só vi no campo do Vasco em toda a minha carreira: o banco de reservas ficava na linha de fundo. Era muito difícil dar ordens. Aquilo me incomodou. Não vi nada parecido (risos).
Algo mais chamou a atenção?
A recepção da torcida a Holger Quiñonez. Foi difícil para ele. Quiñonez havia sido campeão brasileiro pelo Vasco (em 1989). Ficou emocionado. Eu também ficaria.
Algum dia sonhou ou esteve próximo de trabalhar no Brasil?
Quase joguei no Flamengo. Era 1988. Eu estava no Estudiantes de La Plata e Zico estava perto de se despedir (do clube carioca). Houve uma negociação, inclusive com valores apresentados, mas o Flamengo demorou a responder e fui negociado com o Estudiantes para o Independiente. Eu era um enganche (meia) e ajudaria o Flamengo na saída de Zico. Pelo que sei, o Flamengo preferiu usar o dinheiro para trazer o Renato Gaúcho de volta.
“Quase joguei no Flamengo. Era 1988. Eu estava no Estudiantes de La Plata e Zico estava perto de se despedir (do clube carioca). Houve uma negociação, inclusive com valores apresentados, mas o Flamengo demorou a responder e fui negociado com o Estudiantes para o Independiente. Eu era um enganche (meia) e ajudaria o Flamengo na saída de Zico. Pelo que sei, o Flamengo preferiu usar o dinheiro para trazer o Renato Gaúcho de volta (estava na Roma)”
Tem planos de ser técnico no Brasil?
Aceitaria um convite. Tenho currículo para isso. Chegamos na final da Libertadores contra o Vasco. Fomos campeões da Copa Sul-Americana em 2002 pelo San Lorenzo contra Atlético Nacional. Você lembra? Era a primeira edição da Copa Sul-Americana.
Quais são os seus próximos passos?
Estou em quarentena com a família aqui na Argentina. Quando houver liberação, nós retomaremos os treinos no meu time, que é a LDU de Portoviejo (Equador).
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