Um dia depois da eliminação do Brasil nas oitavas de final da Copa do Mundo da França pela França, escrevi neste espaço o seguinte texto: Evolução da Seleção Brasileira feminina passa pela contratação de treinadora estrangeira de ponta. Coragem, CBF! Citei opções como Silvia Neide, Pia Sundhage, Jill Ellis, Sarina Wiegman e Corinne Diacre. Não faço ideia se alguém da entidade máxima do futebol brasileiro leu aquele post, mas a escolhida é uma das cinco.Pia Morrow Sundhage.
Atenciosa, objetiva, direta nas respostas, movida a desafios e motivadíssima para se mudar de vez para o Rio de Janeiro em duas semanas para assumir a Seleção Brasileira, a senhora treinadora de 59 anos nascida em Ulricehamn, na Suécia, deixou ótima impressão na entrevista ao blog Drible de Corpo nesta terça-feira, quando a primeira treinadora estrangeira da Seleção Brasileira foi anunciada oficialmente pela CBF.
No bate-papo a seguir, Pia revelou algumas decisões importantes. A primeira delas é praticamente uma obsessão: ela quer aprender a língua portuguesa. Além de respeitar a nossa cultura, ela justifica que é quase impossível liderar uma seleção sem falar o idioma. Ela também revela que pretende aplicar na Seleção Brasileira dos vitoriosos trabalhos à frente dos Estados Unidos e da Suécia.
Competitiva ao extremo, Pia esteve no pódio das últimas quatro Olimpíadas em primeiro ou segundo lugar. Era scout de April Heinrichs no ouro dos Estados Unidos contra o Brasil em Atenas-2004; técnica da seleção norte-americana no bi em Pequim-2008 e no tri em Londres-2012; e prata nos Jogos do Rio-2016 pela Suécia. Perdeu a final final contra a Alemanha no Maracanã, por 2 x 1. O currículo tem ainda um vice-campeonato na Copa do Mundo 2011 e o título de melhor treinadora do mundo em 2012. Como não deixa pergunta sem resposta, Pia fala também sobre a união de forças com a rainha Marta, eleita seis vezes número 1 do mundo.
Quando você recebeu o convite para assumir a Seleção Brasileira? O que foi determinante para topar o desafio?
Recebi o convite faz uns dois dias. Resolvemos o contrato facilmente. O fator determinante foi… é o Brasil! O país do futebol. Eu adoro a técnica do jogador brasileiro. Se eu conseguir aplicar a mentalidade vencedora dos Estados Unidos e organização defensiva da Suécia nós podemos fazer um grande trabalho.
O que significa para você ser a primeira treinadora estrangeira da Seleção Brasileira feminina?
Um orgulho muito grande. É a segunda vez que isso acontece comigo. Foi assim também quando assumi os Estados Unidos. Eu sinto a responsabilidade de manter o estilo brasileiro de jogar futebol e dar continuidade ao trabalho adicionando o meu estilo sueco.
O Brasil tem uma forte relação com a Suécia. O primeiro dos cinco títulos mundiais foi conquistado na Suécia, em 1958, contra a Suécia. Agora, uma treinadora sueca pode dar à Seleção o primeiro título de impacto mundial, ou seja, a inédita medalha de ouro em Tóquio-2020?
Isso seria fantástico. Outra final olímpica seria um sonho tornado realidade (o Brasil foi prata em Atenas-2004 e Pequim-2008. Nos Jogos da China, perdeu para os Estados Unidos, comandado por Pia Sundhage).
O fator determinante foi… é o Brasil! O país do futebol. Se eu conseguir aplicar a mentalidade vencedora dos Estados Unidos e a organização defensiva da Suécia nós podemos fazer um grande trabalho.
Você foi treinadora dos Estados Unidos, da Suécia principal e sub-17, assistente da China. Comandar a Seleção Brasileira é o maior desafio da sua carreira?
Maior desafio? Hummm. Olha, agora, eu vivo o aqui e agora. Então, sim, esse é o meu maior desafio. Muito semelhante com 2008, quando assumi os Estados Unidos. Mas hã duas diferenças: 1. os Estados Unidos sempre foram uma seleção vencedora. 2. Comunicação. Se eu quiser transmitir as minhas ideias, preciso aprender a língua portuguesa. Mostrar respeito para merecer respeito. Palavras são importantes (no relacionamento entre treinadora e jogadoras).
Você já está procurando um curso de língua portuguesa?
Sim, estou ansiosa para aprender português.
A Seleção Brasileira tem agora a melhor treinadora do mundo em 2012, e Marta, a jogadora eleita seis vezes melhor do mundo. O que esperar dessa combinação quase perfeita?
Uma equipe coesa. Essa é a minha meta, o meu objetivo. Uma estrela precisa trabalhar de um trabalho de equipe e uma equipe precisa de uma estrela.
Se eu quiser transmitir as minhas ideias, preciso aprender a língua portuguesa. Mostrar respeito para merecer respeito.
Você admira algum treinador brasileiro? Qual inspira Pia Sundhage?
O Carlos Alberto Parreira da Copa do Mundo de 1994 (tetra) e Luiz Felipe Scolari de 2002 (penta).
Qual avaliação você faz do momento da Seleção. Temos uma mescla de jogadoras veteranas e jovens. O que falta para o Brasil finalmente conquistar a medalha de ouro ou a Copa do Mundo e finalmente subir de patamar?
O Brasil teve alguns bons momentos durante a Copa do Mundo da França. É uma equipe interessante. Se conseguir usar a experiência com a coragem das jogadoras mais jovens isso elevará o desempenho, trará benefício aos dois lados, e poderemos ter uma grande equipe.
Maior desafio? Hummm. Olha, agora, eu vivo o aqui e agora. Então, sim, esse é o meu maior desafio.
Como é a sua relação com o Brasil. Já passou férias aqui ou esteve apenas nos Jogos Olímpicos do Rio-2016? Imaginou algum dia morar no Rio de Janeiro, onde, há três anos, você disputou a terceira final olímpica consecutiva como treinadora?
Eu nunca passei férias no Brasil, mas vivi uma excelente experiência em 2016.
Você já definiu a comissão técnica? Lilie Person sempre foi seu braço direito. Ela será sua auxiliar?
Vou manter a comissão técnica em respeito ao trabalho, ao desempenho anterior. Eu terei uma assistente, mas o nome ainda não está 100% definido.
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