Eleito o melhor jogador no empate por 1 x 1 entre Palmeiras e Flamengo, domingo, no Allianz Parque, em São Paulo, Hugo Souza trabalhou por quatro anos com o preparador de goleiros José Jober nas divisões de base do clube carioca. O profissional está fora do país. Está no Chongquing Dangdai, time da primeira divisão do Campeonato Chinês – China Super League –, onde atuam os brasileiros Marcinho, Fernandinho, Alan Kardec e Marcelo Cirino.
Do outro lado do mundo, Jober ficou ligado na estreia do pupilo Hugo na equipe profissional do Flamengo e emocionou-se com a atuação do jogador de 21 anos, que chegou às mãos dele aos 13 nas divisões de base da equipe rubro-negra.
No bate-papo a seguir com o blog, Jober lembra que, certa vez, ganhou um doce presente do menino que viajava diariamente de Duque de Caxias até o Ninho do Urubu para treinar. Grato pela atenção que o preparador de goleiros dedicava a ele, Hugo Souza deu uma barra de chocolate a Jober na páscoa de 2013. Sete anos depois, o Neneca, como é chamado internamente, virou personagem da 12 rodada do Campeonato Brasileiro.
Você trabalhou com o Hugo Souza quatro anos no Flamengo. Quais são as lembranças?
É um goleiro que eu conheço bem. Comecei a trabalhar com ele, em 2013. Ele subindo da categoria sub-13, do mirim, para começar um trabalho no sub-14. Tive oportunidade de trabalhar com ele no total, de forma direta, por quatro anos. Trabalhei dois anos no infantil com ele e depois fui para o juvenil. Quando eu subo para o sub-17, ele também sobe para o sub-17 e ele encontra comigo novamente como preparador de goleiro. Então, conseguimos trabalhar juntos um total de quatro anos.
Como foi a evolução dele?
Ele era um goleiro alto, longilíneo, mas as questões maturacionais ali, com 14 anos, não tinham sido completadas. É natural uma oscilação nesse período. O trabalho é muito de aprendizagem, paciência. Você vai semeando para colher os frutos mais à frente. Foi assim que aconteceu. Ele sobe para a categoria sub-14 com essas questões do nível de maturidade precisando ser desenvolvidas. Foi um trabalho, um processo, vai ganhando confiança, vai desenvolvendo, conhecendo as suas qualidades, as potencialidades. A gente tem que dar oportunidade na base a tudo isso. É erro, paciência, explicar, correção, vídeo, treinamento. A gente tem que ter um jogo de cintura muito grande.
Ele errou e acertou muito até ser titular no profissional?
Você não pode rotular um atleta de 12 ou 13 anos. Ele vai errar. Isso faz parte de formação, e ele errou muito comigo também. Mas faz parte. O importante é ver potencial e desenvolvimento no atleta. Temos que imaginar como esse menino vai ser daqui a três, quatro, cinco anos. Isso é projetar. Quem trabalha na base tem que ter esse olhar. Fico muito feliz em ver o Hugo chegar. Tenho um carinho especial por ele. Ele merece!
O que mais chamou a atenção em relação ao Hugo?
A força de vontade, dedicação. É uma menino que vinha lá de Duque de Caxias para o Ninho do Urubu. Para quem não conhece o Rio, é muito distante, muito longe. Eu acompanhava muito o sofrimento do seu Jorge. O pai do Hugo era sempre presente nos jogos das divisões de base. Acompanhava, ia, frequentava. Por muitas vezes, a gente conversou. Eu acompanhava a luta dele. Foi dedicação dele, da família, empenho, entrega.
(O Hugo) é um garoto humilde em todos os sentidos. Um dia, eu ganhei dele uma barra de chocolate. Lembro disso. Ganhei porque eu dei atenção para ele. O Hugo veio para mim meio desacreditado. Ele não teve muitas oportunidade no sub-13. Eu acreditei. Vi potencial. Aí, com poucas semanas de treino, era época de páscoa, em 2013. Ele chegou com os olhos brilhando e me deu uma barra de chocolate. Perguntou: ‘professor, você gosta de chocolate? Eu disse: sim. Aí, ele me deu uma barra
José Jober, centro na foto de boné
O pai do Hugo e uma barra de chocolate são as suas maiores lembranças do Hugo?
O pai dele eu conversei algumas vezes. Ele sempre apoiou o filho. Participava muito. O Hugo é religioso, evangélico. É um garoto humilde em todos os sentidos. Um dia, eu ganhei dele uma barra de chocolate. Lembro disso. Ganhei porque eu dei atenção para ele. O Hugo veio para mim meio desacreditado. Ele não teve muitas oportunidade no sub-13. Eu acreditei. Vi potencial. Aí, com poucas semanas de treino, era época de páscoa, em 2013. Ele chegou com os olhos brilhando e me deu uma barra de chocolate. Perguntou: ‘professor, você gosta de chocolate? Eu disse: sim. Aí, ele me deu uma barra.
E a personalidade do Hugo?
É um garoto muito querido no clube, sempre foi muito simples, humilde, um garoto bacana, que todo mundo gosta. É muito difícil uma pessoa não gostar do Hugo pela simplicidade dele. Hoje, mando mensagem para o Hugo e ele responde. A gente sempre conversa. Isso é muito legal. A gente vê como as coisas vão acontecendo na vida das pessoas com mérito, não somente por questões de competência ou talento.
Julio Cesar é um dos ídolos do Hugo. E há uma coincidência entre eles: ambos estrearam jovens contra o Palmeiras. O Julio, em 1997, com 17 anos; e o Hugo agora, aos 21. Surpreende?
Ele teve oportunidade em Seleção de base. Até o Tite o convocou para dar oportunidade como terceiro goleiro para vivenciar aquele ambiente profissional. A gente, que trabalha com o atleta e participou ou participa desse processo, e o Flamengo, estão de parabéns pelo trabalho de base que vem fazendo desde a gestão passada. A gente fica muito feliz com os frutos que o clube está colhendo. A gente fica alegre vendo o atleta com quem você trabalhou, aconselhou, instruiu, consegue galgar coisas na vida. Estou muito feliz com essa atuação do Hugo. Que ele continue focado como sempre foi, dedicado, querendo melhorar, sempre aprender, e com essa humildade que é característica dele. Por isso, ele colhe rendimento dentro de campo.
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