Aos 46 anos, o novo técnico do Gama, Jonilson Veloso Santos, é uma das vozes contra um preconceito combatido em outubro pelo técnico Tite e o auxiliar César Sampaio na entrevista coletiva antes da partida da Seleção contra o Chile pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo: a escassez de oportunidade para treinadores de futebol negros no país.
Questionado se há preconceito, Tite respondeu: “Sim. E ele é arraigado, estrutural, sim. Devemos lutar contra o preconceito, porque há na relação ao técnico negro e, talvez, ampliando numa situação generalizada e maior em termos sociais”, criticou. César Sampaio endossou. “Mais do que um posicionamento, são atitudes”, completou o assistente da Seleção.
Jonilson Veloso desembarcou em Brasília no domingo para assumir o Gama oficialmente nesta segunda-feira. Em entrevista ao blog, o técnico lamenta a falta de espaço para profissionais negros. “Eu estava entre os 60 treinadores das séries A, B e C. Dos 60, não tinha seis negros”, lamenta o profissional preparado para o desafio de comandar o clube recordista de títulos do Distrito Federal no Campeonato Candango de 2022.
No bate-papo a seguir, Jonilson Veloso fala sobre o investimento pessoal na carreira. Fez intercâmbios na Europa com Pep Guardiola no Bayern de Munique e aprendeu, também, com o suíço Lucien Favre no Nice. Tio do zagueiro Dante, o técnico prefere a discrição e separa os caminhos escolhidos por ele e o querido sobrinho famoso no futebol.
Lembrado de que o Gama fez parte da trajetória vitoriosa de Cuca e Caio Júnior, Jonilson Veloso comemorou. “Se o Gama tem essa fama, estou no lugar certo. Com a grandeza do clube e da torcida, estou no lugar certo na hora certa”, brincou.
O Distrito Federal só tem times na Série D desde 2014. Lá se vão oito anos. Você acaba de desembarcar em Brasília, mas qual é a impressão que tem do futebol daqui?
Futebol é universal. É jogado com as mesmas regras. Conheço o futebol de Brasília. Sei que é um campeonato competitivo com umas cinco equipes com condições de ser campeão
O senhor sempre investiu em intercâmbios na Europa. Como foram os aprendizados com Pep Guardiola e Lucien Favre?
Aprendemos a forma como eles trabalham com organização antes dos treinos e no pós-treino.
O que diferencia hoje o futebol europeu do brasileiro?
Profissionalismo e organização.
Qual foi o segredo do seu sucesso na Jacuipense? Em quatro anos de trabalho, você chegou à semifinal do Campeonato Baiano, levou o time à Série C.
Acredito que foi na manutenção do trabalho. Colocamos as nossas metodologias de trabalho e os atletas compreenderam as nossas ideias de jogo.
O que acha do elenco que o Gama está montando para o Candangão? Conhece todos eles? Você que os indicou? Quem o senhor destaca?
O elenco do Gama está sendo montado com uma expectativa excelente, com uma mentalidade vencedora para que consiga o objetivo, que é dar alegria ao nosso torcedor, o maior merecedor do sucesso do time.
O Brasiliense é o time a ser batido no Candangão ou Ceilândia e Capital também preocupam?
O Gama respeita todos os nossos adversários, mas, no futebol, sabemos que, para conseguirmos os resultados positivos, temos que se impor.
O Gama tem fama de alavancar a carreira de técnicos. Cuca, Caio Júnior e Estevam Soares passaram pelo clube antes do sucesso nacional e internacional. Chegou a sua vez?
Glória a Deus. Se o Gama tem essa fama, estou no lugar certo. Com a grandeza do clube e da torcida, estou no lugar certo na hora certa.
Infelizmente, ainda vivemos em um país marcado pelo racismo. Isso tem sido cada vez mais combatido. A ascensão é mais difícil para um técnico negro?
Sim, com certeza. No Brasil, é difícil um negro não sofrer preconceito. Fiquei quatro anos no último clube, Jaucuipense-BA. Eu estava entre os 60 treinadores das divisões A, B e C. De 60 treinadores, não tinha seis negros. Isso responde.
Atlético-MG, Palmeiras e Flamengo são os grandes times do Brasil. Qual deles é mais inspirador?
Futebol é momento. O Atlético é o clube que joga o melhor futebol da atualidade.
Quais são os seus planos táticos para o Gama?
Construir uma equipe organizada, com plano tático bem estabelecido e que honre as tradições.
O Gama segue sem estádio. O gramado do Bezerrão está impraticável. Conhece as arenas de Brasília. Em qual prefere jogar?
Preferimos jogar no Mane Garricha. É uma arena que conhecemos e sabemos da qualidade do gramado.
Qual técnico é a sua inspiração?
Paulo Autuori.
Gosta de ler? Qual livro está lendo?
Sim, bastante. Nós temos que nos atualizar constantemente. Estou lendo no momento Integracion Tactica, de Javier Lopes Lopes.
O que a torcida do Gama pode esperar do time em 2022? Que cara terá?
Uma equipe com aplicação tática, organizada, com mentalidade vencedora e que faça jus ao tamanho do maior campeão do Distrito Federal.
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