Celina GDF A secretária quer convencer o GDF a bancar os testes de covid-19 dos times do Candangão. Foto: Mariane Silva/Esp. CB. D. A. Press A secretária quer convencer o GDF a bancar os testes de covid-19 dos times do Candangão. Foto: Mariane Silva/Esp. CB. D. A. Press

Entrevista | Celina Leão: Conheça os planos da nova secretária de Esporte e Lazer do Distrito Federal

Publicado em Esporte

Aos 43 anos, Celina Leão Hizim Ferreira (Progressistas) diz em entrevista ao blog Drible de Corpo que assumiu, na última quarta-feira, data da publicação da nomeação como secretária de Esporte e Lazer do Distrito Federal, o maior desafio da vida pública. Formada em administração, a ex-secretária da Juventude, ex-deputada distrital e ex-presidente da Câmara Legislativa do DF acaba de trocar a cadeira de deputada federal pelo desembarque no governo de Ibaneis Rocha (MDB). A composição política que levou o suplente Tadeu Filippelli ao cargo no Congresso Nacional tem um argumento segundo Celina Leão: ficar mais próxima dos 31.610 eleitores. Torcedora do mesmo time do Chefe do Executivo local, ela brincou com a coincidência. “Você vai dizer que sou puxa-saco (risos), mas sou flamenguista esposa de vascaíno e filha de um ex-jogador profissional do Goiás”.

No bate-papo de quarta-feira (13/5) à noite, horas depois de ser anunciada como sucessora de Leandro Cruz na pasta, Celina Leão falou em discutir com rapidez a reabertura das academias, o apoio a esportistas de alta performance da cidade, falou em convencer o governador de que o futebol candango tem potencial e prometeu até ajudar financeiramente os clubes a comprar os testes antes da retomada do esporte na capital. Jogadora de futevôlei, a secretária conta como um projeto social do governo fez com que ela se apaixonasse pelo esporte e levanta a bandeira da igualdade de gênero. Mesmo animada com o novo emprego, ela manda recado: “É algo temporário”.

 

A senhora foi eleita deputada federal com 31.610 votos e agora troca a Câmara pela secretaria de Esportes. Isso não aborrece quem escolheu vê-la no Congresso?
Como eu sempre fui muito ativa nessa área, eu tenho muitos eleitores no esporte. Ele está feliz, satisfeito, sabendo que haverá mudança no esporte. Uns acham que vai ser legal. Outros, mais rígidos, acham que eu não deveria sair da Câmara. A gente entende.

 

Como foi a negociação dessa composição política?
O que eu combinei com o governador Ibaneis (Rocha) é que será algo temporário (o suplente Tadeu Filipelli assumiu a vaga na Câmara dos Deputados). Venho para ajudar a estruturar projetos de esporte. Quando eu perceber que está tudo organizado, com as coisas andando, os projetos acontecendo, a gente tem condição de retornar para a Câmara dos Deputados.

 

Temporário por quanto tempo?
Acho que conseguirei fazer isso com rapidez, agilidade. É uma tentativa de ficar mais perto do meu eleitor no momento em que ele mais precisa. Nós votamos na Câmara quase todos os projetos possíveis ligados à covid-19. Estamos votando, agora, iniciativas individuais, uma ou outra Medida Provisória do governo. Acredito que conseguirei ajudar na secretaria de Esporte mais do que estando na Câmara dos Deputados. Devo retornar em breve. Quando fui deputada distrital, achei estava no meu limite e fui para a Câmara dos Deputados. Lá, eu também dei o meu melhor. Vou conseguir cumprir o meu papel na secretaria de Esporte e dar satisfação aos meus eleitores. Sou secretária, mas jamais deixarei de ser deputada para falar sobre questões fundiárias, saúde… Não deixarei os eleitos desamparados.

 

“O que eu combinei com o govenador Ibaneis (Rocha) é que será algo temporário (o suplente Tadeu Filipelli assumiu a vaga na Câmara dos Deputados). Venho para ajudar a estruturar projetos de esporte. Quando eu perceber que está tudo organizado, com as coisas andando, os projetos acontecendo, a gente tem condição de retornar para a Câmara dos Deputados. Acho que conseguirei fazer isso com rapidez, agilidade. É uma tentativa de ficar mais perto do meu eleitor no momento em que ele mais precisa”

 

O presidente da República Jair Bolsonaro decretou a abertura das academias. Qual é a sua posição no papel de secretária de Esportes?
Vamos discutir esse assunto numa reunião prévia e depois em um encontro com o próprio governador para começar essa discussão. Quando vai abrir, como vai abrir e qual será o protocolo adotado. Como serão as reaberturas dos parques, quando será reaberto. Vamos construir isso com o governador, os conselhos, com a sociedade civil organizada, com a equipe de saúde pública. A nossa responsabilidade é discutir como manter a população ativa com o máximo de segurança. A pandemia não é brincadeira.

 

Um dos seus projetos é levar a prática do esporte a todas as cidades do DF. Como?
Sou uma deputada que teve votos em todas as zonas eleitorais do Distrito Federal. Ando por todas as cidades. Percebo que Brasília tem vocação para o esporte. Isso acontece, inclusive, nas nossas periferias, nos locais mais carentes do Brasil. Vejo boas ações de muitos anônimos que pegam seu tempo, recursos do próprio bolso, que poderiam ser alimentos na mesa, e compram bolas, redes, patrocinam uniformes… A nossa ideia é ajudar os projetos que existem e fomentar outros com a entrada de insumos, equipamentos.

 

A cidade está cheia de equipamentos destruídos, sem reparos…
Queremos reforçar espaços públicos que estão depredados, largados. Queremos muito entrar nisso com a maior rapidez e atingir as pessoas que precisam. Penso muito nisso porque sou fruto disso. Eu fui aluna de uma escolinha de futevôlei no governo (Joaquim) Roriz, no Parque da Cidade. As pessoas faziam futevôlei gratuitamente. A Secretaria de Esporte patrocinava a bolsa para o professor, e ele tinha a contrapartida de investir no aluno, prestar conta deles. E isso era de graça. Estou falando de 20 anos. Mudou a minha vida. Jogo futevôlei até hoje. As pessoas querem oportunidade de aprender um esporte diferente, mas não têm acesso. Queremos oferecer isso nas vilas olímpicas, nas nossas comunidades. Vamos lançar esses projetos um a um e explicar como isso vai acontecer.

 

“Penso muito nisso porque sou fruto disso. Eu fui aluna de uma escolinha de futevôlei no governo (Joaquim) Roriz, no Parque da Cidade. As pessoas faziam futevôlei gratuitamente. A Secretaria de Esporte patrocinava a bolsa para o professor, e ele tinha a contrapartida de investir no aluno, prestar conta deles. E isso era de graça. Estou falando de 20 anos. Mudou a minha vida. Jogo futevôlei até hoje. As pessoas querem oportunidade de aprender um esporte diferente, mas não têm acesso”

 

É possível trocar o chip de deputada por secretária com tanta facilidade?
Como o convite do Ibaneis (Rocha) partiu há muitos meses, nós começamos a pensar nisso. É uma responsabilidade muito grande sair de um mandato de deputada federal. Fiz um trabalho importante na Câmara e acho que ele se consolida, agora, nessa secretaria. Não vou deixar de ser deputada federal. Continuo atenta a todos os problemas, mas, agora, tenho uma pauta que precisa de uma atenção especial, que é o esporte. É até engraçado. Às vezes, eu chegava em algum lugar para jogar e, por mais que eu fosse atleta naquele momento, chegavam pra mim e falavam: ‘poxa, deputada, vamos trazer areia para essa quadra, estamos nos machucando’. Algumas demandas são simples de se resolver, mas estavam estagnadas. Vamos conseguir fazer uma administração diferenciada. Já fiz até vaquinha para colocar vaso sanitário no Parque da Cidade. A manutenção de equipamentos públicos também tem que partir do Estado. A conservação parte da sociedade. É uma troca.

 

Esse é maior desafio da sua vida pública?
Com certeza. É mais amplo. Temos vários centros olímpicos. Temos que discutir o aproveitamento, o que fazer para otimizar esses projetos para que sejam aproveitados também nos fins de semana quando voltarmos á normalidade pós-covid-19. Primeiro, nós temos que fazer o que é possível dentro da condição de segurança. Brasília recebeu recentemente eventos nacionais e internacionais. Temos que continuar atraindo isso.

 

O que acha do tratamento dado pelo GDF aos nossos atletas de alto rendimento?
Queremos cuidar melhor desses atletas de ponta do Distrito Federal. Temos vários talentos. Tem o projeto Boleiros também, que não é meu, já existia na secretaria. Queremos turbinar esse projeto voltado para campeonatos de futebol amador das cidades. Às vezes, eles são a única diversão do trabalhador. Queremos dar um gás nisso. Serviço eu tenho demais.

 

Haverá diálogo com a senadora Leila Barros e Leandro Cruz, seus antecessores?
Com certeza. Eu não tinha conversado com eles antes desse anúncio, mas quero discutir com a (senadora) Leila. É uma atleta que eu respeito, de alta performance, deu muito orgulho ao Brasil. Quero ouvi-la, compartilhar ideias. Leandro foi ministro (do Esporte), é um amigo. Eles terão espaço especial para discussão de ideias, projetos. Minha ideia é continuidade. Não quero acabar com nada consolidado. Precisamos ampliar o que foi feito.

 

Flamenguista, esposa de vascaíno e filha de ex-jogador profissional do Goiás. Foto: Facebook/Celina Leão

 

Qual foi a repercussão dos dirigentes à sua nomeação para a secretaria de Esporte?
Recebi ligações de muitos dirigentes. O Weber Magalhães (presidente do Gama), por exemplo, é ex-secretário de Esporte. Ele teve a gentileza de me ligar, mostrar confiança no meu trabalho. A minha responsabilidade só aumenta. Quando as pessoas não têm expectativa e você faz um bom trabalho vira uma surpresa. Quando as pessoas têm expectativa, você arrisca virar uma decepção. Sei da minha responsabilidade e espero responder à altura do que eles (dirigentes) merecem.

 

Como convencer o governador Ibaneis Rocha de que o futebol do DF tem potencial?
O futebol do Distrito Federal precisa de apoio, prestígio. Eu estou de portas abertas, devo fazer uma reunião com eles. Quero ajudar o futebol amador e o profissional. Nós temos clubes que estão na Série D, mas nos honram e têm torcida, como o Gama e o Brasiliense. Para a gente ter um grande time no Distrito Federal, nós precisamos ter uma percepção de investimentos para que eles tenham possibilidade de voltar à Série A.

 

Isso é possível?
Eu adoro quando as pessoas dizem para mim: ‘isso não tem jeito, não dá para resolver’. Isso significa uma oportunidade. O governador Ibaneis é muito sensível a todas as colocações. Muitas vezes concordamos, outras discordamos, mas há muito respeito sempre. Vamos mostrar a ele o potencial dos clubes de futebol da cidade.

 

“Para a gente ter um grande time no Distrito Federal, nós precisamos ter uma percepção de investimentos para que eles tenham possibilidade de voltar à Série A. Eu adoro quando as pessoas dizem para mim: ‘isso não tem jeito, não dá para resolver’. Isso significa uma oportunidade. O governador Ibaneis é muito sensível a todas as colocações. Muitas vezes concordamos, outras discordamos, mas há muito respeito sempre. Vamos mostrar a ele o potencial dos clubes de futebol da cidade”

 

O país discute a volta do futebol. O que pensa sobre a retomada do Candangão?
Faz parte do nosso cronograma de volta. É uma atividade que tem contato. Isso é uma discussão nacional. O Distrito Federal foi a primeira unidade da federação a entrar em quarentena para deter o avanço da covid-19. Nós fomos bem-sucedidos e não podemos perder o que construímos. Vamos liberar com cautela, cuidado. Alguns países retomaram o futebol sem plateia, como a Coreia do Sul, Taiwan, Alemanha, sem público. Fizeram testes. Há formas de retomar essas atividades esportivas sem colocar as pessoas em risco.

 

Ao contrário de muitos clubes ricos do país, a maioria dos times do DF não tem verba para comprar testes da covid-19 e aplicá-las nos jogadores. A senhora pretende ajudá-los?
Com certeza. O fornecimento de testes para os jogadores faz parte de uma política pública de saúde. Vamos testar todas as equipes, ver se eles têm condição de voltar e reiniciar. As pessoas querem ver futebol, não importa se da poltrona de casa ou na arquibancada. O máximo, para ele, é ver o time do coração em campo.

 

Por falar em time do coração, qual é o seu time?
Você vai falar que sou puxa-saco (do governador Ibaneis Rocha). Sou flamenguista casada com um vascaíno e meu pai torce pelo Goiás. Seu Abrão, foi jogador profissional do Goiás muitos anos atrás. A minha relação com o futebol começou vendo meu pai jogar. Imagina o clima aqui em casa quando tem Clássico dos Milhões. Mas é democracia. Respeito todos os times. O mais importante é não transformar isso em briga pessoal.

 

“O fornecimento de testes para os jogadores faz parte de uma política pública de saúde. Vamos testar todas as equipes, ver se eles têm condição de voltar e reiniciar. As pessoas querem ver futebol, não importa se da poltrona de casa ou na arquibancada. O máximo, para ele, é ver o time do coração em campo”

 

Por falar em briga pessoal, os times de futebol e de basquete da cidade estão chateados com a injeção financeira de um banco da cidade no Flamengo…
Essa decisão do banco prestigiava a marca do BRB. Querendo ou não, o Flamengo estava num momento muito bom. Para os rubro-negros, foi um ano de ouro. A decisão estratégica do BRB foi comercial. É claro que nós queremos prestigiar o esporte local. Vamos ver com o BRB o que podemos fazer. Vamos demonstrar também que investir no futebol, no esporte local, vai ampliar a marca. Temos que usar mecanismos para comprovar isso.

 

Uma bomba-relógio chamada Mané Garrincha saiu das mãos da Secretaria de Esportes e agora é administrada pela Arena BSB. Como é a sua relação com concessionária?
A minha relação com os gestores sempre foi de diálogo. Inclusive, estive com o governador ibaneis naquela assinatura de protocolos. Fiz uma reunião também como deputada federal. É uma relação de muito respeito. É um grupo que entendeu o seu papel social. Virou parceiro nesse momento de crise (ao receber hospital de campanha).

 

Há praticamente unanimidade de que o tamanho e o valor do estádio são erros graves…
Não me arrependo de ter cobrado transparência na Câmara Legislativa na época da construção de um estádio que custou tão caro (R$ 1,7 bilhão). Não tenho dúvida de que, se tivessem feito o que nós sugerimos à época, ou seja, tirar esse ônus do governo e dar para a iniciativa privada, nós não teríamos construído com dinheiro público. É o que está acontecendo agora. É um modelo de negócio que começou errado, com um formato muito caro. Quando colocamos o complexo em licitação e anunciamos o custo que a empresa teria, apareceram apenas uma ou duas propostas. É um investimento alto, pesado, de longo prazo por tudo que já foi gasto ali . Estamos resolvendo um problema do passado dando oportunidade para que alguém assuma e traga grandes eventos.

 

“Você vai falar que sou puxa-saco (do governador Ibaneis Rocha). Sou flamenguista casada com um vascaíno e meu pai torce pelo Goiás. Seu Abrão, foi jogador profissional do Goiás muitos anos atrás. A minha relação com o futebol começou vendo meu pai jogar. Imagina o clima aqui em casa quando tem Clássico dos Milhões. Mas é democracia. Respeito todos os times. O mais importante é não transformar isso em briga pessoal”

 

Houve transparência durante a gestão pública do estádio?
O Estado não dá conta disso. Ele tem que cuidar de educação, saúde, segurança; e não de uma área tão grande quanto o Mané Garrincha. Quando você é Estado, todo mundo acha que tem que ser de graça, quer isenção de taxa, ou seja, usar o gramado e não pagar, usar a estrutura para fazer show e ter benefício. Já que foi para a área privada e vinha sendo usado por entidades privadas, precisa ter custo. É uma parceria público privada e o Governo do Distrito Federal vai ter acesso a esse lucro. Acho que está nas mãos de pessoas que dão conta de cuidar. Nossa relação será de cortesia e trabalho. Acho, ainda, que vamos ter uma boa contrapartida social naquele complexo.

 

A secretaria de Esporte costuma ser uma pasta machista, mas foi ocupada recentemente pela Leila Barros e agora a senhora. Evolução?
Tem um vídeo muito interessante sobre a primeira mulher que participou de uma corrida nas ruas. Ela foi atacada. O esporte ainda tem muitos homens. O futevôlei, por exemplo. Nós brigamos por premiação. Muitas vezes, a premiação do masculino é maior do que a do feminino. O futebol também passa por esses problemas.

 

Uma das suas bandeiras é a igualdade de gênero?
Quando se coloca uma mulher na gestão com essa visão, ela também lutará por essa equidade. Quantas mulheres nós temos jogando futevôlei, futebol, o que acham que podem fazer. Há diferenças de força e até de fisiologia, claro, mas a mulher pode praticar qualquer esporte que o homem faça dentro das suas condições físicas. O esporte não tem limite. Sou a líder da Frente Parlamentar pelos Direitos da Mulher na Câmara dos Deputados, membro da Comissão de Esporte também. Fiz um trabalho grande lá e queremos dar essa cara ao esporte feminino na secretaria.

 

 

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