Enquanto os principais campeonatos nacionais do planeta quebram a cabeça tentando adivinhar quando a pandemia do novo coronavírus dará trégua para que as competições sejam iniciadas ou concluídas, o Turcomenistão dá de ombros para a crise global, aposta no mantra “saúde e felicidade” que mantém o ditador Gurbanguly Berdymukhamedov no poder há 14 anos e não tem dúvida: a bola voltará a rolar no próximo dia 19 no país asiático posicionado em 129º no ranking da Fifa. Inclusive com a presença de torcedores. Esta é a mais recente determinação da federação. O futebol não parou em quatro países: Bielorrússia (Europa), Tajiquistão (Ásia), Burundi (África) e Nicarágua (América Central).
Batizado, de Yokary Liga, o Nacional da ex-república soviética está suspenso desde 24 de março. O torneio disputado por oito times havia começado. Estava na terceira rodada. As autoridades do país tomaram a decisão com base na suposta imunidade da nação de 491.210km² e 5,2 milhões de habitantes ao novo coronavírus.
Não há casos de infecção registrados em um dos países mais repressivos do planeta até a publicação deste post. A comunidade internacional desconfia. “As estatísticas oficiais de saúde do Turcomenistão não são confiáveis”, alertou em entrevista à BBC no último dia 8 o professor Martin McKee, da London School of Hygiene and Tropical Medicine. O cientista estudou o sistema de saúde do Turcomenistão. “Na década passada, eles alegaram não ter pessoas vivendo com HIV/Aids, algo que não é plausível. Também sabemos que, nos anos 2000, eles suprimiram as evidências de uma série de surtos”, argumenta.
As estatísticas oficiais de saúde do Turcomenistão não são confiáveis. Na década passada, eles alegaram não ter pessoas vivendo com HIV/Aids, algo que não é plausível. Também sabemos que, nos anos 2000, eles suprimiram as evidências de uma série de surtos
Martin McKee, professor da London School of Hygiene and Tropical Medicine, que estudou o sistema de saúde do Turcomenistão, em entrevista à BBC
Quando a Covid-19 começou a se alastrar, o presidente do país, o ditador Gurbanguly Berdymukhamedov proibiu os cidadãos de falar sobre a doença e de se protegerem com máscaras em espaços públicos e privados sob pena de serem detidos.
O Turcomenistão fechou as fronteiras, cancelou voos para a China e passou a desviar todos os voos internacionais da capital Asgabate para Turkmenabat, no nordeste, onde foi criada uma zona de quarentena. O presidente também aposta em um contra-ataque à base de ervas espalhado por mercados e escritórios do país. À exceção do futebol, a vida seque normal, com direito a pedalada do Dia Mundial da Saúde e imagens da tevê estatal exibindo o ditador levantando pesos na academia, andando de bicicleta e espalhando o mantra de seu governo: “saúde e felicidade”. Logo, o coronavírus não pode contrariar o slogan que o levou ao poder há 14 anos, em 21 de dezembro de 2006, e o futebol tem que voltar a fazer parte disso.
“Vimos como a infecção pela Covid-19 se moveu rapidamente da China para todas as partes do mundo. Nesta economia globalizada em que vivemos, todos os países são tão seguros quanto o país mais fraco do mundo. Mesmo que outros países consigam controlar a epidemia, existe o risco de propagação contínua de infecções daqueles países que falharam. Parece que o Turcomenistão pode muito bem ser outro exemplo”, alerta Martin McKee.
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