No início da temporada, Daniel Alves tinha proposta para defender o Manchester City. Trocou o convite de Pep Guardiola pelo Paris Saint-Germain por um motivo simples: Neymar antecipou que estava trocando o Barcelona pelo clube francês e queria o parceiro ao lado na Cidade Luz. Praticamente contratou o lateral. “O Ney que teve muita influência na minha vinda para cá. Foi Neymar quem me indicou ao PDG e sou muito grato a ele. Se ele me indicou, acho que é porque queria vir. Não sei se é um plano, mas foi o que aconteceu”, contou em agosto de 2017, após a vitória sobre o Amiens.
Daniel Alves comprou a briga de Neymar com Cavani. Até tomou a bola do maior artilheiro da história do PSG e entregou nas mãos do amigo brasileiro em uma cobrança de falta na vitória por 2 x 0 sobre o Lyon pela sexta rodada do Campeonato Francês.
Nos bastidores da Copa de 2014, o comentário era de que Neymar não gostou nadinha quando Luiz Felipe Scolari barrou o companheiro do Barcelona na época, contra a Colômbia, nas quartas de final, para entregar a lateral direita ao concorrente Maicon.
Há quem diga que Daniel Alves e Neymar engoliram Dunga a seco. Ambos reprovaram a escolha do então presidente da CBF, José Maria Marin. O lateral, por ter sido preterido por Dunga na Copa de 2010. Amargou a reserva de Maicon até Elano se machucar. Só assim ele conseguiu um cantinho na equipe. O atacante, por razão óbvia: nem sequer foi pré-convocado para ir à África do Sul. Paulo Henrique Ganso constava na lista dos 30.
Influentes na Seleção, Daniel Alves e Dunga abraçaram Tite. Jogaram por eles — e por ele — nesses 22 meses de trabalho. Encheram a bola do técnico nas entrevistas. Deixaram claro que, enfim, estão felizes da vida na Seleção Brasileira.
Diante disso, ouso dizer que Daniel Alves fará mais falta a Neymar do que ao Brasil na Copa. São unha e carne. O lateral sabe muito bem como funciona o parça. Guardadas as devidas proporções, está para Neymar como Dunga para Romário no tetra de 1994; ou Roberto Carlos para Ronaldo no penta de 2002. Lembra-se dos beijos na careca do lateral a cada gol da Seleção? Havia cumplicidade.
A ausência de Daniel Alves na Rússia desafia Neymar a provar na Copa que finalmente amadureceu. O “tiozão” que o introduziu no grupo do Barcelona, o tornou amigo de Messi, Luis Suárez & Cia., e o blindou nas quedas de braço com Cavani e o técnico Unai Emery, não estará por perto. Daniel Alves é o o cara que sabe acelerar e frear a estrela. É ouvido por ele. Portanto, qual será o astral do camisa 10 no Mundial?
Neymar fica sem o maior parça. Tite, que azar, perde mais do que um dos melhores laterais do mundo. Não contará com o jogador que mais usou a braçadeira de capitão em jogos grandes, com o cara que estava em sintonia com Paulinho — as duas assistências na era Tite foram para o volante. Sem o homem da virada de bola, da experiência de duas Copas, que impõe respeito aos adversários e ostenta um dos currículos mais vitoriosos do futebol: 38 títulos.
Independentemente da escolha, Tite terá um lateral-direito estreante na Copa. Danilo, Fágner e Rafinha jamais disputaram a Copa. Dos três, Rafinha é quem tem o estilo mais parecido com o de Daniel Alves. Inclusive gosta de tocar e cantar pagode para alegrar o ambiente na concentração. Minha segunda opção seria Danilo, que evoluiu muito sob a batuta de Pep Guardiola. A favor de Fágner, o fato de ter sido comandado por Tite e um número que pode pesar bastante na balança. Na ausência de Daniel Alves, o jogador do Corinthians foi quem mais jogou na lateral direita — quatro jogos, ou 273 minutos no total.
É uma pena que Fabinho, do Monaco, não tenha sido testado. Marcos Rocha e Mariano foram até relacionados na era Tite, mas são zebras a dois dias de uma convocação que, até então, dava pinta de que seria meramente protocolar, e de uma hora para outra virou um grande suspense de Alfred Hitchcock. Para sorte dos que sofrem de ansiedade, os nomes dos laterais escolhidos por Tite serão conhecidos logo depois dos goleiros.
Que os deuses do futebol o iluminem, Adenor!