Entenda o que o estilo de Coman, herói do Bayern, tem a ver com as ideias de Domènec Torrent para o Flamengo

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Herói do sexto título do Bayern de Munique na vitória por 1 x 0 sobre o Paris Saint-Germain, Kingsley Coman desembarcou no clube alemão, em 30 de agosto de 2015, na gestão de Pep Guardiola. Um dos auxiliares dele era Domènec Torrent. Sempre houve um consenso nas comissões técnicas lideradas pelo catalão de que os elencos dele necessitam de pontas. O que isso tem a ver com o Flamengo? Ouso afirmar que Dome sente falta de um “Coman” no time.

Antes da apresentação do sucessor de Jorge Jesus, mostrei no blog que Domènec Torrent é devoto do cruyffismo. Adora o sistema tático 4-3-3. O conceito dele é bem holandês: dois pontas abertos e um centroavante ou falso 9. Ele é apaixonado por jogadores eficientes no um contra um capazes de chegar à linha de fundo e cruzar. Nem sempre precisa ser um craque, um fora de série. Mostrei o quanto ele gostava, por exemplo, de Isaac Cuenca nos tempos de assistente de Pep no Barcelona.

“Eu gosto de jogadores rápidos e capazes de desequilibrar no um contra um. Isaac Cuenca (ex-Barcelona, atualmente no Vegalta Sendai do Japão) tinha essa virtude. Você dava a bola para ele, ele encarava o adversário, driblava e cruzava. Era o suficiente”, elogiou, em fevereiro do ano passado, em uma bela entrevista ao colega catalão Joan Domènec do jornal El Periódico.

Dome procura esse jogador no elenco para desenvolver seus conceitos de jogo. Hoje, só vejo um com essa característica: Michael. Bruno Henrique, Vitinho e Pedro Rocha não são esses caras. Vendido ao Real Madrid, Vinicius Junior seria. Driblador, insinuante, abusado no mano a mano com o marcador. A obsessão por um nome com essa característica pode minar o trabalho do treinador rubro-negro. Além de colocar jogadores fora de posição nas tentativas de erro e acerto, Dome não tem confiança no “peladeiro” Michael. Para mim, isso está claro. Usou o jogador por 17 minutos no fim da derrota por 1 x 0 para o Atlético-MG na primeira rodada do Brasileirão.

“Tive um pesadelo: sonhei com o centro de Coman. A bola chegava, ele driblava e cruzava, mas a bola ia para a torcida”. Pep Guardiola, em depoimento ao livro Pep Guardiola: A Evolução, na véspera da virada épica contra a Juventus comandada pelo ponta emprestado pelo time italiano ao Bayern de Munique a pedido da comissão técnica do treinador catalão

Imagino três desfechos para essa novela. A primeira é Dome cair na real e se adaptar ao que tem. Se quer tanto um ou dois pontas em vez de falsos pontas que jogam por dentro, como Éverton Ribeiro, um deles tem que ser Michael. Dime está disposto a comprar essa briga? A segunda alternativa é Dome pedir e indicar um reforço com o perfil imaginado por ele, ou seja, um cara com perfil parecido com o de Coman. O Flamengo iria ao mercado? A terceira hipótese é Dome seguir improvisando, aumentar o desgaste com o elenco e perder o emprego.

O técnico do Flamengo não demonstra muito interesse em se adaptar ao elenco do Flamengo. Ao que parece, está disposto a impor os conceitos dele grupo. Isso levará tempo, demandará material humano diferente do oferecido, atualmente, pelo Flamengo, e até dar certo pode afastar o time do pelotão de elite do Brasileirão. A diretoria toparia comprar essa briga?

Guardiola e Torrent sabiam exatamente o que desejavam quando pediram o empréstimo — e depois a contratação de Coman. Prova disso, é a virada incrível do Bayern de Munique contra a Juventus nas oitavas de final da Champions League de 2015/2016. Ousado, Guardiola arriscou unir dois pontas abertos na direita — o brasileiro Douglas Costa e o francês Coman. As tramas entre eles sufocaram o adversário.

Houve empate por 2 x 2 na partida de ida, em Turim. Na volta, a Velha Senhora abriu 2 x 0 e tomou a virada por 4 x 2 na prorrogação. Coman acabou com jogo (assista ao vídeo). Participou do segundo e do terceiro gol e fez o quarto, ou seja, o da classificação para as quartas de final. Atuou aberto como ponta-direita e bagunçou a forte defesa da Juventus organizada por Massimiliano Allegri.

Coman é um dos símbolos do pensamento de Torrent. Não estou dizendo que ele precisa contratar o jovem francês revelado pelo PSG — óbvio que não. Mas tenha certeza: se ele contasse com um “Coman” no elenco do Flamengo, provavelmente esse jogador seria um dos intocáveis de Dome no time rubro-negro. Não se engane: parte do sucesso ou não do treinador na passagem pelo Brasil depende dos pontas.

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Marcos Paulo Lima

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