As últimas quatro seleções campeãs da Copa do Mundo não tinham um jogador fora de série. Coincidentemente, todas elas europeias: Itália (2006), Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018). O jogo coletivo sobrepôs o individualismo, a expectativa por um super-herói capaz de resolver tudo sozinho. Os vencedores da Eurocopa no século também tiveram como marca a dependência do conjunto. Grécia (2004), Espanha (2008 e 2012) e Portugal (2016) atuavam com 11 guerreiros. Basta lembrar que os lusitanos conquistaram a última edição contra a França, no Stade de France, sem Cristiano Ronaldo. O português havia se machucado no início do primeiro tempo e foi substituído.
Disputada paralelamente à Eurocopa, a Copa América mostra o contrário. Embora tenha sido campeão do torneio em 2019 sem Neymar, o Brasil continua dependente do astro para as assistências, gols, dribles e um pouco de plasticidade no jogo. A beleza do jogo da Seleção é fundamental com Neymar em campo. Nas últimas quatro partidas, o craque fez quatro gols e deu duas assistências. Inegavelmente, está jogando muito com a camisa verde-amarela.
Lionel Messi foi decisivo na estreia da Argentina ao marcar um golaço de falta no estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro. Fez a diferença novamente no triunfo contra o Uruguai na noite desta sexta-feira, no Mané Garrincha. Foi dele a assistência para o gol de Guido Rodríguez. Nas últimas quatro exibições, balançou a rede duas vezes e deu uma assistência.
O Uruguai continua dependente da dupla Suárez e Cavani. A Celeste entra em parafuso quando a marcação adversária encaixota os dois atacantes e o time não acha suas referências em campo. Falta jogo coletivo. É meio que bola no Suárez e no Cavani e vamos lá. Quando não acontece, o time vira um deserto de ideias. E olha que o Uruguai tem potencial para entregar bem mais do que tem apresentado nas Eliminatórias e ofereceu na estreia na Copa América.
Sim, algumas seleções europeias têm jogadores acima da média. Mbappé é genial, mas parece mais um no timaço organizadíssimo liderado por Didier Deschamps. A individualidade dele aparece em meio a um jogo coletivo. Portugal já foi Cristiano Ronaldo por todos e todos por Cristiano Ronaldo, mas isso mudou. A geração lusitana é talentosíssima. Fernando Santos conseguiu transformá-la em time capaz de potencializar ainda mais a sua maior estrela.
As melhores seleções da Eurocopa, até agora, jogam coletivamente. Tenho me deliciado com a Itália, de Roberto Mancini. Apreciado a Holanda, de Frank de Boer. É divertido demais ver a Bélgica. Citei França e Portugal anteriormente.
Espero, sinceramente, que Brasil, Argentina e Uruguai aproveitem os jogos treino da primeira fase da Copa América para aprimorar o jogo coletivo. Se continuarem dependendo somente da genialidade de Neymar, Messi, Suárez ou Cavani, as seleções do continente arriscam ver a Europa empilhar o quinto título consecutivo na Copa do Mundo do Qatar-2022.
Pode até acontecer novamente no ano que vem, mas aquelas imagens de Maradona, Romário ou Ronaldo Fenômeno colocando a bola debaixo do braço e decidindo a Copa “sozinho” é cada vez mais rara em competições que exigem muito mais que um gênio. Cobram um time.
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