O pedido de Gianni Infantino para que cada uma das 211 federações filiadas batize ao menos um estádio com o nome de Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, soa politicamente simpática, mas depende de muitos atores — e até mesmo fere a soberania dos sócios da Família Fifa para reverenciar seus próprios heróis. Camarões tem seu “Pelé” (Samuel Eto’o). A Costa do Marfim tem seu “Pelé” (Didier Drogba) e por aí vai…
Portanto, o presidente da Fifa perdeu a chance de iniciar a série de homenagens da entidade máxima do futebol fazendo o que depende da caneta dele e não de 211 presidentes de federação. Aí vai a minha sugestão: por que não mudar o nome do prêmio máximo da festa de gala anual da Fifa de The Best para Fifa Pelé? Simples assim. A NBA é uma inspiração. O MVP, prêmio entregue ao Most Valuable Player (MVP) — Jogador Mais Valioso das Finais — chama-se Bill Russell, tributo a um dos reis do basquete.
Se há Puskás pelo gol mais bonito e Lev Yashin para o goleiro do ano, nada mais justo do que “Fifa Pelé” virar sinônimo de The Best, adjetivo de excelência para aferir o jogador eleito número 1 do mundo. Nunca é tarde. Há tempo, Infantino. A cerimônia referente à temporada 2022 ainda não aconteceu. Está programada para 27 de fevereiro, na Suíça. Barbada na eleição depois da Copa, Lionel Messi seria o primeiro a receber o “Fifa Pelé”.
Em vez de escolher o que só depende dele, Infantino preferiu terceirizar responsabilidades. A ideia simpática de pedir um estádio batizado de Pelé em cada uma das 211 nações esbarra em um adversário muito respeitado pelo departamento jurídico da Fifa: os negócios. As homenagens aos ídolos do futebol concorrem cada vez mais com os milionários contratos comerciais. Os naming rights são um deles.
Houve polêmica, por exemplo, em Amsterdã. Johan Cruyff, maior ídolo da história do país, morreu em 24 de março de 2016 depois de perder a luta contra o câncer de pulmão. Praticamente um ano depois, a Câmara de Amsterdã propôs trocar o nome do principal estádio do país de Amsterdam Arena para Johan Cruyff Arena a fim de homenagear o ícone do futebol total no ano em que ele completaria 70 anos de idade.
O principal estádio da Holanda é administrado por três atores. O município da capital holandesa ostenta 48% por causa da cessão do terreno. Os investidores têm 39% e o “dono da casa” Ajax, 13%. Jamais houve reclamação pública contra a proposta, mas houve debate durante um ano para evitar desgastes. A arena só passou a se chamar oficialmente Johan Cruyff em 5 de abril de 2018, dois anos depois da morte de Cruyff.
Jogadores extraclasse costumam ter pelo menos um estádio com seus nomes. Pelé teve duas homenagens em vida no Brasil. Maceió inaugurou o Rei Pelé em 25 de outubro de 1970, ou seja, três meses da conquista do tricampeonato do Brasil na Copa do México. O Pelezão, em Brasília, saiu do papel em 21 de abril de 1965 parcialmente e foi 100% concluído onze meses depois, em 31 de março de 1966. Demolida, a arena deu lugar a conjuntos habitacionais no terreno vizinho ao ParkShopping e ao Carrefour. Mané Garrincha tem o nome dele preservado na Arena BRB Mané Garrincha, principal estádio da capital.
Maior astro da história do futebol húngaro, Ferenc Puskás dá nome à Puskás Arena, o principal estádio de Budapeste. Reconstruído no lugar do antigo Estádio Ferenc Puskás, o palco recebeu quatro partidas da última edição da Eurocopa, em 2020.
Idolatrado na Argentina e na Espanha, Alfredo Di Stéfano dá nome ao estádio utilizado pelo Real Madrid durante a reforma do Santiago Bernabéu. Diego Armando Maradona é o nome da casa do Argentinos Juniors e do Napoli. O clube italiano mudou rapidamente o nome do estádio conhecido como San Paolo depois da morte do maior ídolo da história do clube.
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