54052854961_a4c2765b9e_c Willian Pereira Rogatto disse ter operado em manipulações em todo o Brasil. Foto: Jefferson Rudy/Ag. Senado Willian Pereira Rogatto disse ter operado em manipulações em todo o Brasil. Foto: Jefferson Rudy/Ag. Senado

Em depoimento bombástico, William Rogatto assume manipulação no Candangão

Publicado em Esporte

O Candangão 2024 teve partidas adulteradas. A afirmação é de William Pereira Rogatto, “réu” confesso no depoimento desta terça-feira na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportiva no Senado Federal. Em depoimento remoto, ele entrou na condição de suspeito de adulterar partidas do Campeonato do Distrito Federal nesta temporada nas operações Fim de Jogo do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e Jogada Ensaiada da Polícia Federal e foi além: admitiu ter contaminado partidas de competições nas 26 unidades da federação e no DF, ter usado presidentes de federação, de clubes, uma agência de jogadores, árbitros e até políticos para operar o esquema e ironizou. “Os presidentes vão ficar p… comigo”.

 

William Pereira Rogatto admitiu ter operado não somente no Candangão, mas em todos os estaduais do país. Pediu desculpas à presidente do Santa Maria, clube rebaixado nesta temporada no Cadangão e fez acusações dando nomes a possíveis facilitadores do esquema de corrupção no Brasil. A CPI ofereceu delação premiada à testemunha. O depoente aceitou encontrar-se pessoalmente com representantes da CPI e prometeu mais revelações.

 

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“Eu sou a máquina que está oferecendo dinheiro mais fácil para o atleta e dando dignidade para o cara dar de comer à família dele. Será que eu sou tão errado assim? Fui um dos maiores. Se não o maior, um dos mais organizados. Eu já trabalhei e operei nas 26 unidades da federação e no Distrito Federal. Inclusive, no Distrito, foi onde eu bati de frente com um cara muito forte. Aí, a gente vai naquela luta de poder. Eu perdi e fiquei exposto. O presidente da federação (de Futebol do DF) foi o cara que mais me apoiou em tudo o que eu fiz”, acusou.

 

Ele acrescentou no depoimento bombástico. “Estou aqui para pedir desculpa para a presidente do Santa Maria e ao marido dela (Erivaldo Alves), que tem um problema de saúde gravíssimo. O Daniel nem teve o composto de entender isso e me fez chegar e aproveitar, porque eles não tinham dinheiro. Eu enganei a presidente (Dayane Nunes). Perdão por ter enganado ela (sic), mas era o meu trabalho. Eu sempre enganei os presidentes. O Daniel me fez chegar nesse clube, que eu fizesse. Facilitou os jogos. Digo os jogos que fiz sem problema com o apoio dele”, detonou William Pereira Rogatto.

 

O blog entrou em contato com o presidente da FFDF para ouvi-lo sobre as acusações depois das declarações de Rogatto. “Quem ele fala que o apresentou à Dayana? Nunca tive o contato dele. Não sei quem é. Não recebi nem fiz ligação. Podem quebrar o meu sigilo bancário, telefônico… Nunca o vi, defende-se Daniel Vasconcelos. “Como presidente de federação não posso indicar ninguém a clube nenhum. A presidente do Santa Maria (Dayana Nunes)  falou a verdade de como foi (no depoimento desta tarde). Ela disse que o treinador (do Santa Maria à época, Christian Ramos) indicou (William Rogatto). Quem tomou todas as providências necessárias para fui eu. Chegou relatório da Sports Radar (empresa de monitoramento de integridade parceira da FFDF). Encaminhei para o Ministério Público do DF e Territórios e para o TJD. Fui ouvido no Gaeco por conta disso tudo. Estou bem tranquilo. Nunca recebi nem fiz ligação para esse cara. Em momento algum nem o citei. Não tenho poder de investigação”, afirmou.

 

O depoente foi direto ao falar sobre a situação do Candangão. “Hoje, o Candangão tem um dono só, e ele é muito poderoso. Não vou bater de frente com ele. Tem três clubes. Todos os votos são dele. Três clubes já é manipulação. Estou com um time topo aqui e começo com seis pontos. O sistema é muito além do que estamos fazendo aqui”, afirmou Rogatto. “Essa entrevista pode acabar com a minha vida. Não é de agora. Me pegaram em 2020. Tem tanta coisa minha… Estou há 13 anos nisso. O sistema pode acabar comigo, mas não vai acabar”, afirmou. O presidente da FFDF preferiu não comentar. “Quanto às outras acusações, não dizem respeito a mim”.

 

William Rogatto diz ter rebaixado 42 times e lucrado R$ 300 milhões

 

Questionado mais de uma vez se manipulou resultados no futebol brasileiro, Rogatto foi curto e grosso: “Procede, estou aberto falando para você. Rebaixei 42 times e sou conhecido como rei do rebaixamento, mas não dá para ganhar dinheiro sem rebaixá-los. Não estou matando ninguém, roubando ninguém, o sistema é falho. Estou indo contra o sistema. A criação da máquina me favoreceu, encontrei a brecha”.

 

Deflagrada em março do ano passada com apuração do Gaeco, a Operação Fim de Jogo colocou em xeque a integridade do Candangão 2024. William Pereira Rogatto seria o mentor do esquema de manipulação. O Santa Maria seria a fábrica de resultados adulterados na competição.  Convidado pelo senado, Rogatto teve o nome mencionado em escândalos na Série A3 do Campeonato Paulista em 2020. No Santa Maria, os jogadores Alexandre Damasceno e Nathan Silva seriam os elos de um suposto esquema implementado por ele.

 

Pelo menos duas partidas colocaram o Candangão deste ano sob suspeita. Em 3 de fevereiro, o Santa Maria perdeu por 6 x 0 para o Ceilândia na fase classificatória. Quinze dias depois, sofreu 5 x 0 diante do Gama. Na outra ponta do esquema, apostadores souberam antecipadamente dos acertos para a fraude nas respectivas partidas. Um terceiro resultado entrou na pauta: a derrota por 7 x 1 para o Capital.

 

As investigações encontraram links entre William Pereira Rogatto e a gestão administrativa do Santa Maria. À época, a Justiça expediu ordens de busca, apreensão e prisão preventiva contra Rogatto. À época, ele morava na Europa.

 

As convocações foram sugeridas pelo senador Romário (PL-RJ), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito. O ex-jogador citou no requerimento trechos da apuração do Ministério Público do DF e Territórios. “Tem operado na clandestinidade como manipulador profissional mediante a cooptação de jogadores, a venda de resultados arranjados e a realização de apostas”, sustenta Romário na petição. “Aparece em interceptações de mensagens, mencionando pagamentos a jogadores aliciados, realizando apostas fraudulentas e conversando com interlocutores sobre os lucros obtidos”, conclui.

 

A presença de Dayana Nunes foi solicitada pelo senador Carlos Portinho (PL-RJ). Ele deseja que a dirigente, esposa do ex-presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), Erivaldo Alves, se manifeste sobre a suspeita de manipulação no Santa Maria.

 

Nota da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF)

Em relação às acusações do Sr. William Pereira Rogatto à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas no Senado Federal, na tarde desta terça-feira (8), de que o presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), Daniel Vasconcelos, tenha o assistido nas ações irregulares durante o Candangão 2024, esta entidade declara que:

Daniel Vasconcelos jamais teve o contato e assim, em momento algum manteve ligação com o depoente. A própria presidente da Sociedade Esportiva Santa Maria, clube investigado, Dayana Nunes, revelou que a ponte para as apresentações das partes foi feita pelo seu treinador à época.

Ademais, o presidente Daniel inclusive levou o relatório da Sport Radar, empresa responsável por monitorar possíveis casos de manipulação, ao conhecimento do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e ao Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal (TJD-DF), além de depor como colaborador no Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (GAECO). Assim sendo, o presidente da FFDF reitera seu apoio às investigações, estando disponível para quaisquer esclarecimentos seja à CPI do Senado Federal, ou a todos os demais órgãos envolvidos na tentativa de esclarecer e punir os responsáveis pelos crimes de manipulação de jogos no futebol.

 

 

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