Ele usava chapéu, gravatinha borboleta, óculos e carregava na bolsa um cheque de 222 milhões de euros, aproximadamente R$ 821 milhões. Se Neymar foi liberado para jogar pelo Paris Saint-Germain, deve em parte ao jogo de cintura de um craque apelidado até de “Messi da Advocacia” nos bastidores da bola, e agora pode ressuscitar o sonho de Paolo Guerrero disputar a Copa de 2018.
Advogado espanhol especializado em direito esportivo, Juan de Dios Crespo Pérez, 57, é o novo reforço da equipe de defesa que pretende provar a inocência de Paolo Guerrero — flagrado no exame antidoping no empate por 0 x 0 com a Argentina nas Eliminatórias para a Copa de 2018. Segundo o jornal La República, do Peru, Juan de Dios Crespo atuará em parceria com os brasileiros Bichara Neto e Marcos Motta na apresentação do recurso de Guerrero na Fifa e na Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês).
Lembra dele? Juan de Dios Crespo é o homem que bateu na porta do Barcelona para sacramentar a maior transação da história do futebol. O personagem é o mesmo que deu vitória a Messi contra a Fifa neste ano, defendeu Luis Suárez no episódio da mordida em Chiellini após a Copa de 2014, reduziu pena por uso de cocaína de jogador equatoriano, representou até a CBF no passado e vai entrar de cabeça na novela Guerrero.
Dono do PSG, o xeque Nasser Al-Khelaifi não queria seus petrodólares nas mãos de um profissional qualquer. Ciente de que Juan de Dios Crespo tem no currículo o cancelamento de uma sanção da Fifa a Lionel Messi nas Eliminatórias da Copa de 2018, a diminuição da pena de José Angulo por doping de cocaína — caso parecido com o de Guerrero — e o triunfo de um jogador do Universitario, do Peru, numa batalha judicial do Genoa, da Itália, o xeque entregou o cheque a quem saberia exatamente como lidar com a Liga de Futebol Profissional (LFP) da Espanha e o Barcelona.
Juan de Dios Crespo bateu primeiro na porta da LFP. A entidade que comanda o Campeonato Espanhol não aceitou receber os R$ 821 milhões. Frio e calculista, dirigiu até a sede do Barcelona e cumpriu mais uma das inúmeras missões. Provavelmente, o pagamento da contratação de Neymar foi a tarefa mais fácil da carreira.
O homem do chapéu e gravata borboleta nasceu em Madri, mas começou no direito em Valencia. Cinco anos depois, montou um dos maiores escritórios da Espanha — o Ruiz-Huerta & Crespo. A empresa virou referência no mundo da bola, principalmente devido à trajetória e ao fácil trânsito de Juan de Dios Crespo nos bastidores do esporte. A facilidade com direito esportivo, direito internacional comercial e a facilidade com idiomas o fizeram assumir mais de 200 casos na Corte Arbitral do Esporte e assessorar atletas e clubes em transferências. O último serviço foi prestado justamente a Neymar e ao PSG no negócio do ano com o Barcelona.
Neste ano, Juan de Dios Crespo conseguiu uma das vitórias mais badaladas da carreira. A Fifa suspendeu Messi com o gancho de quatro partidas em jogos oficiais da Argentina devido a uma discussão com o assistente brasileiro de arbitragem Emerson Carvalho, na vitória dos hermanos sobre o Chile, em 23 de março, pelas Eliminatórias. A Associação de Futebol Argentina (AFA) e Messi contrataram o profissional para representá-lo na apelação apresentada à Fifa e marcaram um gol de placa derrubando o castigo. “Foi o caso mais midiático por se tratar do melhor jogador do mundo”, brincou Crespo em junho. “A sanção a Messi era difícil de digerir.”
Na América do Sul, o escritório do advogado espanhol também representou o Universitario, do Peru, numa batalha judicial de cinco jogadores peruanos contra o Genoa. Um deles, Andy Polo, ganhou a queda de braço e teve o direito a receber US$ 1,4 milhões do clube italiano. O Bahia também o contratou no Caso Victor Ramos. No passado, o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, também requisitou o trabalho do profissional.
Em 2016, o equatoriano José Angulo, do Granada, testou positivo para uso de cocaína e foi suspenso pela Fifa por dois anos. Contratado pelo jogador, o escritório de Crespo reduziu a pena pela metade, para um ano, e o jogador voltou a treinar dois meses antes. Crespo provou que o doping não foi intencional.
Os triunfos da empresa Ruiz-Huerta & Crespo nos bastidores do esporte não se resumem a jogadores e ex-atletas como Zidane, Sorín, Agüero, Morientes, Sissoko, Messi e a clubes de futebol. Há triunfos no rúgbi, judô, badminton, handebol, futebol de salão… Algumas história e comentários viraram até livro. Juan de Dios Crespo chegou a ser eleito o 13º melhor advogado da Europa em um ranking elaborado pela Chambers e Partners.