Dubois Richard Dubois, CEO da Arena BSB. Foto: Valério Ayres/CB/D.A Press Richard Dubois, CEO da Arena BSB. Foto: Valério Ayres/CB/D.A Press

Supercopa do Brasil: “É o Super Bowl brasileiro”, diz CEO da Arena BSB, nova gestora do Mané Garrincha

Publicado em Esporte

Ele é paulista, torcedor do Palmeiras e acaba de assumir uma missão (quase) impossível: incorporar Midas, personagem da mitologia grega que transformava em ouro tudo o que tocava. A missão é tornar o Mané Garrincha, elefante branco mais caro da Copa do Mundo de 2014, construído por R$ 1,7 bilhão, em um elefante dourado: uma máquina de fazer dinheiro. O teste para a nova gestão começou no último sábado, com a realização do evento evangélico The Send Brasil. Embora o palco e o tablado montados para o culto religioso tenham deixado rastros para a final da Supercopa do Brasil entre os campeões do Brasileirão (Flamengo) e da Copa do Brasil (Athletico-PR) neste domingo, às 11h, Richard Dubois comemora o sucesso operacional. O próximo passo é gerenciar o primeiro evento esportivo sob a direção do Consórcio Arena BSB. Em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense*, o CEO se empolgou ao comparar a final em jogo único da CBF ao Super Bowl, megaevento do futebol americano. Animado com a concessão por 35 anos, ou seja, até 2055, ele jura que o modelo da gestão do Mané Garrincha não repetirá o fracasso da privatização do Maracanã. Firmado em 2013, o acordo chegou ao fim no ano passado. O Governo do Rio reclamou de dívidas que chegaram a R$ 38 milhões e rompeu o contrato com a IMX-Holding S.A. Animado, ele anuncia a construção de um ginásio moderno, fala sobre os planos para o Nilson Nelson e promete realizar no Mané Garrincha um duelo entre medalhões do tênis como o que aconteceu no último dia 6, na Cidade do Cabo, entre os astros Roger Federer e Rafael Nadal.

 

A Supercopa do Brasil é o primeiro evento esportivo da Arena BSB. Quais é a expectativa?
Já começamos com um evento de grandes dimensões. Provavelmente o jogo mais relevante do início do ano, porque é o campeão do Brasileirão (Flamengo) contra o da Copa do Brasil (Athletico-PR). Será o “Super Bowl brasileiro”, o jogo que une os dois times, e vamos ver quem é o grande time de 2020. Fizemos muitas mexidas (no Mané Garrincha), muitas novidades para o torcedor. O que é bom a gente manteve, a visibilidade, o acesso fácil, mas melhoramos muito a comodidade e, especialmente, a segurança dos atletas e das delegações. Estamos torcendo por casa cheia. As catracas voltaram a funcionar. A gente vai saber instantaneamente qual o público no estádio. Os órgãos de segurança terão acesso. Isso já funcionou no fim de semana passado (no The Send Brasil). Minuto a minuto, a gente tem a entrada por catraca, o que adiciona segurança e tranquilidade ao torcedor.

 

Mesmo com quatro clubes gigantes, a concessão no Rio entrou em colapso. Qual é a garantia de que dará certo em Brasília, uma cidade sem time de massa?
A existência de times de futebol de massa não garante a rentabilidade do estádio. O futebol em si, a renda, a bilheteria do jogo, é do time, assim como a do artista não é do estádio. A gente precisa ativar, trazer outros eventos. O Maracanã é um estádio fantástico, estamos até disputando a concessão. Operamos 18 arenas no mundo, então, nós temos alguma experiência nisso. O segredo da operação é trazer conteúdo e potencializar o entorno. O estádio funciona como a ponta do iceberg, mas a rentabilidade vem de uma equação complexa. O fato de não ter times (em Brasília), a gente tem 35 anos de contrato. Esperamos que tenhamos times. Estamos incentivando o Candangão, que dava prejuízo ao GDF e encontramos uma solução em que teremos jogos lá rapidamente. Só preservamos agora por causa da Supercopa. Teremos jogos do Candangão e do Brasileiro. Se não tivermos quantidade, teremos qualidade.

 

Qual é a garantia de que a concessão não dará prejuízo ao governo?
Muitas PPP’s não deram certo porque o estado empurrava o mico para cima do setor privado. No Mané Garrincha, existe uma equação viável de rentabilidade. Nosso grupo econômico não tem o problema de outras, que se envolveram com problemas do Brasil. Já está funcionando. Trouxemos nos primeiros 60 dias meio milhão de torcedores. Shows internacionais, jogo da Seleção Brasileira neste ano (em setembro, contra a Venezuela, pelas Eliminatórias). Quem for ao estádio no domingo vai ver um estádio renovado, com uma série de benfeitorias. Está em uma situação melhor do que nós recebemos. Essa concessão tem um risco muito baixo para o governo. Se não der certo, os grandes prejudicados seremos nós, concessionários, que colocamos dinheiro. O projeto é sólido. O intuito do GDF é ajudar o privado a andar, o Estado, o poder público e o privado trabalharam de forma coordenada. A Supercopa é um exemplo. Acertamos com uma tríplice aliança (Arena BSB, Federação de Futebol do Distrito Federal e GDF) para fazer acontecer.

 

Começamos com um evento de grandes dimensões. Provavelmente o jogo mais relevante do início do ano, porque é o campeão do Brasileirão (Flamengo) contra o da Copa do Brasil (Athletico-PR). Será o “Super Bowl brasileiro”, o jogo que une os dois times, e vamos ver quem é o grande time de 2020.

 

Você acha que a sociedade vai se engajar nesse projeto com o passar do tempo?
Acho que sim. Os benefícios (com a privatização do Mané Garrincha) são claros. Mais conforto, comodidade, segurança e conteúdo. A destinação de recursos que iam para o estádio vão para bens maiores, prioridades. O dinheiro do cidadão vai para outras áreas que o governo ache melhor. Neste mês, estamos pagando, por exemplo, R$ 120 mil de conta de luz que eram pagos pela Terracap. Vai sobrar dinheiro para investimentos. Mais R$ 60 mil de conta de água. Um total de quase R$ 1 milhão do contribuinte será alocado em outra área. É o grande benefício que a população, talvez, não tenha tangibilidade. Houve a privatização da telefonia. Ninguém tem saudade. As estradas de São Paulo são pedagiadas. Pergunte aos paulistas se querem voltar ao tempo antigo. O ser humano não gosta de pagar, mas diante de um mau serviço, admite pagar por um bom serviço. O Aeroporto de Brasília era um caos. Hoje, é motivo de orgulho. Esperamos ser também em quatro, cinco anos.

 

Quanto a Arena BSB cobra pelo aluguel do Mané Garrincha?
Temos um valor muito baixo, porque o nosso objetivo é volume. Estamos praticando preços muito atraentes, tão baixos que chega a ser economicamente irrelevante para o custo do jogo e da arena. Para mostrarmos bom serviço, devemos estar com a casa cheia. A vantagem do setor privado é a negociação. Agora, temos mais alimentos. Publicidade, bebidas, comidas, estacionamento. Não é apenas o ingresso. Vai depender do contratante para saber como ele vai querer. Alguns querem ficar com alimento e bebida, portanto, aluguel de um espaço um pouco maior, dividem em percentuais. A flexibilidade é muito boa para os promotores. Cada um tem um risco. Estamos sempre olhando para um valor global que está ficando muito em linha do que o GDF cobrava, mas com regras diferentes.

 

Como fechar naming rights em um país que se recusa a citar a marca? A Arena Fonte Nova, por exemplo, virou Arena Itaipava, e jamais foi chamada assim pela mídia. E aqui pode virar Arena BRB…
O rumor da Arena BRB até soa bem, mas o caminho não é assim. Um dos nossos investidores é a Amsterdam Arena, que administra o estádio cujo nome esportivo é Johan Cruyff Arena. A arena tem o naming rights de Heineken. Quando estamos falando de negócio é arena Heineken, quando é do ponto de vista esportivo, Johan Cruyff. Nós temos prazer em ter um local chamado de Mané Garrincha. Quando a noiva casa, ela não precisa apagar o nome de solteiro, acrescenta o novo nome. Podemos ter um nome mais completo. O naming rights é muito mais do que somente o nome, é um pacote. Dá nome, publicidade interna, exclusividade, produtos. Ou seja, um pacote de ativação. Estamos com uma consultoria internacional para um naming rights com padrão europeu. São outros benefícios. Não cairemos no erro de mudar de nome, vamos acrescentar e esperar que a mídia reconheça esse valor. Mas dependemos de uma negociação ainda.

 

Queremos trazer dois medalhões para bater o recorde de público (51.954 na Cidade do Cabo) em uma partida de tênis numa arena de futebol da Copa

 

Haverá espaço para parcerias sociais de inclusão da população?
Existe uma contrapartida social desde o início, que é o Cláudio Coutinho, que recebe famílias de estudantes que usufruem do espaço de forma gratuita. Nós vamos manter a gratuidade, assumir toda a gestão das benfeitorias, do maquinário. Isso nasceu no projeto. Temos outras ideias, como o incentivo ao Candangão, que nos dá prejuízo, mas nos dá visibilidade. Podemos até patrocinar a carreira de um atleta, o futebol é autossustentável. Mas os individuais são mais complicados de apoio em Brasília. Queremos convênios com escolas, estudantes de uma universidade farão o tour pelo estádio, que continuará gratuito.

 

Pensam na modernização do Nilson Nelson ou na construção de um novo ginásio?
Temos dois caminhos sendo avaliados, quando souber eu conto (risos). O Nilson Nelson foi construído na década de 1970 para a década de 1970. São 50 anos. Há uma série de ineficiências para grandes eventos. Queremos receber as nossas seleções de vôlei e de basquete com mais conforto. Exemplo: o ginásio não tem vestiário, os banheiros são muito ruins. Vamos ter UFC lá e está desatualizada.. Não é uma arena adequada para 2020. Construiremos uma arena adequada para a capital do Brasil. Ele (Nilson Nelson) pode até ser demolido ou manter com reformas. Isso depende da arquitetura e da engenharia. Queremos que a população entenda que precisamos de um ginásio maior e mais novo. Evoluir sem perder a essência. Não podemos ficar com puxadinho por mais 35 anos. Construiremos um novo ginásio, essa decisão está tomada. Quanto ao Nilson Nelson, estamos em debate.

 

Vocês não temem comprar uma briga com os puristas da cidade?
O povo mais conservador que eu conheço é o inglês, arraigado a tradições. Eles derrubaram Wembley e construíram outro no lugar. O estádio não funcionava. Se o povo inglês fez isso, o brasiliense vai atender. Respeitamos demais a arquitetura de Brasília, mas eles têm um ciclo de vida. Ficaremos aqui até 2055.

 

Essa concessão tem um risco muito baixo para o governo. Se não der certo, os grandes prejudicados seremos nós, concessionários

O evento The Send Brasil deixou rastros no gramado para a Supercopa. O piso sintético diminuiria esse problema?
Diminuiria. O gramado sintético no Mané é quase uma discussão de time de futebol. Sem fim, sem certo e errado. Economicamente, é muito mais interessante o gramado sintético. Permite a mudança da configuração de evento para configuração esportiva rapidamente. A gente tem tecnologia. Com tecnologia e com gestão, a gente consegue manter o gramado em um nível bom. Com gestão e atuação, é possível, sim. Não havia, na época do GDF, uma renda extra para deixar o gramado em bom estado. Está custando muito mais caro, mas é possível.

 

E a situação do autódromo? Há esperança de reativá-lo e receber um grande evento?
Não tenho controle sobre o caminho que está sendo seguido. Tem uma rentabilidade muito pior. A PPP do autódromo está em curso e houve uma manifestação do governo que queria um autódromo mais capaz de receber eventos internacionais. A nossa proposta é de que o autódromo seja FIA 3 para provas nacionais e sul-americanas, ou seja, sem condições de receber a Fórmula 1. A gente consegue colocar eventos nacionais, como Fórmula 3, Stock Car e Fórmula E. Na nossa visão, esse retorno econômico de provas internacionais não é viável. Se Brasília quiser um autódromo FIA 3, temos todo o interesse. O governo decide se quer investir, se quer colocar mais dinheiro.

 

Construiremos uma arena adequada para a capital do Brasil. Ele (Nilson Nelson) pode até ser demolido ou manter com reformas. Isso depende da arquitetura e da engenharia. Queremos que a população entenda que precisamos de um ginásio maior e mais novo. Evoluir sem perder a essência. Não podemos ficar com puxadinho por mais 35 anos. Construiremos um novo ginásio, essa decisão está tomada.

 

O Mané Garrincha já recebeu futsal, vôlei… Qual é o limite da ousadia da Arena BSB?
Nós queremos trazer dois medalhões para bater o recorde de público (51.954) em uma partida de tênis numa arena de futebol da Copa (Cidade do Cabo). Ideias malucas nós temos até festa na cobertura, circuito de uma Fórmula E no estádio. Ideia também de fazer abertura do basquete, mas estamos com vontade de fazer jogo na próxima temporada, provavelmente no Dia das Crianças. Vamos participar da contagem regressiva do Time Brasil para os 100 dias de Tóquio-2020.

 

E a questão do estacionamento?
Estacionamento grátis não existe. Ou é pago com tributo, ou seja, dinheiro do cidadão, ou do usuário do local. Era um serviço de baixa qualidade e sem retorno para o governo. Investimos R$ 400 mil para melhorar a iluminação. Estamos trocando as lâmpadas de LED e a marcação dos estacionamentos. Ninguém gosta de pagar estacionamento. Todos arcávamos com o estacionamento sem utilizar e havia achacamento aos usuários.

 

*Entrevista publicada na edição impressa desta quinta-feira (13/2) do Correio Braziliense.

Colaboraram Fabio Grecchi, João Romariz e Mariana Fraga

 

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