Dorival Júnior fez bons trabalhos nos últimos três clubes. A gente lembra do São Paulo e do Flamengo, mas vou me debruçar na passagem dele pelo Ceará. Tenho a impressão de que a template do Vozão serviu para afrouxar o nó da gravata do técnico pressionado por resultados e desempenho.
Comparo o plano do Brasil na virada por 2 x 1 contra o frágil Chile no Estádio Nacional, em Santiago, a uma estratégia muito usada na passagem de Dorival Júnior pelo Ceará: bola no ponta direita veloz e driblador. Repertório adequado a um time, não à Seleção Brasileira. A exibição foi péssima porque o Brasil na maior parte do tempo foi samba de uma nota só, uma espécie de segura na mão, ou melhor, nos pés do Savinho e vai.
O Ceará de Dorival Júnior acionava o ponta direita Erick a exaustão. O treinador gostava muito dele. Até pediu a contratação do xodó ao São Paulo antes de trocar o tricolor paulista pela Seleção e conseguiu. Guardadas as devidas proporções, Savinho foi o Erick do Dorival em Santiago. A Seleção teve 71% de posse de bola. Nos raros momentos verticais, acionou o atacante do Manchester City tal como o Ceará fazia com Erick na direita ou Mendoza na esquerda. O Ceará construía com Cleber no papel de autêntico 9 ou Vina de postiço.
Savinho incorporou bem o papel de Erick. Perturbou o lateral-esquerdo Thomas Galdames até conseguir o cruzamento para Igor Jesus mostrar presença de área e marcar pela primeira vez. O Brasil levou Savinho ao limite da capacidade física e o que fez Dorival? Trocou Savinho por Luiz Henrique na tentativa de continuar agressivo naquele pedaço.
Luiz Henrique foi pouco acionado, mas quando recebeu a bola como gosta, baixou o Arjen Robben nele. Cortou para dentro como fazia o atacante holandês e bateu cruzado para virar o jogo e depositar três pontos na conta do Brasil na classificação das Eliminatórias.
O repertório de reter a bola e esticá-la na ponta direita foi pobre, mas necessário para a paz de Dorival Júnior. Ele precisava vencer. Mais do que isso: virou um jogo pela primeira vez em 11 partidas. Era possível vencer o fraquíssimo Chile, porém demorou a soltar a livrar-se das amarras. Soltou o time a partir dos 40 minutos ao trocar um lateral por atacante. Abner por Gabriel Martinelli. A Seleção saiu do 4-2-3-1 para o 3-4-1-2. O gol começa neste formato com Ederson iniciando o lance lá atrás como sabe: saindo com os pés. Abordei isso recentemente aqui no blog em um post sobre a conexão direta dele com Haaland no Manchester City quando o time de Pep Guardiola está em dificuldade e a necessidade de ele ser titular do Brasil.
Gol de Haaland ilustra por que Ederson tem que ser titular da Seleção
Ederson aciona Gabriel Martinelli na ligação direta, ele compartilha a bola com Bruno Guimarães e o volante encontra Luiz Henrique na direita posicionado como o ponta do Botafogo gosta. Partindo em diagonal da direita para dentro. Assim sai o segundo gol.
O Brasil terminou a partida em Santiago no modo holandês: Ederson; Danilo, Marquinhos e Gabriel Magalhães; Luiz Henrique, Bruno Guimarães, Gerson e Gabriel Martilhelli; Raphinha; Rodrygo e Endrick. Dorival Júnior fez trocas seis por meia dúzia, sim, mas a entrada de Gabriel Martinelli quebra obviedades. O atacante do Arsenal entra como ala.
O posicionamento defensivo é preocupante. O gol de Vargas sai em cima dos jogadores mais experientes. Um combo de falhas formado por Marquinhos, Danilo e Ederson. Todos presentes na última Copa do Mundo. Quem deveria passar tranquilidade aos mais jovens gerou pânico no início da partida e obrigou o Brasil a correr atrás do placar. A Seleção não virava jogo desde 7 de outubro de 2021 contra a Venezuela nas Eliminatórias na era Tite.
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