Eu estava lá, no gramado da Arena Condá, pertinho do colega Guido Nunes, do SporTV, na fila para falar com dona Ilaíde Padilha. Indescritível a força da mãe do goleiro Danilo, da Chapecoense, uma das 71 vítimas da tragédia de Medellín. Ela tinha todo o direito de chorar a morte do filho. Mas foi quem nos fez derramar lágrimas. Sabe aquele papo de que homem não chora? Que jornalista não chora em cobertura nenhuma? Dona Ilaíde quebrou paradigmas.
Em tempos de redes sociais, relacionamentos à distância, pedidos certas vezes preguiçosos em busca de personagens virtuais para matérias em vez de um pulinho na rua, de um contato olho no olho, ela estava ali, em carne e osso, na nossa frente, para lembrar que nós também somos de carne e osso. precisamos de personagens de carne e osso. Para dar uma humanizada na nossa cada vez mais cibernética, robotizado profissão.
“Você pode chorar, a dor é igual”, disse carinhosamente dona Ilaídes para Guido Nunes. Em vez de tatear a tela de um celular, de um tablet, ela usou as mãos para limpar de uma forma tão linda os olhos cheios de lágrimas do colega repórter depois de perguntar carinhosamente a Guido como ele se sentia em relação aos jornalistas que morreram no acidente que levava a Chapecoense para o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. Impressionante como a pergunta foi original. Sem ensaio. Nada montado. Foi d fundo do coração.
Dona Ilaíde atendeu a todos com um coração de mãe. Passou a manhã e o início da tarde todinha dando entrevistas. Em vez de receber, distribuía abraços apertados ao fim de cada entrevista a um jornalista. Exalava uma energia que só ela e Deus sabem de onde vem.
Não tenho vergonha de assumir que eu também chorei depois de conversar com dona Ilaíde para a matéria que publico na edição deste sábado do Correio Braziliense. Principalmente quando ouvi sua única e justa murmuração: “O que está matando a gente é essa espera. Isso não é de Deus, não. O caixão vai chegar lacrado. Não vou poder olhar pela última vez nos olhos do meu filho Danilo, acariciá-lo, abraçá-lo”.
Obrigado, dona Ilaíde! Parabéns pela entrevista, Guido Nunes!
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