Manhã de sexta-feira, 24 de abril. Em meio à expectativa do país pelo pronunciamento do pedido de demissão do então ministro da Justiça Sergio Moro, um emissário do Legião Futebol Clube, time da segunda divisão do Distrito Federal fundado em 2006, em homenagem à banda Legião Urbana de Renato Russo, está posicionado na porta do Palácio da Alvorada. Ao ver o presidente da República Jair Bolsonaro passar, entrega uma camisa oficial da equipe ao Chefe de Estado. A intenção era chamar a atenção em busca de patrocinadores e protestar contra a falta de apoio ao futebol da capital.
Ao entregar a camisa, o representante do Legião alfineta o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. “Tem um governante que não apoia o futebol de Brasília, mas o senhor (presidente) apoia o futebol do Brasil, não é só o de Brasília”, diz a Bolsonaro.
O presidente recebe o presente, repassa para um assessor guardar e revela: “Estão querendo trazer a final do Campeonato Carioca para Brasília. Quero ver o Botafogo ser campeão aqui”, diz Bolsonaro, indicando uma negociação em andamento.
O vídeo da entrega da camisa entrou nos grupos de WhatsApp. Empolgou o GDF e a cúpula da Arena BSB. A concessionária responsável por administrar o estádio mais caro da Copa 2014 havia sido consultada pelo governador sobre uma outra possibilidade. Segundo nota do colega Cezar Feitosa no site O Antagonista, o governador Ibaneis Rocha teria dito ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional general Augusto Heleno, em 22 de abril. “Estou trazendo o Flamengo para jogar aqui no Mané Garrincha, sem público. Só nós dois vamos ver de camarote”.
Erguida por R$ 1,7 bilhão, a arena tenta se desgarrar da fama de elefante branco herdara da deficitária administração de sete anos do GDF. Sob nova direção desde o início do ano, o complexo recebeu dois eventos artísticos — The Send Brasil e Maroon 5 — e dois esportivos. Abrigou a final da Supercopa do Brasil entre Flamengo e Athletico-PR; e o duelo entre Capital e Unaí pela primeira fase do Candangão. Na sequência, veio a paralisação das competições devido à pandemia do novo coronavírus.
Curiosamente, o DF foi a primeira unidade da federação a vetar a realização dos jogos de futebol com torcida. Tolerou a realização de mais duas rodadas com portões fechados para a finalização da primeira fase do Candangão. Na última delas, lacrou três estádios e ordenou que as partidas fossem disputadas nos centros de treinamento. Gama, Brasiliense e Legião obedeceram.
Sinto-me no dever de esclarecer equívocos como a publicação em relação ao tema partidas do Campeonato Carioca em Brasília. Não recebemos nenhum comunicado oficial a respeito e, caso venhamos a receber, o assunto será tratado de forma ampla, responsável, sem preconceitos ou pré-julgamento, mas com os cuidados pertinentes, com o objetivo de se atingir o que melhor puder ser feito em busca de soluções para os problemas e dificuldades, sem nenhum viés político, midiático e sem qualquer violação dos pilares básicos que norteiam os princípios em que se fundamentam tanto a Ferj quanto os seus filiados e amplamente divulgados: a) comprometimento com a saúde e a vida alheia mediante cumprimento de diretrizes de autoridades competentes; b) obediência às determinações governamentais; c) seguimento de procedimentos e protocolos técnicos e científicos recomendados à proteção individual e coletiva
Nota de Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio (Ferj)
Eis que, no auge da pandemia, a caminho do pico da Covid-19 no país, o GDF decide negociar a abertura do Mané Garrincha para jogos do Campeonato Carioca. A arena abriga um hospital de campanha no espaço lounge, mas, como publicado no blog na última quarta-feira (29/4), o CEO da Arena BSB disse que o atendimento médico não é impedimento para a realização de jogos, deu detalhes da utilização dos quatro vestiários da arena e até brincou com a possibilidade de conciliar futebol e atendimento médico: “Estamos prontos para receber lives de futebol”.
Um membro do GDF chegou a dizer ao blog que as negociações para a realização da final do Carioca, em Brasília, havia começado antes da paralisação causada pela pandemia. Porém, o regulamento do Estadual simplesmente não permite que a decisão seja fora do Rio de Janeiro.
O artigo 60 do regulamento é claro, não dá respaldo à suposta ideia: “Excepcionalmente, havendo acordo entre as partes e anuência da FERJ, qualquer partida do campeonato poderá ser realizada fora do Estado do Rio de Janeiro. Tal disposição não se aplica às partidas da final da Taça Guanabara, da final da Taça Rio e da final do campeonato”, diz o texto.
O blog apurou, ainda, que o último clube consultado sobre a possibilidade de mandar jogo no Mané Garrincha foi o Bangu. Houve sondagem para o time receber o Flamengo na capital pela quarta rodada da Taça Rio. Porém, as negociações não prosperaram.
Aparentemente, a negociação é mais complexa do que lançar aos quatro ventos que os jogos do Carioca serão em Brasília. Antes, é preciso combinar com o coronavírus, entidades e atores: federações do Rio, do Distrito Federal, clubes, jogadores que se recusam a viajar com medo da contaminação, detentores dos direitos de tevê e até com o governador do Rio Wilson Witsel (oposição a Bolsonaro) e o prefeito da Cidade Maravilhosa Marcelo Crivella (apoio ao presidente). Estes dois precisam autorizar a volta dos clubes ao batente. O blog apurou que não há unanimidade sequer para a volta dos times aos treinos.
Na sexta-feira (1/5), o presidente da Ferj, Rubens Lopes, publicou nota no site da entidade negando a possibilidade de jogos do Campeonato Carioca no Distrito Federal.
“Sinto-me no dever de esclarecer equívocos como a publicação em relação ao tema partidas do Campeonato Carioca em Brasília. Não recebemos nenhum comunicado oficial a respeito e, caso venhamos a receber, o assunto será tratado de forma ampla, responsável, sem preconceitos ou pré-julgamento, mas com os cuidados pertinentes, com o objetivo de se atingir o que melhor puder ser feito em busca de soluções para os problemas e dificuldades, sem nenhum viés político, midiático e sem qualquer violação dos pilares básicos que norteiam os princípios em que se fundamentam tanto a Ferj quanto os seus filiados e amplamente divulgados: a) comprometimento com a saúde e a vida alheia mediante cumprimento de diretrizes de autoridades competentes; b) obediência às determinações governamentais; c) seguimento de procedimentos e protocolos técnicos e científicos recomendados à proteção individual e coletiva”.
Apesar do desmentido da Ferj, gente do GDF insiste que as negociações estão em andamento e que o Mané Garrincha receberá, sim, jogos do Campeonato Carioca ao mesmo tempo em que funciona como hospital de campanha no atendimento a pacientes do novo coronavírus. Neste sábado, o governador Ibaneis Rocha oficializou o fechamento do comércio ao menos até 10 de maio e manteve a realização de eventos esportivos, inclusive campeonatos de qualquer modalidade, pendentes de licenças do Poder Público.
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