Everton Ribeiro cometeu pecado quase sempre imperdoável no futebol brasileiro: perder pênalti em uma competição oficial com a camisa da Seleção. Era 27 de junho de 2015. O Brasil empatou por 1 x 1 com o Paraguai no tempo normal das quartas de final da Copa América, em Concepción, no Chile. A vaga foi decidida nos pênaltis e o time de Dunga caiu por 4 x 3. Enquanto os pentacampeões voltavam para casa precocemente, o Paraguai avançava às semifinais e era desbancado pela Argentina por 6 x 1.
A maior parte do vexame verde-amarelo ficou nas contas de Dunga e de Neymar, expulso da competição pela Conmebol após quebrar o pau com os colombianos na segunda rodada da fase de grupos. As outras fatias caíram no colo do meia Everton Ribeiro e do atacante Douglas Costa. Ambos desperdiçaram cobranças na eliminação. Aquela foi a última partida de Everton Ribeiro com a amarelinha. Naquela época, o então jogador do Al-Ahli estava cheio de crédito depois de levar o Cruzeiro ao bicampeonato brasileiro nas edições de 2013 e 2014. Havia sido Bola de Ouro da revista Placar pelo desempenho na Série A de 2013.
O erro afastou Everton Ribeiro da Seleção por incríveis cinco anos. Ele tinha 25 na eliminação contra o Paraguai. Tem 30 ao conquistar Tite para os duelos contra a Bolívia e o Peru na largada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Qatar-2022. Merecida volta por cima também depois do erro de avaliação de Tite. O técnico da Seleção dispensou o jogador do Corinthians em 2011. Formado na base do Timão, foi emprestado ao Coritiba sem ter feito nenhum jogo sob a batuta de Tite. Bom saber que Tite não é cabeça dura. Não apostou muito em Marquinhos no Corinthians. Hoje, o zagueiro é um dos seus xodós.
Everton Ribeiro é quem menos aparece no quarteto fantástico do Flamengo. Gabriel Barbosa, Bruno Henrique e Arrascaeta são mais decisivos. Desfrutam de mais paciência da exigente torcida. O capitão rubro-negro, não. O estopim é bem mais curto com ele. No entanto, a relevância tática de Everton Ribeiro para o sistema de jogo de Jorge Jesus é impressionante.
Passa despercebido na tela de quem só presta atenção na bola. A leitura de jogo de Everton Ribeiro impressiona. A mobilidade nem se fala. Atua aberto na direita, mas tem facilidade para ocupar várias funções. Na estreia do Flamengo contra o Junior Barranquilla, por exemplo, apareceu na frente do gol para abrir o placar. No segundo, surgiu da esquerda para o meia e decretou o triunfo. Joga em qualquer lado do campo independentemente do sistema tático. A polivalência é um dos trunfos do futebol moderno. Everton Ribeiro pode dar outra dinâmica ao lado direito. Uma espécie de F5 no que fazia o esquecido Willian.
A capacidade de se dedicar ao grupo — e não somente a ele — também conquistou Tite. Embora use a tarja de capitão do Flamengo, Everton Ribeiro topa compartilhar até o peso de erguer troféus com os Diegos Alves e Ribas numa espécie de triunvirato. O técnico da Seleção curte demais isso. Vale lembrar que, até a Copa de 2018, revezava seus capitães.
A convocação de Tite é boa para o início das Eliminatórias, mas tenho algumas observações. Não achei o goleiro Ivan seguro no Pré-Olímpico. Porém, entendo que é importante ganhar milhas ao lado de colegas mais experientes como o campeão olímpico Weverton para não desembarcar tão cru nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.
Discordo da presença de Éder Militão entre os 24 chamados. A imprensa de Madri, por exemplo, questiona o momento do jogador contratado na temporada passada por 50 milhões de euros. Há mais desconfianças do que confiança no desempenho dele para o duelo de volta contra o Manchester City pelas oitavas de final da Champions League. É mais lembrado pela derrota para o Mallorca em La Liga e pela eliminação da Copa do Rei contra a Real Sociedad no Santiago Bernabéu. A zaga dos sonhos continua sendo Sergio Ramos, expulso na partida de ida contra o City, e o francês Varane.
Entrei para poder ajudar ainda durante o jogo. Depois, ele (Dunga) perguntou se eu bateria, e eu disse que tudo bem. Eu passei a confiança para poder bater, mas infelizmente hoje não saiu o gol
Everton Ribeiro, sobre o pênalti desperdiçado nas quartas de final da Copa América 2015
Muito estranha a ausência de Gerson nas listas das seleções principal e olímpica. Em tese, está sendo castigado por preferir férias a disputar o Pré-Olímpico na Colômbia. Philippe Coutinho é experiente, mas deixou faz tempo de ser unanimidade. Para sorte dele, não há um nome jogando tão ou bem mais do que ele na Europa nem no Brasil.
Achei acertadíssimas as convocações do zagueiro Felipe e do lateral-esquerdo Renan Lodi. Bruno Guimarães tem tudo para ser o Paulinho melhorado de Tite nas Eliminatórias. Joga muito, embora tenha oscilado um pouco no Pré-Olímpico. Compreensível. É jovem. Quanto aos nomes do ataque, Tite merece nota 10. Sinto falta de um centroavante de ofício para algumas situações de jogo. Pedro pode ser nome mais à frente. Afinal, as Eliminatórias estão apenas começando. São 18 longas rodadas até a Copa do Qatar-2022.
- Convocação para as Eliminatórias Copa Qatar-2022
Jogos contra: Bolívia (27/3, Recife) e Peru (31/3, Lima) - Goleiros
Weverton (Palmeiras)
Ederson (Manchester City-ING)
Ivan (Ponte Preta) - Laterais
Daniel Alves (São Paulo)
Danilo (Juventus-ITA)
Renan Lodi (Atlético de Madrid-ESP)
Alex Sandro (Juventus-ITA) - Zagueiros
Marquinhos (PSG-FRA)
Felipe (Atlético de Madrid-ESP)
Eder Militão (Real Madrid-ESP)
Thiago Silva (PSG-FRA) - Volantes
Arthur (Barcelona-ESP)
Casemiro (Real Madrid-ESP)
Bruno Guimarães (Lyon-FRA)
Fabinho (Liverpool-ING) - Meias
Philippe Coutinho (Bayern Munique-ALE)
Everton Ribeiro (Flamengo) - Atacantes
Neymar (PSG-FRA)
Gabriel Jesus (Manchester City-ING)
Roberto Firmino (Liverpool-ING)
Gabriel Barbosa (Flamengo)
Everton (Grêmio)
Richarlison (Everton-ING)
Bruno Henrique (Flamengo)
Siga o blogueiro no Twitter: @mplimaDF
Siga o blogueiro no Instagram: @marcospaul0lima
Siga o blog no Facebook: https://www.facebook.com/dribledecorpo/20