Dois anos depois de salvar o Mundial Sub-17 da Fifa, bater na porta do Palácio Planalto, convencer o presidente da República, Jair Bolsonaro, a receber o evento no lugar do Peru e ganhar pontos com o presidente da entidade máxima do futebol, Gianni Infantino, o mandatário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, adota a mesma estratégia para evitar o primeiro cancelamento da Copa América em 105 anos de história. Portanto, a aproximação entre a CBF e Bolsonaro não é de hoje. Vem de dois anos atrás e minimizou prejuízo nos cofres da Fifa.
Curiosamente, a articulação das possíveis sedes é um “copiar-colar” do que foi feito para salvar o Mundial Sub-17. Naquela época, a estratégia da CBF, em parceria com a Fifa, foi evitar a utilização de estádios do Campeonato Brasileiro e de centros como São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul. Assim, as 52 partidas foram distribuídas em quatro estádios de três cidades. Houve rodadas duplas em todas as arenas.
O Estádio Bezerrão, no Gama (DF), virou sede principal do Mundial Sub-17. Brasília tornou-se o Quartel General (QG) da Fifa. Daqui eram tomadas as principais decisões sobre o evento. Goiânia cedeu dois estádios — Olímpico e Serrinha. Cariacica (ES) alugou o Estádio Kléber Andrade.
Sob pressão depois do W.O, principalmente, de capitais da Região Nordeste para abrigar o evento, Rogério Caboclo dá um ctrl c + ctrl v na solução de dois anos atrás e tenta costurar solução usando as mesmas cidades sede do Mundial Sub-17 de 2019.
Como o blog antecipou na segunda-feira, o Mané Garrincha é bola de segurança, a única sede garantida. Cotado, inclusive, para abrigar abertura e final do torneio. O Governo do Distrito Federal também foi consultado sobre o Bezerrão, palco principal do Mundial Sub-17. No entanto, o gramado da arena, que foi reformado por cerca de R$ 2 milhões pela Fifa à época do torneio juvenil, está inutilizado. Recebe um hospital de campanha para pacientes infectados pela covid-19.
Sedes do Mundial Sub-17 da Fifa em 2019, quando o Peru perdeu o direito de receber o evento, Brasília, Goiânia e Cariacica estão novamente no centro do plano emergencial, dessa vez para salvar a Copa América da Conmebol.
A expectativa dos organizadores, que não sabiam desse detalhe até então, era de que Brasília cedesse dois estádios e se tornasse uma espécie de bola para o evento. O Bezerrão tem um conceito elevado por ser menor, mas moderno, e ter recebido eventos importantes, como o amistoso entre Brasil e Portugal, em 2008, com Kaká e Cristiano Ronaldo em campo, a conquista do tricampeonato brasileiro do São Paulo, no mesmo ano, e o Mundial Sub-17 em 2019. Além disso, foi ponto de apoio para seleções na Copa das Confederações 2013, Copa do Mundo 2014 e nos torneios de futebol masculino e feminino dos Jogos Olímpicos do Rio-2016.
Logo, como Brasília tem disponível apenas um estádio “padrão Conmebol”, há demanda por pelo menos mais três arenas. Os estádios Olímpico, Serrinha e Kleber Andrade comportaram muito bem o Mundial Sub-17, mas não considerados à altura da Copa América. Esse é o ponto em que a confecção da tabela do evento travou. Há busca por soluções que minimizem, inclusive, o risco de boicote à realização do evento no Brasil.
Sede original da Copa América em parceria com a Colômbia, a Argentina, por exemplo, havia traçado planejamento para sair do Centro de Treinamento, em Ezeiza, apenas para jogar. De lá, retornaria para seu “bunker”. Ao saber que o Brasil havia sido escolhido para abrigar o evento novamente, houve descontentamento na AFA e entre os jogadores.
A intenção clara é evitar grandes deslocamentos. Daí a procura por cidades e estádios mais próximos da Argentina para facilitar a logística dos vizinhos Argentina e Uruguai. Rio Grande do Sul e Curitiba têm três estádios de ponta — Arena, Beira-Rio e Arena da Baixada — mas todos são utilizados por clubes que disputam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro.
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