Rogério Ceni ficou longe das câmeras fotográficas e de tevê na passagem do presidente Jair Bolsonaro pelo Centro de Treinamento do Brasiliense na última sexta-feira. Não fez questão de aparecer ao lado de parte da diretoria e dos comandados Filipe Luis, Willian Arão, Diego Alves, Gabriel Barbosa e Diego. Parece ter evitado. Foi discreto. Em um vídeo, aparece apenas cumprimentando o general Heleno — ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Bem diferente de um tempo atrás…
O técnico do Flamengo não escapa de temas polêmicos como, por exemplo, política. Falou sobre Jair Bolsonaro no ano passado. Apoiadores do presidente o chamam de Mito, mesmo apelido dele, Rogério Ceni, na prateleira dos ídolos São Paulo:
“Fico aliviado por ele (Bolsonaro) ter se apropriado do termo, a responsabilidade agora está com ele. Eu sigo fazendo o meu trabalho”, afirmou em entrevista ao colega Tom Cardoso, no Valor Econômico, em abril do ano passado.
Rogério Ceni não posa de jogador alienado. Gosta de marcar posição, ainda que, algumas delas, desagradem alguma corrente ideológica. Em 2012, deu cara a tapa, fez palanque e pediu votos publicamente para José Serra no segundo turno das eleições para a prefeitura de São Paulo. No fim, o tucano perdeu para o petista Fernando Haddad por 55,7% x 44,43%.
Antes de ir às urnas, o então goleiro do São Paulo deixou claro o apoio a José Serra em encontro com o político no Museu do Futebol. “Torço muito para que o governador possa se eleger prefeito de São Paulo. Nós (time do São Paulo) vamos estar voltando do Recife, do jogo contra o Sport, para poder votar. Ele tem o meu voto e de todos lá em casa”, avisou Rogério Ceni, ao lado do conselheiro tricolor Marco Aurélio Cunha.
Na época, o palmeirense Serra agradeceu pelo apoio do ídolo são-paulino. “O Rogério é pé quente. Ele sabe que política é como futebol, pra ganhar tem que lutar até o último minuto”, afirmou. O relacionamento amistoso teve direito a jogo de pebolim entre Serra e Ceni e até cobrança de pênalti do político contra o então goleiro em um simulador do Museu do Futebol.
Rogério Ceni também opinou sobre o segundo mandato da presidente da República, Dilma Rousseff. Na época, o São Paulo passava por um momento político conturbado. O então mandatário Carlos Miguel Aidar não suportou a pressão e renunciou ao cargo. O ídolo classificou como louvável o movimento interno no São Paulo e classificou como uma mudança de mentalidade no clube, algo que ele também esperava de Dilma Rousseff.
“Infelizmente, às vezes, o sistema corrompe as pessoas, muda as pessoas. Faz parte, infelizmente. Mas esse ano e meio de administração dele (Aidar) não pode ser um paralelo ao que é o São Paulo de 85 anos. Aconteceram fatos isolados e nada foi provado ainda. Como atleta, torcedor e cidadão, quero desenrolar tudo isso para saber o que aconteceu. Foram erros administrativos como todo o sistema político deste país. E tomara que também seja corrigido. Aqui, aparentemente. é porque foi interrompido um mandato. E que o Brasil siga o mesmo caminho. Constatamos algo errado e houve a renúncia. Quem sabe a Dilma não aproveita o mesmo caminho”, disse o goleiro, em 2015.
“Que o Brasil siga o mesmo caminho (do São Paulo). Constatamos algo errado e houve a renúncia (do presidente Carlos Miguel Aidar). Quem sabe a Dilma não aproveita o mesmo caminho”
Rogério Ceni, em 2015, depois da renúncia do então presidente tricolor
Ele também fez analogia da crise na queda do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, com o contexto do país. “A situação política da CBF nada mais é que um reflexo da situação do nosso país. Aquela sensação de impunidade, de que se pode tudo. Mas tenho a sensação de que isso está mudando. Hoje, você vê político corrupto preso, empresário corrupto preso, milionário preso. Acho que isso era algo impensável há 20 anos. Temos que fazer algo. Principalmente, as pessoas que podem mudar o futuro do país, de recuperar 13 anos jogados no lixo da política brasileira. Talvez demore 100 anos para recuperar, mas eles têm a oportunidade de fazer isso por voto, decisão deles mesmo para colocar o país em um rumo correto”, disse Rogério Ceni.
O então goleiro foi voz ativa no extinto movimento Bom Senso FC. Inclusive discursou com críticas veementes ao governo na época dos Jogos Olímpicos do Rio-2016. “Nós ainda somos atletas privilegiados. Hoje, você vê atleta olímpico fazendo vaquinha para poder treinar. O governo brasileiro vai sediar a Olimpíada, e atleta ainda tem de fazer vaquinha para poder treinar? Até para o Mensalão eles arrecadam mais do que para o esporte. Até para condenado na cadeia. Essa é a situação do nosso país? Ter de fazer vaquinha para poder sobreviver e treinar para uma Olimpíada no nosso país?”, disparou no seminário realizado em 2014.
Siga no Twitter: @mplimaDF
Siga no Instagram: @marcospaulolimadf