Aos 38 anos, o paranaense Thiago Kosloski mora na Austrália. Formando no curso de treinadores da Confederação Brasileira de Futebol — o CBF Academy — é diretor técnico do South West Queensland Thunder FC depois de trabalhos no Cazaquistão e no continente africano. Mora com a esposa e a filha em Toowoomba, cidade com 135 mil habitantes no estado de Queensland, 132km ao oeste de Brisbane. Confinado em casa na quarentena, ele monitora jogadores e membros da comissão técnica do departamento de futebol do clube e observa o combate do país à pandemia do novo coronavírus. Até a publicação deste post, eram 5.226 casos registrados e 27 mortes. A seguir, ele bate um papo com o blog sobre o home office em tempos de reclusão, o sucesso do futebol feminino na Austrália, a vida em família em meio ao caos global provado pela enfermidade e a política do país no combate à disseminação da Covide-19.
Por que a Austrália foi um dos últimos filiados à Fifa a suspender o futebol?
A Austrália demorou um pouco ao meu ver a tomar as iniciativas que ela vem tomando nas últimas semanas. Assim que ficamos sabendo do coronavírus, acredito que as fronteiras poderiam ter sido fechadas ou a fiscalização poderia ter sido mais dura como está sendo agora. Isso se refletiu em todos os campos de trabalho.
Inclusive no esporte aí na Austrália…
Falando exclusivamente da minha área, a A-League foi umas das últimas a parar. Tivemos jogos com portões fechados. A meu ver, não deveriam ter sido jogados. Nas divisões inferiores parou imediatamente no momento que veio a ordem da federação.
Como tem funcionado a quarentena na Austrália?
Faz mais ou menos 15 dias que todas as atividades esportivas profissionais ou escolares estão proibidas até segunda ordem. O governo fala em 3 a 6 meses. Então, no momento, é um tiro no escuro cravar qualquer data de retomada.
Como os times têm trabalhado?
Essa parada quebra todo o planejamento. Apesar de todos estarem no mesmo barco, as equipes que começaram a se preparar antes foram prejudicas. No momento, monitoramos todos os atletas on-line e passamos treinamentos individuais para que possam manter a condição física no melhor nível possível. Tentamos abastecê-los com informações sobre os nossos próximos jogos com análise dos adversários. A ideia é que não percam o foco, mas é uma situação bem delicada para todos.
Qual é a projeção na Austrália em relação à evolução da pandemia?
O fato de a Austrália não ter vizinhos de fronteira nos faz acreditar que a curva de contágio tenha uma queda significante nas próximas duas semanas, o que pode beneficiar a volta das atividades normais no país. Essa é a nossa expectativa.
E a rotina por aí?
Moro com minha família, esposa e filha. Agora, a minha rotina é monitorar os treinadores e jogadores, estudar bastante, desenvolver treinos. Aqui, a quarentena é respeitada. Sair na rua sem necessidade pode dar problemas.
A Austrália demorou um pouco ao meu ver a tomar as iniciativas que ela vem tomando nas últimas semanas. Assim que ficamos sabendo do coronavírus, acredito que as fronteiras poderiam ter sido fechadas ou a fiscalização poderia ter sido mais dura como está sendo agora. Isso se refletiu em todos os campos de trabalho
A filha continua tendo aula?
Sim, tudo pelo computador. O sistema educacional aqui é fora de série. As escolas são muito bem equipadas e com ótima infraestrutura.
Você trabalhou no Cazaquistão, Benín, China e agora na Austrália. Viveu algo parecido?
Nunca nesse nível que estamos enfrentando agora. As pessoas estão completamente fechadas dentro de casa. Essa foi a primeira vez.
E o Thunder FC?
É uma equipe jovem, que disputou ano passado a National Premier League. Neste ano, estamos disputando com a equipe principal a FQPL, um nível abaixo. Na Austrália, não existe queda ou acesso. Dependendo da quantidade de dinheiro a ser investido, você pode jogar na primeira divisão ou nas divisões inferiores. Na base já não são todos que jogam a mesma liga. Estávamos na quarta rodada e até a parada estamos liderando com três vitórias.
Fala sobre seu trabalho, seu time…
Sou diretor técnico, a pessoa que direciona a metodologia do clube e é o técnico dos técnicos, podemos dizer assim. Faz três anos que trabalho na Austrália como treinador de futebol. Nos meus dois primeiros anos, me dediquei 100% ao time principal e neste ano estou coordenando a parte técnica do clube todo. Temos desde as categorias menores sub-8 até a principal masculina e feminina.
E o futebol feminino aí?
O futebol feminino na Austrália é muito mais desenvolvido do que o masculino em termos de qualidade. É top 3. A Austrália foi como uma das favoritas a ganhar a Copa do Mundo no ano passado, mas alguns problemas internos atrapalharam bastante, como troca de treinador pouco antes da competição. A Austrália é muito forte, o campeonato interno é muito forte, tem uma boa infraestrutura. Ao contrário do Brasil, todas as equipes que jogam a A-League e a National Premier League têm equipes nas categorias de base também. Consequentemente, você forma jogadoras. Agora, inclusive, capitã da seleção da Austrália foi para o Chelsea. A Sam Kerr (26 anos) é uma das melhores do mundo na posição. O futebol masculino vem evoluindo, mas não está entre os 10 melhores do mundo. O feminino é um dos cinco.
A leitura aumenta na quarentena. Qual é o seu livro de cabeceira?
O livro que estou lendo agora é a biografia do Alex Ferguson. Um treinador que tenho bastante apreço pelo seu trabalho e perfil.
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