A terceira passagem de Dorival Júnior pelo Flamengo é irretocável. Tirou um elenco imerso no caos provocado pela péssima aposta da diretoria no técnico Paulo Sousa, deu jeito em um elenco caríssimo e levou o time em 166 dias aos títulos da Copa do Brasil e da Libertadores. Talvez, o erro do atual comandante rubro-negro seja ter perdido o controle da ressaca pós-títulos. O desempenho nas últimas rodadas do Brasileirão pode ser o motivo que a cúpula precisava para colocar em debate o que parecia indiscutível: a renovação de contrato com quem salvou o ano da gestão Rodolfo Landim. Viciados em nomes de grife, principalmente estrangeiros, os cartolas certamente monitoram situações como a do badalado argentino Marcelo Gallardo e de alguns profissionais europeus. Falta uma manifestação clara, contundente e definitiva sobre a situação de Dorival.
O Flamengo tinha chance de encerrar o Campeonato Brasileiro pelo quinto ano consecutivo entre os dois melhores da principal competição do país. Conquistou o título em 2019 e 2020 e vice nas temporadas de 2018 e 2021. Em 2022, arrisca encerrar a competição fora do G-4. As conquistas nas copas amortizam o desempenho na Série A. O prejuízo é muito mais financeiro levando em conta o ranking de premiações estabelecido pela CBF. A questão é a diretoria colocar na balança a capacidade de Dorival Júnior manter o elenco mobilizado.
Os argumentos de Dorival Júnior para o desleixo do Flamengo são compreensíveis, mas inaceitáveis diante da fartura do elenco. “Foram decisões em cima de decisões. Quem não entender isso, infelizmente, eu não posso fazer nada. É um fato muito claro e natural. Tanto é que há jogadores buscando a recuperação física e emocional”, alegou depois do empate da última quarta-feira com o Juventude por 2 x 2, em Caxias do Sul.
Jorge Jesus conseguiu. Em 2019, o Flamengo conquistou a Libertadores e o Brasileirão quase no mesmo dia. A torcida foi às ruas do Rio de Janeiro celebrar as conquistas com o elenco, mas nem por isso o elenco relaxou. Motivo: o Mundial de Clubes da Fifa no Catar viria logo na sequência, em dezembro. Portanto, era totalmente necessário àquela altura manter o elenco focado. A edição deste ano ainda não tem data nem local.
Depois da festa, o Flamengo derrotou o Palmeiras, no Allianz Parque, derrotou Ceará e Avaí com direito a concerto de futebol no Maracanã, e só relaxou na derrota por 4 x 0 para o Santos, na Vila Belmiro. Ganhou nove dos 12 pontos disputados antes do embarque rumo a Doha. O retrospecto pós-tri da Libertadores é ruim. A equipe acumula derrotas para Corinthians e Coritiba. Foi incapaz de superar o lanterna rebaixado Juventude no empate por 2 x 2 e terá contra o Avaí neste sábado a última oportunidade de encerrar a temporada com vitória.
Há outro exemplo de comprometimento até o fim da competição. No ano passado, o técnico Abel Ferreira deu férias ao time principal depois da conquista do tricampeonato da Libertadores contra o Flamengo. Nem por isso o time relaxou no Brasileirão. Venceu o Cuiabá, empatou fora de casa com o Athletico-PR e superou o Ceará em casa na última rodada. Foram sete pontos conquistados em nove. Todos com um time mesclado de reservas e jovens da base.
Dorival Júnior insiste que era impossível manter o sarrafo elevado. “Eu seria insensível se tivesse que cobrar alguma coisa da equipe por tudo que passamos e, principalmente, pela forma que nos entregamos para dar ao torcedor esses dois campeonatos (Copa do Brasil e Libertadores)”, insistiu na entrevista coletiva. Resta saber se o núcleo rígido da diretoria vai ponderar esses argumentos no momento de definir ou não pela renovação. Aliás, essa decisão está demorando demais para o meu gosto. Dorival Júnior, que tem créditos de sobra no Ninho do Urubu, deve estar com as barbas (que não tem) de molho.
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