53788740854_a37027fd9a_c Dorival Júnior chega à Copa América com quatro jogos contra um de Felipão em 2001. Foto: Rafael Ribeiro/CBF Dorival Júnior chega à Copa América com quatro jogos contra um de Felipão em 2001. Foto: Rafael Ribeiro/CBF

Desafio de Dorival Júnior na Copa América lembra o de Felipão em 2001

Publicado em Esporte

Dorival Júnior parece viver cenas do filme De volta para o futuro. Saiu da poltrona do cinema para assumir o papel de protagonista. Em 2001, Luiz Felipe Scolari partiu para a Copa América na Colômbia com apenas um jogo na Seleção: a derrota na estreia por 1 x 0 para o Uruguai no Estádio Centenário, em Montevidéu, pelas Eliminatórias para a Copa de 2002. Ele era o terceiro técnico efetivo a assumir o cargo em três anos. Antes, Vanderlei Luxemburgo e Emerson Leão não resistiram. Houve ainda o interino Candinho. O cenário antes do primeiro jogo no torneio continental contra o México era apavorante — e se confirmou na derrota por 1 x 0 para o México, vitórias contra Peru e Paraguai e eliminação para Honduras nas quartas de final.

 

A parcela de Felipão no vexame foi pequena. A responsabilidade maior era do comando da CBF. O entra e sai de técnico tornou o ciclo para a Copa de 2002 conturbado, porém no fim tudo deu certo com a conquista do pentacampeonato na Coreia do Sul e no Japão. 

 

Guardadas as devidas proporções, a Seleção vive momento semelhante no começo da era Dorival Júnior. Ele é o terceiro técnico em 18 meses desde a saída de Tite. Herdou a prancheta de Ramon Menezes e Fernando Diniz. Não há conexão alguma entre as três gestões. A bomba deveria estar nas mãos de Carlo Ancelotti a essa altura, como queria o presidente da CBF Ednaldo Rodrigues, porém estourou no colo de Dorival Júnior. 

 

Há diferenças relevantes entre os processos tumultuados de 2001 e de 2024. Ao contrário de Felipão, Dorival Júnior acumula quatro partidas de test drive antes da Copa América: as vitórias contra Inglaterra e México e os empates com Espanha e Estados Unidos. À exceção de Neymar, desfruta dos melhores jogadores. A nata, como Rivaldo,  Cafu e Roberto Carlos, tirou férias em 2001 e deixou Felipão na mão durante a Copa América. 

 

O último amistoso na noite desta quarta-feira, em Orlando, no empate por 1 x 1, deixa preocupações e a esperança de que tudo se resolva nos próximos 11 dias antes da estreia na Copa América. Rodrygo é a melhor notícia. O artilheiro Dorival Júnior merece a camisa 10 não somente devido aos gols, mas principalmente pela maturidade e o entendimento do plano do técnico. Ao contrário de Vinicius Junior, fominha em um lance individual no qual deveria ter servido Rodrygo em vez de finalizar, ele joga para o time. Movimenta-se de acordo com o que a partida exige.

 

O talento nem sempre ofusca problemas graves. A defesa sofreu seis gols em quatro jogos com Dorival Júnior. O antecessor Fernando Diniz havia sido vazado quatro vezes com a mesma quantidade de jogos e adversários diferentes: Bolívia, Peru, Venezuela e Uruguai, todos pelas Eliminatórias. O sistema defensivo de Diniz costuma ser complexo. O de Dorival Júnior, convencional. Dizia-se que um era rebuscado e o outro não gostava de inventar. 

 

Dos seis gols, dois foram de pênalti no 3 x 3 com a Espanha, um iniciado em cobrança de escanteio contra o México e o outro devido à péssima montagem da barreira do goleiro Alisson. Pulicic acerta o chute rasteiro justamente no canto protegido pelo dono das traves.

 

Há ideias claras de Dorival Júnior para a Seleção. Um delas indica Danilo posicionado ao lado de Marquinhos e de Beraldo na saída de bola. A intenção é posicionar o Brasil no sistema 3-2-5 com Bruno Guimarães e João Gomes no papel de volantes, o lateral Wendell e o ponta Raphinha espetados, Vinicius Junior e Lucas Paquetá centralizados e Rodrygo circulando como falso nove invertendo posições com Vini e Wendell. 

 

Dorival tem 11 dias para calibrar e balancear uma Seleção capenga. O jogo flui pelo lado esquerdo e trava no lado direito. Raphinha fica isolado. Não há ultrapassagem de Danilo. Raramente alguém se apresenta naquele pedaço do campo para tramar com ele. Logo, Raphinha parte em diagonal da direita para o centro como fez algumas vezes na partida. O posicionamento de Lucas Paquetá também é questionável. Em vez de tomar conta do meio de campo e dar ritmo ao Brasil, apareceu várias vezes na área como se fosse falso nove. Adiantado demais diante do que se espera dele no setor de criação.

 

São muitos problemas a solucionar no restinho de tempo até a estreia contra a Costa Rica. Essa partida será chave para as pretensões do Brasil na fase de grupos. Explica-se: o adversário na sequência é a Colômbia de James Rodríguez, Luis Díaz, Arias e Borré. O duelo com o Paraguai também não costuma ser fácil nas recentes disputas do torneio.

 

A estratégia deve ser avançar em primeiro lugar no Grupo D a fim de evitar o ajustado e favorito Uruguai nas quartas de final. A Celeste deve avançar em primeiro no C. Portanto, é mais interessante ter Estados Unidos, Panamá e Bolívia no mata para a sequência da evolução de um trabalho iniciado há tão somente cinco meses e cinco dias. 

 

Apesar do pouco tempo, há três propostas de jogo. A primeira é o 4-3-3 mutável também para o 3-2-5 com Danilo no papel de falso zagueiro. Nada novo para ele. Joga assim na Juventus. A Seleção terminou a partida no 4-2-4. Andreas Pereira e Douglas Luiz no meio e o quarteto ofensivo com Gabriel Martinelli e Sávio nas pontas, Vinicius Junior centralizado e Endrick no papel de nove depois entrar aberto na ponta direita. Há repertório. Faltam muitos ajustes para uma Seleção que deveria estar pronta se não tivesse jogado tempo fora depois da eliminação contra a Croácia na Copa do Mundo de 2022. 

 

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