Por alguns instantes, foi como se a bola recitasse o Soneto da Fidelidade de Vinicius de Moraes, no mítico Wembley, para o xará do poeta, o atacante Vinicius Junior.
“De tudo ao meu amor serei atento. Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto”.
A parceira do atacante brasileiro de 23 anos do Real Madrid parecia desligadona dele no primeiro tempo da vitória por 2 x 0 contra o Real Madrid. Porém, lá no fundo dizia:
“Que mesmo em face do maior encanto, dele se encante mais meu pensamento”.
O Real Madrid e Vinicius Junior pareciam encantados com a primeira final em Wembley. Em vez do camisa 7, brilhava um goleiro trajando a 1. Courtois disputou só uma partida nesta Champions League, mas foi o jogo dele. O primeiro tempo terminou 0 x 0, e persistiu durante boa parte da etapa final, por causa do belga. Lesionado, ele viu Lunin levar o Real até a final, inclusive no papel de protagonista nos pênaltis nas quartas diante do Manchester City. Gripado, o ucraniano nem viajou até Londres.
Madame bola mostrou-se traiçoeira durante um trecho da final. Queria aos pés de Toni Kroos. Talvez, sensibilizada com a última partida do alemão por um clube. Prestes a se aposentar, ele vai pendurar as chuteiras definitivamente depois de jogar a Eurocopa pela Alemanha.
A bola deixou Vinicius Junior um tiquinho de lado e focou em Kroos. Provavelmente pensava: “Quero vivê-lo em cada momento. E em seu louvor hei de espalhar meu canto”.
Foi do canto direito da bandeirinha de escanteio que Kroos tratou a bola com o mesmo esmero de toda uma carreira. Um drible desconcertante de Vini em Ryerson gerou o corner. O alemão cobrou na cabeça do lateral Carvajal. Estava aberto o placar. A bola já havia abençoado Kroos.
Enquanto o Real Madrid e a torcida merengue celebravam dentro das quatro linhas, dona bola recitava outro trecho do soneto de Vinicius de Maraes dentro da rede do Borussia. “E rir meu riso e derramar meu pranto”. Torcedores enxugavam as lágrimas numa catarse em Wembley.
A bola jamais abandonou Vinicius Junior “ao seu pesar ou seu contentamento”. Diante das injúrias raciais ou da coleção insaciável de 12 títulos com a camisa do Real Madrid.
Dona bola dizia o tempo inteiro consigo: “E assim, quando mais tarde me procure, quem sabe a morte, angústia de quem vive, quem sabe a solidão, fim de quem ama, eu possa dizer do amor que tive”. O casamento entre Vinicius Junior e madame bola foi celebrado no altar de Wembley aos 38 minutos do segundo tempo. Vini disse “sim” à assistência do inglês Bellingham. Tratou a pelota com carinho. Usou a perna esquerda e colocou-a lindamente no fundo da rede de Kobel.
O 15° matrimônio do Real Madrid com a Champions League estava selado. Assinado pela segunda vez por Vinicius Junior, o único brasileiro a marcar em duas finais do torneio continental. Havia decidido o título de 2022, em Saint-Denis, na França, contra o Liverpool.
Campeão da Champions League pela sétima vez, a quinta no papel de técnico, o italiano Carlo Ancelotti é uma espécie de “Santo Antônio casamenteiro da bola”. Uniu Kaká ao prêmio de melhor do mundo no Milan em 2007. Ajudou Cristiano Ronaldo a virar número 1 no Real Madrid em 2014. Influenciou os jurados a elegerem Benzema 2022.
Vini só não receberá o prêmio se o colégio eleitoral der mais peso à Eurocopa ou à Copa América, como fez com Messi em 2021. Qualquer desvio de padrão diferente será implicância com quem, além de jogar muito, decidiu usar a bola como aliada contra os racistas. Vini não abre mão de driblar, dançar nas comemorações, empilhar títulos no Real Madrid e exercer o papel de ativista. Sabe se posicionar dentro e fora das quatro linhas – e sai ainda mais grandão de Wembley.
Quem aprecia futebol com ou sem moderação só pode encerrar este texto recitando comigo para Vinicius Junior o último trecho do Soneto da Fidelidade de Vinicius de Moraes:
“Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”.
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