Jesus Jesus não sofria quatro gols num jogo havia quatro anos. Foto: Alexandre Vidal/Flamengo Vidal/Flamengo Jorge Jesus não sofria quatro gols em um jogo havia quatro anos.

De Rafa Benítez a Luxemburgo: sofrer quatro gols é raridade para Jorge Jesus nos últimos 10 anos

Publicado em Esporte

Até o eletrizante empate por 4 x 4 no Clássico dos Milhões desta quarta-feira, apenas dois treinadores fizeram quatro gols num duelo oficial contra time comandado por Jorge Jesus: o espanhol Rafa Benítez à frente do Liverpool nas quartas de final Liga Europa de 2009/2010; e o compatriota dele, Paulo Fonseca, em 2015, pela Taça de Portugal, a Copa do Brasil lusitana. O quarto saiu na prorrogação. Portanto, Vanderlei Luxemburgo é o terceiro. Mérito dele, mas também de quem vinha mostrando o caminho, expondo sem o mesmo sucesso as fragilidades defensivas do melhor time do futebol nacional. O Flamengo diferentão da mediocridade da maioria dos concorrentes da Série A virou estudo de caso. Cada professor que o enfrenta conta com as experiências e anotações do trabalho de campo dos acadêmicos que enfrentaram o Flamengo no duelo anterior.

Digo isso para dar a minha opinião: Luxemburgo não fez nada diferente do que Renato Gaúcho, Ney Franco, Argel Fucks, Ney Franco e Fábio Carille tentaram recentemente. Todos apostaram na velocidade de pontas ariscos na tentativa de ficar no um contra três com a lenta recomposição ou transição defensiva de Willian Arão, Rafinha e Rodrigo Caio de um lado; e Willian Arão, Filipe Luís e Mari do outro.

Os adversários anteriores também. Everton Cebolinha causou problemas no início do jogo de volta das semifinais da Libertadores. Maicon perdeu gol feito salvo por Filiipe Luís e Diego Alves. Michael foi responsável pelo empate heroico do Goiás no Serra Dourada. Rafael Moura aproveitou a assistência e o próprio Michael balançou a rede em um contra-ataque. A diferença gigante é que Ney Franco não conta com o poder midiático da grife Luxemburgo. Mais à frente, Dudu será peça-chave de Mano Menezes no confronto direito entre Palmeiras e Flamengo, com o detalhe de que Mano é doutor em organizar ferrolhos. Especialidade do currículo dele e pode tirar vantagem disso.

Vou um pouquinho além. Vanderlei Luxemburgo não fez nada muito diferente do que propôs aqui em Brasília no clássico do primeiro turno. O time cruz-maltino peitou o Flamengo explorando a velocidade e os dribles do abusado adolescente Talles Magno. A estratégia era idênticaa. Aquele jogo tão maluco quanto o desta quarta-feira também poderia ter sido 4 x 4 se o time de São Januário não jogasse na lata do lixo duas cobranças de pênalti e outras oportunidades criadas no Mané Garrincha.

É preciso ressaltar a displicência do Flamengo. Talvez, os gritos de “é campeão” da torcida após a virada sobre o Bahia no último domingo tenham subido à cabeça do elenco. Talvez, a visita de Zico e dos pais de Gerson e Neymar ao Ninho do Urubu na véspera deram um certo clima de festa e baixaram o nível de concentração do grupo. Isso sem contar a cabeça na final da Libertadores contra o River Plate — e menos no Vasco.

Comentei durante o clássico e reescrevo aqui. O Flamengo sofreu oito gols nos últimos cinco jogos. O Botafogo é o único que não vazou a defesa rubro-negra nesse período. O time alvinegro teve chances, mas faltou a efetividade de Goiás, Corinthians, Bahia e Vasco.

A luz amarela está intermitente para o Flamengo. Jorge Jesus precisa resgatar o equilíbrio entre atacar e defender. A proposta de jogo do português exige fôlego, pernas, compactação para sufocar a saída de bola do adversário. Tem faltado isso. A marcação afrouxou. A prova disso é que esse mesmo time sofreu apenas um gol nos últimos cinco jogos do primeiro turno contra os fortes Grêmio, Palmeiras e Santos; e os coadjuvantes Ceará e Avaí.

Daqui em diante, Jorge Jesus precisa de sete pontos contra esses mesmos cinco adversários para confirmar os gritos de “é campeão” da torcida. Parece fácil, só que não. O Grêmio que revanche no domingo contra um Flamengo desfalcado. O Ceará vendeu caro a derrota para o Palmeiras no Allianz Parque. Palmeiras e Santos são confrontos direitos em São Paulo. Em tese, dá para contar com três pontos diante do rebaixado Avaí.

No meio disso tudo, há uma final de Libertadores em jogo único contra o River Plate, em Lima, no Peru. Sofrer um ou mais gols numa decisão como essa pode ser mais pesado do que o fardo de disputar a final 38 anos depois da conquista de 1981. Adaptando a letra da música “Epitáfio” do Titãs: Até quando o acaso vai proteger o Flamengo enquanto esse timaço andar distraído?

 

 

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