De Amsterdã a Brasília: como a pandemia triplicou o tempo de viagem das sementes de inverno do gramado do Mané Garrincha

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Uma encomenda internacional que demandava em média 45 dias para ser entregue no Brasil demorou quatro meses em meio à pandemia do novo coronavírus. Essa é a história da longa viagem das sementes de inverno do gramado do Mané Garrincha. Desde a inauguração, em 2013, a arena cumpre um ritual. O piso passa por manutenção no meio do ano a fim de suportar o período mais frio do ano no país – e no caso específico do Mané Garrincha para suportar a falta de luminosidade. O material costuma chegar em abril e a obra começa no início de maio. Desta vez, a crise mundial empacou o produto em um porto de Santa Catarina.

A saga das sementes começa na Holanda. Estádios de ponta do mundo costumam compra-las de uma multinacional chamada Barenbrug. O produto parte de Amsterdã rumo às filiais da firma espalhadas pelo mundo. A primeira parada nas Américas é nos Estados Unidos. Especificamente em Tampa, na costa oeste da Flórida. De lá, o frete segue até Miami, onde embarca para entrega a clientes de outras nações, como o Brasil. O transporte de navio e na sequência de caminhão até o destino dura em média 45 dias. Neste ano, a covid-19 triplicou o tempo da viagem. O produto desembarcou em Brasília 112 dias depois e alterou o cronograma.

Sementes de inverno como essas demoraram 112 dias para chegar ao Mané

O blog apurou que as sementes do Mané Garrincha saíram dos Estados Unidos, em 29 de janeiro e chegaram em 8 de abril no Porto de Navegantes, Santa Catarina, um dos mais ágeis do Brasil. No entanto, a liberação da encomenda demorou devido à paralisação causada pelo novo coronavírus. Para se ter uma ideia da celeridade em Navegantes, as mercadorias desembarcam e são liberadas em média três dias depois. O início da quarentena, em março, diminuiu o efetivo, esvaziou o porto, emperrou a entrega das encomendas e obrigou as empresas responsáveis por gramados de ponta no país a adaptar o planejamento ao momento de pandemia.

O Mané Garrincha recebe sementes de inverno por dois motivos: a mudança de temperatura e, no caso específico da principal arena da capital do país, por causa da falta de luminosidade. O sol muda e não atinge mais da metade do gramado. Os dias ficam mais curtos no inverno. Se um dia de verão tem 12 horas de sol, com o amanhecer o pôr do sol mais espaçados, no inverno há dias com apenas nove horas de sol.

É o que aconteceu, por exemplo, com a Greenleaf. Parceira da Arena BSB na manutenção do Mané Garrincha, a empresa carioca teve que reprogramar os serviços no gramado de estádios como Maracanã, Mineirão, Independência, Nilton Santos, Ressacada, Fonte Nova, entre outros. A paralisação do futebol desde a segunda quinzena de março aliviou as administrações dos palcos para que as obras fossem realizadas com certa tranquilidade.

Até 2015, as encomendas costumavam chegar no Porto do Rio de Janeiro, mas o serviço de Navegantes passou a se impor como forte concorrente. As encomendas costumavam demorar até um mês para ser liberada. Faltavam funcionários. Havia apenas uma engenheira agrônoma responsável pelo desembaraço das cargas e a profissional trabalhava às quartas-feiras. Questões burocráticas, doença e férias da única funcionária fizeram até que mercadorias fossem retidas por seis semanas em depósitos – inclusive com cobranças de taxas de armazenamento.

Maracanã: temporada de plantio das sementes de inverno nos campos do país

Apesar da saga das sementes, o Mané Garrincha recebeu o plantio das sementes de inverno e está pronto para receber partidas quando houver liberação por parte das autoridades.  A arena não recebe jogos há três meses, desde o empate por 1 x 1 entre Capital e Unaí no Candangão.

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Marcos Paulo Lima

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