O futebol candango tem fama de mostrar a vida como ela é a treinadores promissores antes de eles alcançarem (ou não) o sucesso nacional. Vencedor da Libertadores (2013) e do Brasileirão (2016), Alexis Stival, o Cuca, passou dificuldade no Gama. Caio Júnior também na trajetória até a conquistar, em memória, a Copa Sul-Americana (2017) pela Chapecoense. O Brasiliense foi uma das escolas de Péricles Chamusca no caminho para o título da Copa do Brasil (2004) pelo Santo André. Finalista contra o Internacional nesta quarta-feira, às 21h30, no Beira-Rio, Tiago Retzlaff Nunes pode ser mais um caso de superação depois de amargar os perrengues do esporte na capital do país.
Em entrevista exclusiva ao blog, Tiago Nunes recordou a discreta e frustrante passagem pelo Distrito Federal. Ex-morador de Águas Claras, o gaúcho de Santa Maria contou como foi a nada mole vida no quadradinho em 2015. Com apenas dois meses de trabalho nas divisões de base do Brasília, ouviu que não servia para o cargo.
Na época, Tiago preparava o time colorado para a Copa São Paulo Júnior de 2016. Despedido, deixou a equipe pronta para Klesio Borges levá-la além da primeira fase, algo raro para o futebol local, e cair nas oitavas contra o campeão Flamengo, de Zé Ricardo, Paquetá & Cia.
Três anos depois da dispensa, Tiago é o atual campeão da Sul-Americana e tem vantagem de 1 x 0 contra o Inter na final da Copa do Brasil à frente do Athletico Paranaense. Empate garantirá mais um título no currículo. O colorado precisa de um gol de diferença para forçar os pênaltis, ou de dois para dar a volta olímpica no tempo normal.
“Eu era treinador da categoria sub-20 do Juventude-RS. Fui contatado pelo Fábio Bleiter, um agente de futebol parceiro do Brasília à época. Convidado para tocar um projeto de formação de jogador com o papel de coodenar e treinar a categoria sub-20”, revela Tiago Nunes.
“O Brasília não teve a paciência necessária para a gente continuar o projeto. Fico sentido pelo futebol daí não estar em um nível melhor. Falta atenção especial com as estruturas, a formação, as condições para as pessoas que trabalham aí”
Tiago Nunes, treinador da base do Brasília em 2015 e atual técnico do Athletico-PR, em entrevista ao blog
Quando desembarcou na cidade, tomou um susto. “Eu me deparei com uma estrutura muito difícil de trabalhar, muitas precariedades. O clube tinha três categorias: sub-20, sub-17 e sub-15. Mas tinha uma logística muito ruim. Não havia material suficiente, utilizava péssimos campos, não fazia um trabalho de qualidade com os meninos. Pedi para fecharem duas categorias e ficamos só com a sub-20”, testemunha o técnico.
Com foco definido, Tiago começou a organizar o elenco e batalhar pela melhorias da estrutura, como a construção de vestiários e de campos. Paralelamente, deu início à preparação relâmpago para a Copa São Paulo 2016. “No meio da caminhada, o Brasília contratou um novo gestor para o clube. Ele (Leandro Rodrigues) se identificava como genro do (Vanderlei) Luxemburgo. Esse gestor falou que o meu serviço não era adequado, que eu não estava preparado. Outros dirigentes do Brasília não colaboraram muito com a minha persistência na organização, na manutenção do trabalho, na estrutura, e aí, no mês de dezembro, pouco antes da viagem para a Copinha, pediram a minha demissão. O doutor (Luis Felipe) Belmonte (dono do clube à época, hoje no Real FC) acatou, e eu saí”.
Três anos depois, Tiago Nunes é um dos treinadores mais respeitados da nova geração. “Foi um período difícil em termos profissionais, mas, ao mesmo tempo, muito bom em termos de amadurecimento pessoal. Eu estava com a minha filha recém-nascida de seis meses e mudei para Brasília”, conta.
O treinador do Athletico-PR apegou-se ao bairro em que residiu no DF. “Morei em Águas Claras. Foi muito bom ficar lá. Eu e a minha esposa temos amigos e parentes em Brasília. Adorei a cidade, conviver com as pessoas. Fui muito bem quisto pelos profissionais mais humildes do Brasília: zeladores, rouparia, massagem, jogadores”, diz.
Tiago Nunes também ajudou o Paranoá na segunda divisão do DF em 2015. O projeto paralelo ao do Brasília quase deu certo. “Ficamos em terceiro lugar. Não subimos por detalhe. Fiz amizade com todos. Tenho boas lembranças. Pena que não havia estrutura para a continuidade. Não tiveram a paciência necessária para a gente continuar o projeto. Fico sentido com o fato de o futebol do Distrito Federal não testar em um nível melhor. Falta atenção especial com as estruturas, a formação, as condições necessárias para que haja amparo às pessoas que vão aí para trabalhar”, critica.
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