A falta de apego emocional, empregatício e o tamanho de Carlo Ancelotti na história do esporte mais popular do mundo podem fazer um bem danado ao futebol brasileiro se os presidentes da CBF e dos clubes abrirem os olhos, os ouvidos, a mente e o coração às entrelinhas da entrevista coletiva desta quarta-feira, na Granja Comary, em Teresópolis (RJ), do comandante italiano da Seleção. Há pontos muito relevantes analisados por ele sobre questões estruturais.
Ao contrário de Dorival Júnior, Fernando Diniz e Tite, Carlo Ancelotti não precisa medir as palavras e muito menos pisar em ovos para expressar o óbvio ululante sobre o que impede o futebol brasileiro de ser uma potência e modelo de organização no continente e no mundo. Não precisa puxar saco e muito menos fazer discurso politicamente correto para manter a simpatia do mercado brasileiro. Portanto, é mais fácil colocar o dedo nas feridas.
Em uma resposta, o treinador campeão nas cinco principais ligas da Europa e recordista de conquistas na Champions League fez uma radiografia explícita, mas quase sempre ignorada pelos cartolas da CBF e times: é preciso racionalizar urgentemente o calendário nacional.
Questionado sobre a imersão no futebol brasileiros em viagens a São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e deslocamentos no próprio Rio de Janeiro, Carlo Ancelotti fez críticas pontuais com base no que observou em 100 dias no cargo.
Vamos por partes…
Sem negar a origem e a tradição italiana, colocou os olhos de lince diretamente na defesa dos times do país. “O futebol daqui é muito organizado, sobretudo, defensivamente. As equipes defendem bem. Obviamente, falta um pouco de qualidade porque os melhores jogadores estão na Europa”.
Prova disso é a opção por Marquinhos (Paris Saint-Germain) e Gabriel Magalhães (Arsenal) para iniciar a partida desta quinta-feira contra o Chile, no Maracanã, pela penúltima rodada das Eliminatórias da América do Sul para a Copa do Mundo de 2026.
Carlo Ancelotti pondera: “Apesar disso, as equipes competem muito bem”.
Ele elogia Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras. “Fizeram uma boa competição (na Copa do Mundo de Clubes da Fifa) ao competir com clubes europeus”. Verdade.
Mas… “Temos que enfrentar o clima, que afeta a intensidade do jogo”, observa, para em seguida dar um recado público à CBF. “(…) e o calendário muito apertado para os times”.
A conclusão de Ancelotti parece óbvia, porém há quem insista em fingir não entender. “Os times nem sempre chegam na melhor condição física”, detecta.
O empurrão que Dorival Júnior, Fernando Diniz, Tite não deram aos clubes saiu da boca de Carlo Ancelotti. O italiano deixou os times na cara do gol para reivindicar um calendário racional e menos agressivo nas próximas temporadas pelo bem do jogo.
A pergunta é: algum dirigente prestou atenção no que disse Carlo Ancelotti e está disposto a comprar a briga, ou o que mais interessa é o tamanho das cifras dos direitos de televisão e nada mais? É tempo de aproveitar o discurso e a experiência de quem foi campeão no Alemão, Espanhol, Francês, Inglês e no Italiano!
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